Deixe-me Entrar
É impossível não comparar com o original, principalmente por haver tão pouco tempo entre os dois.
Somente uma ou outra cena foi reimaginada com relativo sucesso, como o momento do acidente de carro. Já outras cenas diferentes do original acabam apresentando problemas, como quando Abby ataca a vizinha na frente do marido. Como é que se toma tanto cuidado para capturar vítimas e, de repente, ela comete um erro idiota desses? E aquele policial que se revela o mais incompetente do mundo ao revistar um apartamento e não encontrar uma criança agachada na cozinha?
Na verdade há grande quantidade de pequenos problemas de roteiro, que não haviam no original. Por exemplo, como é que a polícia tinha um retrato falado do "pai" de Abby sendo que este estava desfigurado?
Além disso, é decepcionante assistir a um remake que procura explicar justamente os mais fascinantes mistérios do original. Falta sutileza, tanto de direção como de roteiro. E, obviamente, o filme é menos corajoso, evitando, por exemplo, tocar no assunto da homossexualidade do pai de Owen, como era sugerido em Deixe Ela Entrar.
Porém, o maior de todos os pecados está nos momentos em que este remake parece esquecer que o orignal fez sucesso por, acima de tudo, ser um tocante drama adolescente, e entrega-se a vulgares efeitos típicos dos mais bobos filmes de terror. Só isto para explicar os olhos brancos de Abby e sua face demoníaca quando ela está, na verdade, apenas matando a fome. E o que dizer dos péssimos efeitos digitais de quando ela sobe em árvores e prédios?
Mais um remake infeliz, feito por americanos sem imaginação, que soa apenas desnecessário diante da obra prima que é Deixe Ela Entrar.
A Porta
Espécie de Efeito Borboleta alemão, este suspense apresenta mais uma fascinante possibilidade para histórias de viagens no tempo, investindo muito nos dramas e dilemas morais enfrentados pelos personagens.
O protagonista é David, um artista plástico que, por negligência, deixa sua filha se afogar na piscina. Cinco anos depois ele arranja uma forma de voltar àquele dia e reconstruir sua vida. Mas isto custa um preço, é claro.
Apesar de muito interessante em vários aspectos, o filme perde pontos por falhas importantes do roteiro. O protagonista é capaz de tomar atitudes muito idiotas, e não só ele. Caso o filme se assumisse apenas como drama e não tentasse investir tanto no suspense, teria sido melhor.
Ainda assim é um exemplar digno, com boas atuações e ótima trilha sonora, e merece ser conhecido por quem aprecia o gênero.
A Viagem de Chihiro
Obra fascinante, tanto por seus méritos gráficos como poéticos. A Viagem de Chihiro mergulha o espectador em um mundo estranho, que apresenta belezas na mesma medida das ameaças. Cheio de ensinamentos, sem nunca soar didático ou óbvio, é um filme que proporciona imenso alívio e conscientização, tanto para as crianças como para os adultos.
I'm Still Here
É bastante ingênuo em sua abordagem simplista, retratando uma celebridade como vítima, mas não deixa de ser fascinante perceber a entrega de Joaquim Phoenix ao papel. A dúvida ainda é: aquilo tudo é real ou encenação? Pois a resposta é: ambos. Obviamente a história da aposentadoria foi combinada para se fazer um filme, como uma espécie de Borat mais realista, e isso é comprovado pelo uso de certas tomadas claramente preparadas, feitas com mais de uma câmera. Mas quando vemos o ator vomitando após um show fracassado em que ele briga com um espectador, sabemos que aquilo não pode ser só atuação, assim como quando ele chora após a presença no David Letterman. Provavelmente o ator começou, após algum tempo, a realmente confundir a realidade com a armação, e nunca saberemos o quanto é fingimento e o quanto é verdade. Por outro lado, cenas como a em que uma pessoa defeca em Phoenix enquanto ele está dormindo, ou quando o vemos usando drogas e fazendo sexo, são claramente encenadas.
Divertido apenas ao apresentar as cenas do citado programa de David Letterman e da engraçadíssima imitação feita por Ben Stiller no Oscar, o documentário torna-se especialmente rico ao mostrar o impacto (negativo) que essa repercussão traz ao protagonista. É aí que a atmosfera de “astro em decadência” buscada pelo filme atinge seu nível mais profundo e sincero.
Espécie de “Somewhere”, de Sofia Copolla, I´m Still Here também acaba sendo interessante em função da simplicidade do roteiro, que põe Phoenix durante um bom tempo tentando conseguir um produtor para seu disco.
Pecando em muitos aspectos (péssimos enquadramentos de câmera, algumas discussões inúteis e dispensáveis cenas escatológicas, etc), o filme tem seus bons momentos e pode entrar para a história (o tempo dirá) como um dos maiores mergulhos que um ator já fez em um personagem.
Um Filme Sérvio
Esta espécie de versão extrema do filme 8MM (com Nicolas Cage) tem muitos méritos como exercícios de suspense, apoiado pela interpretação vigorosa de Todorovic. É também um dos definitivos deste gênero que envolve sexo, violência e a produção de snuff movies. Porém, o último ato de A Serbian Movie entrega muitos exageros, que apenas enfraquecem a história. De qualquer forma, é uma produção interessante. Forte e muito bem fotografada, só para quem estômago forte.
Homens em Fúria
Apoiado principalmente por grandes atuações do quarteto central, Homens em Fúria é um drama que traz uma interessante abordagem sobre religião e sobre o papel que desempenhamos no mundo. Não é, portanto, um suspense convencional, com final surpreendente - o que pode decepcionar aqueles que tinham esta expectativa - mas é um grande filme.