domingo, 21 de novembro de 2010

Dossiê Stephen King no cinema parte II (1987-1994)

Creepshow 2 (1987)

Em 1987 foi lançada a continuação de Creepshow, mas sem Romero na direção. No lugar dele entrou Michael Gornick, que havia sido diretor de fotografia do primeiro filme. Contando com três histórias de King, sendo apenas uma delas baseada em um conto seu (A Balsa, do livro Tripulação de Esqueletos), Creepshow 2 diverte, mas não tem a mesma genialidade do primeiro. Destaque para a última história, O Caroneiro, sobre uma senhora da alta sociedade que, viajando sozinha à noite, passa a ser perseguida por um zumbi a quem ela atropelou (é baseada em um episódio de Além da Imaginação). No início e no final do filme, bem como nos intervalos entre os segmentos, há um desenho animado, bem feitinho, que resgata aquele clima das histórias em quadrinhos da EC Comics. Com um orçamento visivelmente mais baixo que o do primeiro filme, e sem a mão de Romero, até que Creepshow 2 não decepciona. Mas é mais infantil, e não chega nem perto de causar os sustos do original.


O Sobrevivente (1987)

Este é mais um daqueles filmes que algumas pessoas se surpreendem quando descobrem que foi baseado em King. Adaptado de uma história escrita sob o pseudônimo Richard Bachman, O Sobrevivente sofreu muitas deturpações e acabou sendo transformado em um filme de ação, com Arnold Schwarzenegger como protagonista. Trata-se de uma ideia bem interessante, muito copiada hoje em dia, sobre um reality show do futuro em que os concorrentes precisam escapar com vida de uma série de armadilhas mortais e de assassinos fantasiados. King não gostou, afirmando que transformaram seu conto de caçada humana em um filme tipo Rambo. Mas O Sobrevivente diverte e tem um clima legal de histórias em quadrinhos. O orçamento foi bem alto para a época, cerca de $ 30 milhões – o maior entre todas as adaptações de King até então.


Cemitério Maldito (1989)

Em 1989, dois anos depois da última adaptação de Stephen King chegar às telas, foi a vez de Pet Sematary ganhar um filme. O livro, baseado no conto A Pata do Macaco, é uma das coisas mais pesadas que o autor já escreveu, sobre um médico que se muda para o interior e descobre um cemitério indígena que tem o poder de reviver quem lá for enterrado. O filme, dirigido por Mary Lambert, não fez feio e é até hoje uma das melhores adaptações de King. O casal principal de atores é bastante morno, mas atuações como a de Fred Gwynne (o Herman da série Os Monstros, aqui como o velho vizinho), e até a do gato da família, fazem tudo valer a pena. O sucesso foi tanto que a bilheteria ultrapassou a de Conta Comigo, transformando-se no filme mais bem sucedido até então, entre todos os baseados em King. Teve uma continuação inferior em 92, com a mesma diretora, mas sem nenhuma ligação com o mestre.


Contos da Escuridão (1990)

No ano seguinte estreou esta produção dividida em quatro histórias, que era para ter sido Creepshow 3, mas sofreu algumas mudanças. A base é praticamente a mesma, mas aqui foi homenageada a série televisiva Tales From de Darkside (1983-88), e não os quadrinhos. No filme, um menino que será cozinhado por uma dona de casa (interpretada pela cantora Deborah Harry) conta a ela três histórias, para ganhar tempo. Apenas a segunda, The Cat From Hell, é baseada em King (a primeira é uma versão de um conto de Conan Doyle), mas o destaque mesmo vai para Lover´s Vow, sobre um artista plástico que testemunha uma estranha criatura cometer um assassinato, e precisa guardar segredo para garantir sua vida. A produção contou com um grande elenco, como Christian Slater, Steve Buscemi e Juliane Moore.


