domingo, 7 de fevereiro de 2010

Harry Potter: um breve dossiê


Depois de anos longe dos livros do Harry Potter (eu havia parado no 5º), resolvi comprar os dois que faltavam e, finalmente, dar esse assunto por encerrado. Pois bem, agora sim eu posso dizer que conheço toda a história do bruxinho. É claro que não se pode exigir demais de uma saga que, a princípio, era voltada para crianças, portanto tenho que avaliar como um trabalho bastante satisfatório. Lembro que o primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, apesar de bem infantil, me pegou de jeito graças às invencionices de J.K. Rowling. Foi uma leitura mágica, na falta de um adjetivo melhor.

Iniciei o segundo, A Câmara Secreta, muito animado, mas me frustrei um pouco. É que é muito perceptível a intenção da autora em situar os leitores que não haviam lido A Pedra Filosofal, então ela faz uso exagerado de flashbacks dispensáveis, lembrando de fatos importantes lá descritos. Isso irrita, e mostra que talvez ela ainda subestimasse o potencial de gerar fãs fiéis com as aventuras de Harry, Rony e Hermione. Fora isso, a segunda aventura é boa, na mesma medida que a primeira.

Mas o grande salto da saga veio em O Prisioneiro de Azkaban. Neste ponto, obviamente Rowling já havia se tocado que seus leitores ou estavam crescendo, ou eram adultos, e então ela investiu em elementos mais sombrios. Foi aqui que os dementadores deram as caras pela primeira vez, deixando a série com momentos dignos de literatura de horror.

O livro seguinte, HP e o Cálice de Fogo, me chamou a atenção por eliminar (ou ao menos diminuir consideravelmente, não lembro direito) as irritantes (na minha opinião) partidas de quadribol. Também era visível o crescente uso da violência, o que faz o leitor realmente começar a temer pela segurança das personagens. Também nota-se que a escritora já está pouco ligando para seu público infantil e prefere lançar uma obra bem maior, com quase 600 páginas, e usar um vocabulário mais apurado.

O quinto livro, A Ordem da Fênix, meio que repete a fórmula do anterior, com uma novidade: a morte de uma personagem importante. Não é à toa que foi neste volume que interrompi a série e fiquei alguns anos sem querer voltar. Já estava cansativo aquele esquema sempre igual, que fazia a história começar na casa dos Dursley, passar o ano letivo em Hogwarts (onde um mistério era resolvido, apesar de que a figura de Voldemort ficava cada vez mais forte), para acabar novamente na casa dos Dursley. Senti que aqui a saga estava perdendo o fôlego.

Depois de anos afastado, é claro que foi gostoso voltar ao universo dos bruxinhos em O Enigma do Príncipe. Tanto que achei um dos melhores da série. Alguns trechos me prenderam para valer, e devorei o livro em alguns dias. Seu final me fez querer logo começar o derradeiro As Relíquias da Morte. E foi aí que, penso eu, a autora mais errou.

Bem, já era mesmo hora de J.K. Rowling parar com aquele esquema que citei. Neste aspecto, a última aventura é ótima, pois finalmente sabemos como é uma história da saga sem trazer as personagens quase o tempo todo na escola de magia. Porém, a autora parece ter ficado um pouco perdida com essa mudança, e desperdiçou uma grande oportunidade de brincar com seus bruxinhos de forma mais criativa, gerando um livro bastante irregular, com longas passagens em que pouca coisa realmente interessante acontece. É claro que há momentos de bastante ação, e a crescente violência que acompanhou a série não vê freios aqui, aumentando significativamente a contagem de corpos. Porém, além de possuir o maior número de situações forçadas de todos os sete livros, Rowling finalmente teve que dar maior espaço para seu vilão Voldemort, e a pouca (ou nenhuma) familiaridade com o lorde das trevas nos seis primeiros livros transparece claramente através dos péssimos diálogos que ele protagoniza, revelando-se um vilão caricato e estúpido. De todos os destinos das personagens, o que mais me agradou foi o de Severo Snape - este, sim, mostrou-se digno da força que manteve ao longo da série. Mas no decorrer das 592 páginas, percebi influências óbvias demais de O Senhor dos Anéis, em situações que empalidecem diante do original. Enfim, um livro cheio de problemas, e talvez o pior da série. Mas afinal, a autora já deveria ter esgotado todas as possibilidades com a turminha, o que é compreensível. E como resistir ao livro depois de anos e anos acompanhando as aventuras de Harry, Rony e Hermione? Além disso, o epílogo é tão legal que faz esquecer quase todos os pecados. Não termina com chave de ouro (pelo contrário!), mas a série vale pelo seu conjunto.

Agora resta saber o que a autora vai aprontar no futuro. Se eu fosse ela, aproveitaria seus inúmeros fãs mais velhos e sedentos de sangue, e escreveria história mais sombrias e violentas.

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