domingo, 27 de junho de 2010

Lie to Me - 1ª temporada

Lie to Me deve ser a primeira série de TV a qual assisto uma temporada completa. Mas meu interesse não foi o de entretenimento, e sim o de tentar aprender algo mais sobre linguagem corporal.

No seriado, o Dr. Cal Lightman (Tim Roth) é um especialista no assunto, líder de uma equipe que usa seus conhecimentos para identificar pessoas que estejam mentindo e, assim, desvendar casos complicados. Desde o primeiro episódio há explicações sobre as microexpressões faciais que todos têm diante de algum evento: raiva, desprezo, nojo, surpresa, etc são revelados por mínimas nuances em nossa face, por mais que tentemos controlar nossas emoções, e mesmo que as nossas palavras tentem indicar outra emoção.

Achei interessantes as montagens, que surgem na série, com fotos reais de personagens conhecidos (Bill Clinton, O.J. Simpson, Princesa Diana, etc), dando credibilidade ao que é ensinado. Porém, analisando a questão artística, vejo Lie to Me como uma série de segundo escalão, com alguns personagens fracos (por exemplo Loker, que "sempre fala o que pensa"), situações inverossímeis (como é possível uma genial especialista em linguagem corporal não notar que o marido a está enganando?) e episódios com roteiros fracos (Blinded, um dos melhores, é uma cópia de O Silêncio dos Inocentes; e o Finale da temporada foi de pouco destaque). E me incomoda algo que vejo em quase todos os episódios: após confrontarem e serem desmascarados pelo Dr. Lightman, os mentirosos simplesmente admitem a mentira e começam a falar toda a verdade, sem ao menos insistirem naquilo que estavam dizendo antes. Além de ser ridículo ver prefeitos e pessoas acusadas de crimes não violentos aparecerem sendo algemadas logo depois de serem pegos em uma mentira, concluindo o episódio de forma burocrática e infantil, como acontecia em filmes antigos.

É claro que há vários pontos positivos, como a atuação de Tim Roth e a interessante personagem Ria Torres (cuja atriz que a interpreta é idêntica à Michelle Rodriguez). Talvez minha insatisfação com alguns elementos da série seja devido aos poucos episódios (13) da primeira temporada, que não permitiram o desenvolvimento mais aprofundado de algumas tramas. Mas o legal mesmo são os ensinamentos a respeito da linguagem do corpo, sobre os quais faço um resumo abaixo.

Quer saber se alguém está mentindo. Então observe atentamente se, ao falar, ela :

-Coça as mãos (isso é sinal de auto-afirmação; ela pode estar tentando acreditar no que está dizendo);
-Faz um movimento involuntário com um dos ombros;
-Olha para baixo (isso é sinal de vergonha - talvez por estar mentindo);
-Encurva-se (tenta ocupar menos espaço);
-Toca uma parte do corpo, como a orelha ou jóias;
-Desvia os olhos (sinal de vergonha);
-Pisca com rapidez;
-Tem voz suave (quando não se acredita naquilo que está dizendo);
-Dá uma resposta muito rapidamente após a pergunta (sinal de que já havia pensado na resposta antes da questão ser concluída).

Há ainda informações interessantes que aprendi na série, como:

-Uma pessoa culpada não admite nada que possa incriminá-la;
-Pessoas prestes a cometer um ato de violência ficam com as sobrancelhas baixas e juntas, e olham "por baixo", com elevação da pálpebra superior e tensão abaixo dos olhos;
-Fechar o punho significa raiva;
-Morder o lábio é sinal de ansiedade;
-Uso de palavras negativas: consciência pesada;
-Psicopatas nunca demonstram vergonha.

E é claro que há mais, principalmente nos primeiros episódios. Não sei se são todas dicas verdadeiras, e é óbvio que é muito difícil saber que alguém está mentindo ou falando a verdade simplesmente observado esses sinais (que precisam ser analisados e interpretados — é muita ingenuidade achar que se pode marcar uma fala de alguém como "mentira" ou "verdade"). De qualquer forma, é um interessante tema, que pode ser melhor estudado através de vários livros existentes no mercado, a começar pelo clássico O Corpo Fala.

