domingo, 23 de janeiro de 2011

Mais críticas curtinhas


Deixe-me Entrar

É impossível não comparar com o original, principalmente por haver tão pouco tempo entre os dois.

Somente uma ou outra cena foi reimaginada com relativo sucesso, como o momento do acidente de carro. Já outras cenas diferentes do original acabam apresentando problemas, como quando Abby ataca a vizinha na frente do marido. Como é que se toma tanto cuidado para capturar vítimas e, de repente, ela comete um erro idiota desses? E aquele policial que se revela o mais incompetente do mundo ao revistar um apartamento e não encontrar uma criança agachada na cozinha?

Na verdade há grande quantidade de pequenos problemas de roteiro, que não haviam no original. Por exemplo, como é que a polícia tinha um retrato falado do "pai" de Abby sendo que este estava desfigurado?

Além disso, é decepcionante assistir a um remake que procura explicar justamente os mais fascinantes mistérios do original. Falta sutileza, tanto de direção como de roteiro. E, obviamente, o filme é menos corajoso, evitando, por exemplo, tocar no assunto da homossexualidade do pai de Owen, como era sugerido em Deixe Ela Entrar.

Porém, o maior de todos os pecados está nos momentos em que este remake parece esquecer que o orignal fez sucesso por, acima de tudo, ser um tocante drama adolescente, e entrega-se a vulgares efeitos típicos dos mais bobos filmes de terror. Só isto para explicar os olhos brancos de Abby e sua face demoníaca quando ela está, na verdade, apenas matando a fome. E o que dizer dos péssimos efeitos digitais de quando ela sobe em árvores e prédios?

Mais um remake infeliz, feito por americanos sem imaginação, que soa apenas desnecessário diante da obra prima que é Deixe Ela Entrar.

A Porta

Espécie de Efeito Borboleta alemão, este suspense apresenta mais uma fascinante possibilidade para histórias de viagens no tempo, investindo muito nos dramas e dilemas morais enfrentados pelos personagens.

O protagonista é David, um artista plástico que, por negligência, deixa sua filha se afogar na piscina. Cinco anos depois ele arranja uma forma de voltar àquele dia e reconstruir sua vida. Mas isto custa um preço, é claro.

Apesar de muito interessante em vários aspectos, o filme perde pontos por falhas importantes do roteiro. O protagonista é capaz de tomar atitudes muito idiotas, e não só ele. Caso o filme se assumisse apenas como drama e não tentasse investir tanto no suspense, teria sido melhor.

Ainda assim é um exemplar digno, com boas atuações e ótima trilha sonora, e merece ser conhecido por quem aprecia o gênero.

A Viagem de Chihiro

Obra fascinante, tanto por seus méritos gráficos como poéticos. A Viagem de Chihiro mergulha o espectador em um mundo estranho, que apresenta belezas na mesma medida das ameaças. Cheio de ensinamentos, sem nunca soar didático ou óbvio, é um filme que proporciona imenso alívio e conscientização, tanto para as crianças como para os adultos.

I'm Still Here

É bastante ingênuo em sua abordagem simplista, retratando uma celebridade como vítima, mas não deixa de ser fascinante perceber a entrega de Joaquim Phoenix ao papel. A dúvida ainda é: aquilo tudo é real ou encenação? Pois a resposta é: ambos. Obviamente a história da aposentadoria foi combinada para se fazer um filme, como uma espécie de Borat mais realista, e isso é comprovado pelo uso de certas tomadas claramente preparadas, feitas com mais de uma câmera. Mas quando vemos o ator vomitando após um show fracassado em que ele briga com um espectador, sabemos que aquilo não pode ser só atuação, assim como quando ele chora após a presença no David Letterman. Provavelmente o ator começou, após algum tempo, a realmente confundir a realidade com a armação, e nunca saberemos o quanto é fingimento e o quanto é verdade. Por outro lado, cenas como a em que uma pessoa defeca em Phoenix enquanto ele está dormindo, ou quando o vemos usando drogas e fazendo sexo, são claramente encenadas.

