Chico Xavier : A aguardada cinebiografia do maior médium do Brasil (do mundo, na verdade) é um grande filme nacional. Muitos olharam com desconfiança, incluindo eu, o fato de ser dirigido pelo Daniel Filho e por contar com tantos atores da Globo no elenco: puro preconceito! O diretor entregou realmente um filme de cinema, e o elenco trabalha tão bem que esquecemos que já conhecemos aquelas carinhas há tanto tempo. Letícia Sabatella, por exemplo, tem uma participação tão especial que é uma pena que não tenha mais tempo em tela. Giovana Antonelli tem o seu melhor papel até hoje. A dinâmica entre Cristiane Torloni e Tony Ramos é fantástica, resultando em duas atuações muito emocionantes, dignas de Oscar. E olha que ainda nem falei dos principais: os intérpretes do protagonista. O trabalho de Nelson Xavier é fantástico, daquelas atuações mediúnicas mesmo (como a de Daniel Oliveira em Cazuza, a de Val Kilmer em The Doors e a de Jamie Foxx em Ray). Porém, é um trabalho que até empalidece diante da interpretação do médium mais jovem. Angelo Antonio encarna Chico de um modo tão doce, e tão ingênuo, com aquele sotaque "minerim", que para mim foi um dos personagens mais apaixonantes que já vi no cinema.
Pois bem, apresentado o trabalho dos atores, vamos ao roteiro. Baseado na biografia As Vidas de Chico Xavier, escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior, o filme conseguiu extrair as melhores partes do livro, e ainda inovou: ao invés da narração em ordem cronológica, a história começa durante a histórica participação de Chico Xavier no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, quando ele foi colocado à prova por vários entrevistadores. Ao responder questões sobre sua vida, ele vai recordando e acompanhamos suas memórias desde que era menino na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Volta e meia o filme deixa as lembranças de lado e retorna ao programa, cujas cenas são inseridas de forma muito orgânica na trama. E além disso, acompanhamos o caso do diretor do Pinga Fogo, interpretado por Tony Ramos: um ateu que perdeu o filho e que vive uma crise no casamento por conta desta tragédia. Esta parte é inspirada no famoso caso real em que uma carta psicografada por Chico foi aceita como prova em um tribunal e libertou um réu da cadeia, já que a própria vítima disse ter sido morta por acidente de disparo de arma de fogo. Portanto, o roteiro foge de ser episódico e mostra-se mais dinâmico do que o livro. Uma questão interessante que preciso comentar é o fato de que o texto não subestima a inteligência do espectador: há várias sequências em que não está tudo explicadinho, e o público precisa prestar muita atenção e usar o cérebro para entender, como no caso dos jornalistas da revista Cruzeiro que tentaram enganar Chico passando-se por jornalistas estrangeiros, mas foram desmascarados.
Ok, roteiro aprovado, vamos comentar a direção de Daniel Filho.
Talvez seja neste ponto que o filme peque um pouco. Mesmo assim, não é nada que estrague o trabalho final. Só acho que o diretor poderia ser mais sutil em alguns momentos, como quando insere uma luz vermelha diante de um prostíbulo, ou quando todos os passageiros de um avião falam juntos a mesma palavra, quase estragando a piada que havia sido contada anteriormente. Outro ponto quase negativo que tenho que comentar é a trilha sonora equivocada. Quer dizer, os temas de suspense são bem intrigantes. Mas os melancólicos deixam a desejar, e caso eles fossem melhores poderiam fazer o filme ser mais emocionante. Mas creio que sejam pecadilhos diante da grandeza do filme. Pois para quem esperava uma produção em tom novelesco, como Olga, por exemplo, Chico Xavier é um Filme com F maiúsculo, realizado com técnicas de Cinema, e não de TV.