A Rainha do Castelo de Ar

Depois dos dois primeiros filmes da série, A Rainha do Castelo de Ar se revela um tanto arrastado e com menos ação. Se em Os Homens que Não Amavam as Mulheres era uma interessante investigação que dava o tom da narrativa, e em A Menina que Brincava com Fogo havia uma crescente ameaça representada pelos vilões, o terceiro episódio aposta no suspense de tribunal para encerrar a série. A direção é boa, mas o que peca é o roteiro, que mantém a heroína Lisbeth Salander durante a maior parte do tempo em um hospital e, posteriormente, em seu julgamento. Há, sim, algumas cenas de tirar o folêgo, mas em número muito menor do que as vistas no filme anterior. Creio que faria bem para o filme se alguns dos seus 135 minutos fossem cortados. (3 estrelas em 5)

sábado, 26 de junho de 2010

The Runaways

The Runaways foi uma banda de punk rock composta só por mulheres, que fez grande sucesso no final dos anos 70, apesar da curta trajetória. Baseado no livro de Cherie Currie, vocalista do grupo, o filme faz uma inspirada recriação do visual e dos shows das garotas, mas mostra pouco delas. O foco do roteiro é a difícil adaptação da estrela do grupo, Cherie, ao estilo de vida hardcore que o trabalho exigia. Afinal, ela era uma adolescente comum que teve que deixar a irmã gêmea e o pai alcoólara para ter uma rotina de viagens, noitadas, drogas, superexposição na mídia e brigas com as colegas e com o produtor.

Kristen Stewart (de Crepúsculo, caso alguém ainda não saiba) interpreta a guitarrista Joan Jett, e sua atuação não difere muito do que ela já fez em todos os filmes em que trabalhou. O filme pertence mesmo a Dakota Fanning, que cresceu e revelou-se uma atriz muito versátil. Mas também merece destaque a interpretação de Michael Shannon no papel do produtor Kim Fowley, que deu vida ao grupo.

Dito isso, The Runaways, o filme, é uma boa cinebiografia das roqueiras. Creio que muita coisa importante foi cortada, como a turnê mundial com os Ramones, o lançamento dos quatro álbuns e as diversas mudanças na formação. Mesmo assim vale a pena pelo cuidadoso trabalho de figurino, a ótima encenação das apresentações ao vivo e, principalmente, por apresentar às novas gerações a postura rock n' roll de Joan Jett, que criou hinos como I Love Rock N' Roll e continua até hoje na estrada. (4 estrelas em 5)

domingo, 20 de junho de 2010

José Saramago (1922-2010)

Gostaria de deixar minha homenagem ao grande escritor José Saramago, falecido no dia 18 de junho de 2010. Sempre o terei como um dos caras que mais souberam aproveitar a Língua Portuguesa, escrevendo obras ao mesmo tempo populares e profundas. Digamos que Saramago tenha sido o Kubrick da literatura, com a diferença que o português não demorava muitos anos para lançar um novo trabalho. Saramago foi também polêmico: ateu, odiado pela igreja católica, que ele tanto criticou. Seu maior "pecado": a obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo, que mostra Jesus não como um santo, mas como um homem comum. Isso pode soar herético para os religiosos, mas as páginas são de uma profunda beleza — algo que deve ser esperado do escritor da Língua Portuguesa que recebeu o primeiro Prêmio Nobel da Literatura. E o mais legal: sempre flertando com a literatura fantástica. Palmas também por ter escrito com um estilo único, sem travessões e cheio de vírgulas, que parece difícil de ser compreendido no começo, mas só no começo.

Para quem nunca leu Saramago, uma leitura básica para apreciar este gênio é a seguinte:

Memorial do Convento: Considerado por muitos críticos como seu melhor trabalho, é um romance histórico, misturando fatos reais e fictícios. Passa-se durante o reinado de D. João V, em plena Inquisição, quando somos apresentados aos inesquecíveis Baltasar e Blimunda — esta, uma personagem de literatura fantástica, com sua visão de "raio-x".

