domingo, 23 de maio de 2010

Lady Gaga: O monstro da fama

Sinceramente, nunca fui grande fã de música eletrônica. São poucos os artistas que me agradam ao utilizarem sintetizadores e os artificiais "tuns", "pócs" e "claps" em suas canções. E essas novas "rainhas do pop" que surgiram nos últimos anos, como Rihanna e Beyoncé, nunca me chamaram a atenção a ponto de eu querer ouvir um cd inteiro delas. Não foi com surpresa que ouvi falar, há algum tempo, desta tal de Lady Gaga. Quando vi seu visual espalhafatoso e absurdo, pensei: "Já estão chegando no auge da apelação para mostrarem-se diferentes umas das outras". Devido ao enorme sucesso que ela fazia, fui conferir o video de Poker Face, e não me surpreendi com qualquer qualidade musical além do comum, apesar do clima dark e um pouco chocante do video.

De lá para cá eu tinha apenas ignorado a tal Gaga, colocando-a no mesmo cesto daquelas outras cantoras pop internacionais da moda. Porém, tudo isso mudou depois que assisti ao video daquele menino de 12 anos tocando no piano Paparazzi, outro sucesso da artista. Creio que todos se surpreenderam com a virtuosidade do garoto, apesar de que, como espírita, sei que a partir de agora será cada vez mais comum esse tipo de manifestação entre crianças. Mas na verdade o que me chamou a atenção foi a própria música. Puxa, que composição! Como é que aquela maravilha podia ser da mesma Lady Gaga a que eu havia tido contato antes?

A partir daí fui pesquisar e encontrei vários vídeos da moça tocando piano e cantando em versões acústicas de seus maiores sucessos. A faixa que o garoto tocou no piano já vinha sendo apresentada por ela só com voz e piano há muito tempo nos shows, assim como Poker Face e outras. Não teve jeito: acabei me rendendo ao talento da garota, reconhecendo música de qualidade onde eu não havia reparado ao ouvir a versão eletrônica. Descobri que, além de uma ótima cantora e pianista, Lady Gaga é grande compositora. Uma artista completa, com uma voz poderosa e cujo visual estranho que adota parece ser uma zoação com a moda "chic" (e confesso que agora já consigo enxergar a beleza de suas roupas esquisitas). E além disso, percebo que ela procura fazer uma espécie de crítica à fama e à indústria de celebridades, através do exagero e da caricatura. Enfim, ela merece todo o sucesso que está obtendo, principalmente por revelar-se uma mulher inteligente.

Não fosse tudo isso, ainda estou hipnotizado por seus imaginativos e fortes clips, fortemente influenciados por filmes exploitation, que possuem versões mais longas que funcionam como verdadeiros curtas (à maneira do clássico Thriller, de Michael Jackson). O video de Telephone, por exemplo, começa como um daqueles filmes B de mulheres na prisão e tem a participação da maravilhosa caminhonete Pussy Wagon, do filme Kill Bill, além de fazer referência explícita a Thelma & Louise e Natural Born Killers.


O clip de Paparazzi, a versão explícita, lembra a cruza de algum filme de Almodóvar com uma história bem exploitation, sobre uma atriz (ou cantora) milionária que sofre um acidente, fica muito debilitada, mas recupera-se aos poucos e volta a estampar as capas das revistas ao cometer um crime. Impressionaram-me particularmente as cenas que mostram Gaga paralisada em uma cadeira de rodas e sofrendo para voltar a andar (tudo isso em forma de musical, com dançarinos e ela própria fazendo uma grande performance física).

Bad Romance tem um video bem estranho, que até me fez pensar: "A Lady Gaga fez com talento aquilo que o Marilyn Manson tenta há anos". Há nele cenas bem esquisitas, que lembram um filme de terror, como Re-animator e Frankenstein, e o final é Nekromantik puro. Mas por incrível que pareça, o mais hipnótico para mim é, hoje, o de Poker Face — sim, o mesmo a que eu havia dado pouca atenção na primeira vez que assisti.


Portanto, posso dizer que já sou grande fã da moça. Há várias de suas canções que não saem da minha cabeça, sendo que uma delas é a suave Brown Eyes, que evoca Elton John e sua Your Song. Assim, é com grande satisfação que recomendo o cd duplo The Fame Monster, que tem todos os sucessos, e aguardarei ansiosamente o lançamento de um álbum acústico, que vai surpreender até os que ainda não se renderam ao talento dela. Se duvidam, assistam abaixo ela tocando Poker Face ao piano.

2 comentários:

  1. Apesar de considerar a Lady Gaga um personagem, acho que ela é a artista da década por ousar e fazer acontecer. O clip de "Telephone" para mim é um clássico e um dos melhores já feitos até então. Parabéns pela crítica!

    Abraço,

    http://cafecomnoticias.blogspot.com

    ResponderExcluir