Assim, para fechar bem meu comentário sobre o filme, quero apenas dizer que várias cenas não sairão da cabeça do espectador: a do avião em pane, os doces momentos do padre interpretado por Pedro Paulo Rangel, as durezas do espírito Emmanuel, as marcas na barriga do pequeno Chico ocasionadas pela sua madrinha que lhe espetava garfos, o momento em que Tony Ramos cede às evidências e muda sua posição quanto à veracidade das cartas psicografadas, entre muitas outras.
Chico Xavier - o filme - é um retrato apaixonado do homem Chico Xavier, e dá pouco espaço para o mundo espiritual, preferindo concentrar-se naquilo que era visível para nós, aqui na Terra, sem criar um manifesto espírita no cinema. Se o público tiver motivos para admirar mais o médium depois de assistir a esta obra, será exclusivamente pelos seus admiráveis e inegáveis atributos humanistas, e não pelos seus méritos mediúnicos. (5 estrelas em 5)
Pois bem, apresentado o trabalho dos atores, vamos ao roteiro. Baseado na biografia As Vidas de Chico Xavier, escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior, o filme conseguiu extrair as melhores partes do livro, e ainda inovou: ao invés da narração em ordem cronológica, a história começa durante a histórica participação de Chico Xavier no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, quando ele foi colocado à prova por vários entrevistadores. Ao responder questões sobre sua vida, ele vai recordando e acompanhamos suas memórias desde que era menino na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Volta e meia o filme deixa as lembranças de lado e retorna ao programa, cujas cenas são inseridas de forma muito orgânica na trama. E além disso, acompanhamos o caso do diretor do Pinga Fogo, interpretado por Tony Ramos: um ateu que perdeu o filho e que vive uma crise no casamento por conta desta tragédia. Esta parte é inspirada no famoso caso real em que uma carta psicografada por Chico foi aceita como prova em um tribunal e libertou um réu da cadeia, já que a própria vítima disse ter sido morta por acidente de disparo de arma de fogo. Portanto, o roteiro foge de ser episódico e mostra-se mais dinâmico do que o livro. Uma questão interessante que preciso comentar é o fato de que o texto não subestima a inteligência do espectador: há várias sequências em que não está tudo explicadinho, e o público precisa prestar muita atenção e usar o cérebro para entender, como no caso dos jornalistas da revista Cruzeiro que tentaram enganar Chico passando-se por jornalistas estrangeiros, mas foram desmascarados.
Ok, roteiro aprovado, vamos comentar a direção de Daniel Filho.
Talvez seja neste ponto que o filme peque um pouco. Mesmo assim, não é nada que estrague o trabalho final. Só acho que o diretor poderia ser mais sutil em alguns momentos, como quando insere uma luz vermelha diante de um prostíbulo, ou quando todos os passageiros de um avião falam juntos a mesma palavra, quase estragando a piada que havia sido contada anteriormente. Outro ponto quase negativo que tenho que comentar é a trilha sonora equivocada. Quer dizer, os temas de suspense são bem intrigantes. Mas os melancólicos deixam a desejar, e caso eles fossem melhores poderiam fazer o filme ser mais emocionante. Mas creio que sejam pecadilhos diante da grandeza do filme. Pois para quem esperava uma produção em tom novelesco, como Olga, por exemplo, Chico Xavier é um Filme com F maiúsculo, realizado com técnicas de Cinema, e não de TV.
Assim, para fechar bem meu comentário sobre o filme, quero apenas dizer que várias cenas não sairão da cabeça do espectador: a do avião em pane, os doces momentos do padre interpretado por Pedro Paulo Rangel, as durezas do espírito Emmanuel, as marcas na barriga do pequeno Chico ocasionadas pela sua madrinha que lhe espetava garfos, o momento em que Tony Ramos cede às evidências e muda sua posição quanto à veracidade das cartas psicografadas, entre muitas outras.