Ensaio Sobre a Cegueira: O mais popular dos livros do autor, sobre uma epidemia de cegueira que ocorre em um país fictício. No mundo de Saramago, a escuridão revela muito sobre a alma humana. O filme adaptado por Fernando Meirelles, apesar de bom, foi feito com a mão pesada demais e sem o equilíbrio entre o belo e o grotesco das páginas do autor.

O Evangelho Segundo Jesus Cristo: “O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo”.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Filmes no feriado

Os Homens que Não Amavam as Mulheres: Excelente thriller sueco, baseado no primeiro livro da trilogia Milennium. Narra a investigação de um desaparecimento ocorrido há 40 anos, feita por um jornalista e pela investigadora Lisbeth Salander, grande heroína da série. Ela é um gênio da pirataria digital, capaz de conseguir informações com grande facilidade, e tem um estilo de vida punk — e um passado dolorido a assombra até os dias de hoje. Nem preciso dizer que adoro esses thrillers que não envolvem só a investigação de um crime, mas também os dramas dos personagens (vide Zodíaco e O Segredo dos Seus Olhos). Filme muito bem conduzido. Me deixou louco para assistir a segunda parte, A Menina que Brincava com Fogo. (5 estrelas em 5)

A Menina que Brincava com Fogo : Seguindo a receita de que continuações devem reforçar tudo o que deu certo no original, o segundo filme da série Milennium mostra-se como uma versão bombada do primeiro, com mais violência, uma trama mais complexa, vilões mais caricatos e elevando a personagem Lisbeth Salander quase à condição de uma super-heroína. Aqui o seu destino volta a cruzar com o do jornalista Blomkvist depois que este descobre uma rede de tráfico de mulheres. O mais interessante do roteiro é que amarra pontas deixadas soltas no primeiro filme e se aprofunda nas feridas da protagonista, mantendo-se coeso ao tema "crimes praticados contra mulheres". Há muito mais ação do que no primeiro filme, e certos exageros podem desgostar aqueles que esperavam uma trama mais realista, mas há de se convir que os vilões fazem o espectador realmente temer pela segurança dos heróis. Comparando-se com Os Homens que Não Amavam as Mulheres, creio que o primeiro era mais charmoso, mas o segundo só podia seguir o caminho que seguiu para manter a série interessante e renovada, sem perder a personalidade. Agora resta assistir A Rainha do Castelo de Ar. (5 estrelas em 5)

Juízo Final (Doomsday) : Prefiro nem dedicar muitas linhas a esta tremenda bomba. Eu já havia percebido que o diretor Neil Marshall era um cara sem talento quando vi o ruim Dog Soldiers. Porém, o ótimo The Descent havia feito eu dar uma chance para o cara. Doomsday é uma idiota tentativa de misturar Extermínio, Fuga de Nova Iorque e Mad Max, inclusive copiando cenas na cara dura. Mas o filme com que ele mais consegue se parecer é o fraco Corrida Mortal (de Paul W.S. Anderson). (1 estrela em 5)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Lost e o Espiritismo - parte 2

Algumas pessoas têm me perguntado: qual a chance de ocorrer na vida real tudo o que se passou em Lost? A resposta talvez seja um pouco complexa, pois envolve muitos assuntos abordados pela série ao longo dos seis anos em que foi exibida, mas podemos tratar de alguns.

Conforme escrevi no meu primeiro post sobre a visão espírita de Lost, o básico do que foi mostrado na série é, sim, perfeitamente real e de acordo com a doutrina espírita: pessoas morreram e tiveram que eliminar todos seus impulsos inferiores (medos, orgulho, pessimismo, falta de fé, dependência química, etc) para poderem entrar no mundo espiritual. Esse assunto pode ser mais aprofundado com a leitura do livro Nosso Lar e, para os que tiverem estômago mais forte, Memórias de Um Suicida. Em ambas as obras, de grande importância para um conhecimento mais aprofundado do espiritismo, acompanhamos as duras provas que os espíritos ainda muito apegados à matéria precisam passar na região conhecida como Umbral, após a desencarnação, até que estejam preparados para subirem a regiões mais evoluídas.