Divertido apenas ao apresentar as cenas do citado programa de David Letterman e da engraçadíssima imitação feita por Ben Stiller no Oscar, o documentário torna-se especialmente rico ao mostrar o impacto (negativo) que essa repercussão traz ao protagonista. É aí que a atmosfera de “astro em decadência” buscada pelo filme atinge seu nível mais profundo e sincero.

Espécie de “Somewhere”, de Sofia Copolla, I´m Still Here também acaba sendo interessante em função da simplicidade do roteiro, que põe Phoenix durante um bom tempo tentando conseguir um produtor para seu disco.

Pecando em muitos aspectos (péssimos enquadramentos de câmera, algumas discussões inúteis e dispensáveis cenas escatológicas, etc), o filme tem seus bons momentos e pode entrar para a história (o tempo dirá) como um dos maiores mergulhos que um ator já fez em um personagem.

Um Filme Sérvio

Esta espécie de versão extrema do filme 8MM (com Nicolas Cage) tem muitos méritos como exercícios de suspense, apoiado pela interpretação vigorosa de Todorovic. É também um dos definitivos deste gênero que envolve sexo, violência e a produção de snuff movies. Porém, o último ato de A Serbian Movie entrega muitos exageros, que apenas enfraquecem a história. De qualquer forma, é uma produção interessante. Forte e muito bem fotografada, só para quem estômago forte.

Homens em Fúria

Apoiado principalmente por grandes atuações do quarteto central, Homens em Fúria é um drama que traz uma interessante abordagem sobre religião e sobre o papel que desempenhamos no mundo. Não é, portanto, um suspense convencional, com final surpreendente - o que pode decepcionar aqueles que tinham esta expectativa - mas é um grande filme.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Críticas curtas

Comentários breves sobre alguns filmes que assisti ou revi recentemente, previamente publicados no Filmow:

127 Horas
Muito bom! Simples, criativo e emocionante, com uma ótima trilha sonora e grande atuação de James Franco. A cena que teria feito pessoas desmaiarem no cinema não é tão forte. E ninguém deveria rotular esta obra como um filme "claustrofóbico", e muito menos compará-lo com aquela porcaria de Enterrado Vivo. A direção e a edição são tão criativas que sempre surpreendem com cenas inspiradas, as quais nem deixam transparecer que a história se passa em apenas um ambiente, com um personagem sozinho. 127 Horas é, antes de tudo, uma reflexão sobre a necessidade humana de manter união com os semelhantes. Sem dúvida, um dos melhores trabalhos do diretor.

Bravura Indômita
Com belas locações e muito bom humor, o filme mostra-se como um dos melhores exemplares de faroestes modernos, apoiado principalmente pela doçura dos seus personagens. Destaco a participação de Josh Brolin, muito diferente de Onde Os Fracos Não Têm Vez, e de Barry Pepper, irreconhecível. Mas todos os outros atores também estão muito bem, em papéis memoráveis. Uma aventura adorável, que só assume seu lado sombrio nas últimas cenas.

Viver e Morrer em Los Angeles
Na época, Michael Mann acusou os produtores de plagiarem, com este filme, a série Miami Vice, que ele produzia. Mas quando Mann fez o longa Miami Vice, em 2006, acabou usando muitos elementos vistos neste filme. Provavelmente um dos melhores dos anos 80, Viver e Morrer em L.A. é bastante violento, corajoso e pouco convencional. Envelheceu muito pouco, e seus maneirismos oitentistas apenas tornam esta produção mais charmosa.