Chico Xavier - o filme - é um retrato apaixonado do homem Chico Xavier, e dá pouco espaço para o mundo espiritual, preferindo concentrar-se naquilo que era visível para nós, aqui na Terra, sem criar um manifesto espírita no cinema. Se o público tiver motivos para admirar mais o médium depois de assistir a esta obra, será exclusivamente pelos seus admiráveis e inegáveis atributos humanistas, e não pelos seus méritos mediúnicos. (5 estrelas em 5)
Abraços Partidos : Novo filme do diretor Pedro Almodóvar, que foi malhado pela crítica. Por conta disso, assisti sem muitas esperanças, mas acabei não me decepcionando. Na verdade é um legítimo Almodóvar, com todos os elementos que há em seus últimos trabalhos: erotismo, fotografia de cores fortes, suspense, homossexualismo, metalinguagem... Na verdade, o que Almodóvar faz é mais ou menos o que o Tarantino tem feito. Enquanto o americano cria filmes estilizados baseados em filmes B e livrinhos baratos, o espanhol cria filmes estilizados baseados em melodramáticas historinhas novelescas. Mas até então Almodóvar sempre usou essa estética de forma muito equilibrada e conseguiu criar dramas muito convincentes atrás de uma fachada colorida e kitsch, e em Abraços Partidos parece que ele "abraça" demais esse tom meloso e passional, em detrimento do desenvolvimento das personagens. Não que isso atrapalhe muito. Afinal, são esses elementos que fazem o seu sucesso. Mas essa opção diminui as chances do filme envelhecer bem e de lhe possibilitar um estudo mais aprofundado.
Na trama, acompompanhamos um escritor cego que lembra de seu antigo caso com uma atriz casada (Penélope Cruz) quando se aventurou a dirigir um filme. Há muitas cenas gratuitas, como as que mostram a doença do pai dela, e o afilhado do diretor indo em coma após usar drogas. A explicação no ato final também me soou inadequada e longa demais. Porém, o filme tem muitas qualidades, todas já conhecidas dos fãs do cineasta espanhol. E fiquei muito surpreso quando percebi que o "filme dentro do filme" era uma espécie de remake de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, dirigido pelo próprio Almodóvar em 1988. (4 estrelas em 5)
Na trama, acompompanhamos um escritor cego que lembra de seu antigo caso com uma atriz casada (Penélope Cruz) quando se aventurou a dirigir um filme. Há muitas cenas gratuitas, como as que mostram a doença do pai dela, e o afilhado do diretor indo em coma após usar drogas. A explicação no ato final também me soou inadequada e longa demais. Porém, o filme tem muitas qualidades, todas já conhecidas dos fãs do cineasta espanhol. E fiquei muito surpreso quando percebi que o "filme dentro do filme" era uma espécie de remake de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, dirigido pelo próprio Almodóvar em 1988. (4 estrelas em 5)
Eu achei o filme simplesmente maravilhoso!
ResponderExcluirMelhor filme nacional que já vi, com certeza.
Como coloquei em meu blog, é um filme que te leva do choro a gargalhada em segundos!
Você tem que ir preparado para chorar muito e rir demais hehehehe
Amei esse filme... E me fez ter muito mais respeito por Chico Xavier, já que não conhecia a história de vida dele, e por tudo que ele passou desde a infância.
Beijocas
Olá!
ResponderExcluirA melhor crítica que li até agora sobre "Chico Xavier - O Filme". Para o cinema nacional é um avanço ver um filme comercial com pegada de cinema e não de TV...e isso é o que mais me cativou no filme.
Gostei do post pq vc analisa critérios mais aprofundados e não vai no senso comum do eu gosto ou não gosto....isso é muito rico, parabéns!
Abraço,
http://cafecomnoticias.blogspot.com
Origado, amigos. Não tive muita pretensão ao escrever este texto, então é com surpresa que leio seu elogio. Na verdade eu procurei ressaltar aquilo que mais me saltou aos olhos. É um filme com defeitos? Sim, mas eles não são o bastante para ferir a qualidade final do trabalho. E o que vale, realmente, é a mensagem de caridade, fé e paciência que está levando a milhões de pessoas. Grande abraço!
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