Mas outro assunto que podemos abordar também, e que foi pouco explorado pelos roteiristas do seriado, é: por que pessoas que nem se conhecem acabam passando juntas por provas coletivas? Um acidente de avião é um bom exemplo, onde morrem muitos passageiros ao mesmo tempo, sem chance de sobrevivência. O que os levou a estarem naquele voo e a passarem por aquilo?

Através do Espiritismo, temos conhecimento da necessidade do resgate das nossas dívidas de vidas passadas. Geralmente já encarnamos sabendo que teremos que passar por uma prova do tipo, pois a consciência do espírito nunca morre, por mais que encarnemos em um novo corpo e apaguemos da memória todas as barbaridades que cometemos em outras existências. Normalmente nós mesmos pedimos para passar por uma prova dessas, para eliminar a forte impressão e o remorso que ainda carregamos pelo mal que fizemos aos nossos semelhantes em encarnações passadas.

Já se tornou conhecido aquele caso do edifício Joelma, em São Paulo, onde morreram queimadas várias pessoas. Mais tarde os espíritos de várias delas afirmaram, através de mensagens psicografadas por Chico Xavier, que aquilo lhes era necessário para encontrarem a paz, já que carregavam uma grande culpa por terem queimado gente viva em outra existência. Aquelas pessoas não se conheciam nesta vida, mas Deus as reuniu naquele lugar, no dia certo, com as condições necessárias para que passassem por aquela expiação.

Como afirmei no meu post sobre Deus, a nossa inteligência ainda é muito limitada para compreender a grandeza Dele e de Suas tarefas. Não representa, portanto, grande trabalho para Deus reunir um grupo de espíritos que possuem um carma parecido, mesmo que isso seja centenas ou até milhares de anos depois dos crimes que cometeram. Aliás, coincidências não existem, e tudo o que atribuimos ao acaso podem ser forças espirituais nos empurrando para aquilo que esteja em nossa programação reencarnatória.

E é aí que entra a queda do avião de Lost: certamente aqueles personagens não se conheceram naquele dia. Muito provavelmente todos já se conheciam de vidas passadas e possuíam uma questão semelhante para resgatarem. É óbvio que eles não se conheciam na encarnação presente, mas ao se encontrarem puderam transformar em amor e amizade todos os sentimentos que, muito provavelmente, eram de ódio e rancor durante a encarnação passada. Em minha visão ideal de flashback para a série, Jack, Locke e companhia deveriam ser mostrados como inimigos, em uma época de gladiadores, ou na Idade Média, cometendo toda sorte de excessos e monstruosidades. O encontro "casual" no voo, séculos depois, foi movido por forças de atração exercidas pelo fluido cósmico universal, e a queda na ilha fez com que todos se reunissem, após sabe-se lá quantas encarnações, para que transformassem em amizade qualquer tipo de sentimento ruim que ainda conservassem e, finalmente, zerassem suas dívidas.

Ainda há dúvidas sobre a morte dos personagens ter ocorrido na queda do avião ou na ilha. Independente disso, sabemos que o flashlimbo da última temporada representava uma nova existência dos personagens, na qual eles não se conheciam, não se lembravam da Ilha, e encontravam oportunidades de redenção pelos erros do passado (uma ligação muito fácil que podemos fazer com a Reencarnação).

Normalmente é assim: ganhamos novas oportunidades todos os dias para reparar o mal que já fizemos. Alguns de nós falhamos nesta segunda chance, mas Deus sempre concede outras e outras. Podemos corrigir nossos defeitos através do Amor ou então pela Dor. Está claro que, morrer em um acidente de avião e ser obrigado a encarar grandes desafios em uma ilha misteriosa por anos é uma forma de aprendizado através da Dor. Mas Lost terminou mostrando que, se cultivarmos o Amor, já estamos prontos e podemos evitar muito sofrimento que poderia ainda haver em nosso carma.