Chinatown
Esta foi a homenagem definitiva aos film noir. Filme sombrio, violento e cheio personagens de moralidade duvidosa. Nicholson está perfeito, em uma atuação com poucos exageros, e sempre dizendo falas engraçadas. A cena da faca no nariz é uma das mais impressionantes que já vi em um filme. Enfim, um dos melhores de Polanski - o que não é pouco para quem fez O Bebê de Rosemary, Mcbeth e O Pianista. Chinatown foi bastante "imitado" pelo seu próprio criador no seu mais recente trabalho, O Escritor Fantasma.

O Cemitério Maldito
Revisto mais de 20 anos depois, o filme continua ótimo. Assusta, diverte, prende a atenção, tem um roteiro inteligente e, na minha opinião, um dos trabalhos de direção mais criativos que já vi no cinema, envolvendo as cenas com o bebê e com o gato. A participação do Herman, da série Os Monstros, é deliciosa. De defeitos, apenas a má atuação e a (falta de) dinâmica do casal principal. Fora isso, tudo se encaixa, incluindo a trilha sonora dos Ramones e a ponta de Stephen King.

Primer
Um daqueles filmes fascinantes que, por mais que não se tenha certeza se está entendendo, você sabe que está gostando. Na verdade até dá para compreender tudo, ou quase tudo, até certo momento. Porém, depois de determinada cena, acompanhar o filme é mais difícil que resolver uma prova de cálculo. Torna-se inevitável revisitar a obra várias vezes, e ir fazendo anotações para depois discutir teorias com os amigos. Produção inteligentíssima e à frente de seu tempo, que renderia uma série de 10 temporadas se fosse bem explorada, mas que aqui está condensada em pouco mais de 1 hora de filme. É uma espécie de Donnie Darko sem frescuras, elevado à décima potência.

O Escritor Fantasma
Um suspense perfeito. Polanski em sua melhor forma, criando tomadas inesquecíveis como a passagem do bilhete de mão em mão e o plano final. Além disso, o humor em pequenas doses estabelece um ótimo balanço com a tensão geral do longa.

Um Lugar Qualquer
É parecido demais com lost in Translation, da mesma diretora, e inclusive há cenas quase idênticas. É sensível, mas não chega nem perto da qualidade daquele.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Melhores filmes e decepções de 2010

Agora sim, voltando à programação normal, o Grafias Noturnas revela quais foram os filmes preferidos do blog no ano que se passou.

Cisne Negro - O diretor Darren Aronofski confirma seu imenso talento entregando este impecável pesadelo que se passa no mundo do balé. Nina é a bailarina que estrelará a peça O Lago dos Cisnes, e começa a delirar em meio aos exaustivos ensaios e à perseguição das colegas que querem tomar seu papel. Assim como outros filmes do cineasta, é um drama com toques de terror, que bem poderia se passar por uma obra de David Lynch ou de Cronenberg.

A Origem - Impecável conto de ficção científica com aprofundamento psicológico, inteligente sem deixar de ter muita ação. Muito já foi dito sobre este novo grande trabalho de Cristopher Nolan, mas não posso deixar de mencionar sua maravilhosa trilha sonora.

Tropa de Elite 2 - Sem dúvida, um dos melhores momentos do cinema nacional de todos os tempos. Filme corajoso, polêmico, violento e fodão.

Mother - Suspense dramático com olhos puxados, na linha de Oldboy.

Nosso Lar - Grande sucesso nos cinemas, apesar de não ter agradado a todos. Particularmente, o filme me tocou, e não deixa de ser uma boa história de ficção científica, para quem prefere encarar assim.

Mary & Max - Uma das animações mais adultas e tocantes que já assisti.

A Estrada - Ficção científica pós-apocalíptica como eu não via desde Mad Max 2.

O Segredo dos seus Olhos - O argentino Juan Jose Campanella nunca faz um filme fraco. Ainda mais se tiver o ator Ricardo Darín atuando nele.

Toy Story 3 - Emocionante e assustador.

O Pequeno Nicolau - Comédia francesa irresistível, que provoca risos sinceros.