A Criatura do Cemitério (1990)

Ainda em 1990, chegaria aos cinemas esta produção baseada na pequena história O Turno da Noite, do livro Sombras da Noite. O conto é um dos mais claustrofóbicos de King, sobre um grupo de empregados que, obrigados pelo patrão escravagista a fazer hora extra, acabam descobrindo uma raça de gigantescas ratazanas mutantes em seu ambiente de trabalho. Uma das adaptações mais fracas do autor, ainda que conte com bons momentos e a participação de Brad Dourif.


Louca Obsessão (1991)

Em 1991, o diretor Rob Reiner, que já havia comandado o excepcional Conta Comigo, levou ao cinema o livro Angústia (Misery), obtendo mais uma vez um resultado excelente. Kathy Bates ganhou o Oscar como a psicopata fã número um que mantém seu escritor predileto em cativeiro, obrigando-o a escrever um novo livro. Melhorando vários pontos do romance, o filme transformou-se em um clássico do suspense. Ao ser interrogado sobre como filmar direito uma história de King, Reiner disse que os diretores erram quando tentam extrair do papel apenas sangue e violência. Sábias palavras! Como resultado, Misery bateu o recorde de bilheteria de Cemitério Maldito, tomando o posto da adaptação do autor mais bem sucedida nos cinemas.


Sonâmbulos (1992)

Com roteiro do próprio King, Sonâmbulos traz a história de um estranho casal (mãe e filho), com características humanas e felinas, que chegam a uma cidade pequena em busca de uma virgem para lhes servir de alimento. Com uma abordagem sobre a perda da inocência que lembra a da série Crepúsculo, o filme tem uma boa produção, com alguns efeitos especiais interessantes, mas não causou muito impacto.


A Metade Negra (1993)

Livro bem curioso da bibliografia de King, The Dark Half é a adaptação de uma lenda do folclore alemão, trazendo um escritor assombrado pelo próprio... pseudônimo! George Romero, mais uma vez, ficou encarregado de filmar a história, mas aqui ele não mostra aquela sua genialidade, e entrega um trabalho bem convencional. Destaque negativo para o vilão, George Stark, que era a coisa mais interessante do livro e aqui ficou bastante apagado. Afundou nas bilheterias naquele ano de 1993, tendo custado $ 15 milhões e arrecadado menos que $ 10 mi.


Trocas Macabras (1994)

Este filme de 1993 é mais um bom exemplar das adaptações do autor, trazendo a história de um misterioso forasteiro que abre uma loja em uma pequena cidade, vendendo tudo o que cada morador do local sonha possuir. Mas o preço não é em dinheiro: é em más ações. Com cenas violentas, mas sem esquecer do bom humor dos livros de King, Trocas Macabras diverte e ainda tem um ótimo elenco, encabeçado por Max Von Sydon e Ed Harris. Não chega a ser um grande filme, mas em vista da maioria das adaptações, merece algum destaque.


Um Sonho de Liberdade (1994)

Mas em 1994, um filme baseado em um dos segmentos do livro Quatro Estações foi a primeira adaptação de King a ter chances reais de ganhar um Oscar de melhor filme. O diretor Frank Darabont já havia estreado sua carreira adaptando um conto do autor, no curta A Mulher no Quarto, quando ainda era estudante. E logo em seu primeiro trabalho para o cinema, com Um Sonho de Liberdade, conseguiu sete indicações ao Oscar, do qual saiu de mãos abanando (puro azar: naquele mesmo ano concorriam Forrest Gump e Pulp Fiction). Além disso, Um Sonho de Liberdade foi mal nas bilheterias, já que a indicação só veio depois que o filme já tinha sido exibido ao público. Ainda assim, é considerado pela crítica como um dos melhores filmes do cinema. Na época ninguém desconfiava que fosse uma história de Stephen King (e muita gente ainda hoje nem desconfia), já que não apresenta nada de sobrenatural. Trata-se de um tocante drama de prisão, com Tim Robbins e Morgan Freeman.

E no próximo post, a terceira e última parte do Dossiê King, com os filmes produzidos entre 1995 e 2010 - provavelmente uma das melhores safras, ainda que traga aquele que foi o maior dos fracassos de público!


Clique para ler a parte 1 (de 1976 a 1986)

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