As Melhores Coisas do Mundo - Outro ótimo momento do cinema nacional, que mostra de forma mais realista e sensível a geração Malhação. Até o Paulo Vilhena convence como ator.

Triângulo do Medo - Me apaixonei por esta história triangular de terror que deixa muitas perguntas na cabeça do público.

Atração Perigosa - Ben Afleck é mesmo um bom diretor, conforme prova neste drama policial sobre assaltantes de bancos.

A Rede Social - Pode não ser "o melhor da década" como alguns veículos disseram, mas é mais um grande trabalho de diretor de Seven e de Zodíaco.

Um Homem Misterioso - Misteriosamente, caiu rapidamente no meu gosto este exemplar maduro de suspense, com George Clooney encarnando um assassino profissional em busca de redenção, que faz um último trabalho em uma pequena cidade italiana. Belíssima fotografia.

As Decepções
Para variar, há sempre aqueles filmes em que a gente coloca muita expectativa, e que acabam sendo frustrantes. Foi o que ocorreu comigo ao conferir estes aí.

Daybreakers - Ficção científica sobre um futuro em que quase todas as pessoas são vampiros e os humanos são caçados para lhes servirem como alimento. Começa muito bem, mas vai se perdendo e tem um final péssimo e clichê.

Um Homem Sério - Não é ruim, muito menos em seu lindo e assustador plano final, mas não é genial como muitos críticos o pintaram. Chega a ser bem chato, principalmente se compararmos com Onde os Fracos Não Têm Vez, filme anterior dos irmãos Coen.

Homem de Ferro 2 - Comparando-se com o original, é uma piada . As cenas de ação são bem monótonas, e a dupla Samuel L. Jackson e Scarlet Johanson não sabe a que veio.

A Hora do Pesadelo - Muito pior do que eu imaginava. Nem eu meus piores pesadelos este remake poderia ser tão ruim.

Devil - Apesar de M. Night Shyamalan estar em uma maré ruim, achei que este terror produzido por ele tinha uma premissa interessante o bastante para ser ao menos bonzinho - e mesmo assim foi uma decepção.

Enterrado Vivo - Compreendo os méritos de se fazer um filme inteiro dentro de um caixão, com apenas um personagem. Mas a coisa cansa logo, e no final percebemos que assistimos uma espécie de Jogos Mortais sem sangue.

Scott Pilgrim contra o mundo - Também compreendo seus méritos visuais e sonoros, mas não passa de mais uma comédia romântica esquisita com Michael Cera, só que com vilões amalucados e lutas em estilo videogame.

Ladrões (Takers) - Achei que o Stephen King não estaria errado ao incluir este em sua lista de melhores do ano, mas o filme mais parece um comercial de relógios ou de carros. Até tenta dar um pouco de tridimensionalidade aos seus personagens através de suas falas, mas não consegue.
Enfim, em um ano em que assisti a poucos filmes (foram 109), até que consegui fazer uma lista interessante. É claro que falta assistir a alguns que, provavelmente entrariam na lista, como O Escritor Fantasma e Como Treinar seu Dragão, mas a intenção era apenas dar algumas dicas para quem está em dúvida sobre quais assistir.
Um abraço, e bons filmes! E bons sonhos!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Resultado da promoção

Depois de umas ótimas férias, o blog Grafias Noturnas volta com tudo e já começa divulgando o resultado da promoção do mês passado. O ganhador do livro Tripulação de Esqueletos é o leitor Gabriel Pacheco. Parabéns, Gabriel! Por favor, envie um e-mail com seu endereço e logo você receberá o prêmio em casa!

Dito isto, desejo um ótimo 2011 a todos que frequentam este espaço. E quero dizer que já temos vários posts engatilhados para breve. Tenho muitas dicas de filmes e de livros para vocês, e outros assuntos interessantes que quero compartilhar.

Grande abraço! E bons sonhos!