sábado, 27 de março de 2010

Filmes

O Enigma de Outro Mundo : Quando criança, sempre tive medo de assistir a esta produção de John Carpenter, e fiquei com essa lacuna sem ser preenchida, o que me frustava muito. Pois hoje resolvi este problema, já que tanta gente comenta que o filme tornou-se um clássico (na época do lançamento foi fracasso de bilheteria). Minha opinião: não é para tanto. É claro que há um visual muito charmoso, alguns movimentos de câmera interessantes, e o ótimo climão de quadrinhos de sci-fi. Os efeitos também são ótimos, continuando a impressionar depois de tantos anos (nada de CGI, baby - aqui só vemos gosmas reais!). Porém, o filme encontra um grave problema: o roteiro. Bem, talvez nem seja esse o problema, já que não se poderia esperar nada muito diferente da história de um grupo de americanos na Antártida caçado por uma monstruosa criatura alienígena (quase a mesma história de Alien, vale dizer). Mas os diálogos são bem ruins, assim como as tentativas de se explicar alguns fatos cientificamente (A visão da célula canina transformando-se em outra na tela de um ultrapassado computador é hilária!). Os diálogos, risíveis ("O efeito de retro-dispersão tem trazido coisas à tona de muito abaixo da superfície até aqui por um longo tempo. Eu diria que o gelo tem, no mínimo, 100 mil anos"), assim como detalhes (que não são tão detalhes assim). Afinal, qual trabalho os americanos estão fazendo? Os caras só ficam lá na estação deles, sem fazer nada; sabemos que entre eles há um médico, mas eles também têm armas. Kurt Russel, que é o protagonista, é apenas o piloto de helicóptero. E me incomodei por os personagens sempre falarem que o frio é de 40 graus negativos, mas eles nunca parecem tremer, e nem precisam de muitas roupas (apesar disso, gosto do efeito de barba congelada dos atores). Por conta desses vários pequenos problemas, a produção acaba não sendo muito divertida, e custa a passar. Uma pena, pois poderia ter sido, de fato, um clássico. (2 estrelas em 5)

Update: fiz algumas observações no meu comentário logo abaixo, em resposta ao do Mário.

O Mesmo Amor, A Mesma Chuva : um dos meus cineastas preferidos, o argentino Juan Jose Campanella fez aqui a primeira parceria com o ator Ricardo Darín, que viria a se repetir em O Filho da Noiva, Clube da Lua e no oscarizado O Segredo dos seus Olhos. A história começa em 1980, trazendo como protagonista o autor Jorge Pelegrini, que escreve contos para uma revista. O roteiro vai abordar a passagem do tempo até os anos 90, mostrando seus amores, seus medos, suas paixões, seus conflitos e a situação política argentina, muito parecida com a brasileira, que saiu de uma ditadura militar na mesma época e teve que aprender a lidar com a nova realidade. Jorge passa de um escritor idealista e romântico vindo dos anos 70 a um cínico crítico nos anos 90, tendo como par Laura (a atriz Soledad Villamil, que faria novo par com Darín em O Segredo dos seus Olhos), uma garçonete de personalidade forte que quer que ele abandone o emprego na revista, que castra sua criatividade, para dedicar-se aos seus próprios livros. Há muitas cenas engraçadas, e outras que fazem chorar. A música é maravilhosamente melancólica, acompanhando o tema da história. Um filme lindo, para ver e rever, com grandes atuações, e que faz pensar sobre nossa vida. (5 estrelas em 5)

Para título de minhas anotações, cheguei até aqui a 38 filmes vistos em 2010 (grande decepção, temos que melhorar esta média)

Nove Rainhas : E para fechar o final de semana, não pude evitar e revi mais um filme com o ator argentino Ricardo Darin. Pois bem: se sua parceria com o diretor Juan Jose Campanella rendeu até agora 4 obras-primas muito humanas, melancólicas e agridoces, seu trabalho com o cineasta Fabian Bielinski nos brindou com duas obras-primas humanas, satíricas e cheias de suspense, que usam o gênero "filme de golpe" como roupagem. Infelizmente não posso utilizar as palavras "até agora" desta vez, pois esta parceria acabou em 2006, quando Bielinski morreu, aos 47 anos, vítima de infarte em um quarto de hotel em São Paulo. Um desses dois filmes da dupla foi A Aura, sobre o qual já comentei aqui no blog. O outro é este ótimo exemplar do cinema argentino, em que Darin interpreta um golpista profissional que, ao lado de um pupilo inexperiente, se arrisca ao maior golpe de sua vida, que envolve a falsificação de um bloco de selos raríssimos (as Nove Rainhas, do título). Uma produção inteligente, cheia de humor e viradas do roteiro, mas que não se apoia unicamente no gênero policial, investindo no aprofundamento psicológico e nos dramas familiares das personagens. Além disso, com um final realmente inesperado (apesar do público desconfiar de tudo e de todos desde o início). Foi refilmado pelos americanos. (5 estrelas em 5).

7 comentários:

  1. He he he, rapaz, uma coisa tenho que admitir: temos gostos diametralmente opostos para filmes! ;)

    Bom fds pra ti!

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  2. Você gostou tanto assim de The Thing? Como eu apontei, há centenas de aspectos positivos, principalmente no quesito visual e, putz, esqueci de falar da fantástica trilha sonora de Ennio Morricone (terei que fazer um update lá). Mas confesse: os diálogos são fraquíssimos e muita coisa do roteiro deixa a desejar. Por que é que os caras encontram a nave e nem têm curiosidade de dar uma olhada por dentro dela? Por que eles parecem agir com certa tranquilidade diante da morte dos primeiros colegas? E por que há um arsenal na estação, sendo que eles são aparentemente técnicos e cientistas de alguma empresa? Em minha opinião deveria ter sido enfocado melhor pelo roteiro aquela possibilidade deles estarem enlouquecendo devido ao isolamento causado pelo gelo, e deixar uma dúvida para eles próprios e para o espectador: afinal, há realmente um monstro ou são eles mesmos que estão se matando? Não li o conto original, mas o ponto central deve ter sido este, principalmente porque o alienígena tomava a forma dos personagens.

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  3. Além disso, também esqueci de mencionar a cena também "inspirada" pela de Alien, em que um dos personagens é deitado em uma mesa e acontece um "acidente" envolvendo um peito que se abre e o surgimento de uma criatura monstruosa. Vale lembrar: Alien é de 1979, The Thing de 82.

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  4. Opa! Ahhh, foi só um comentário, rsrs. Mas falando especificamente de O Enigma do Outro Mundo, devo começar dizendo que tenho muito carinho pelo filme, pois foi um dos primeiros filmes de horror que assisti quando criança (e que me deixou apavorado!). Assisti após muitos anos, quando adulto, e continuei gostando (coisa que não acontece com muitos filmes que amei na infância, mas que achei detestáveis depois).

    Cara, eu tenho uma teoria: certos filmes "pegam" a gente, de uma maneira puramente emocional, que não tem nada a ver com o intelecto: quando isso acontece, nós simplesmente não vemos alguns defeitos (ou não os percebemos). Acho que é tipo amor, entende, a gente não vê os defeitos, ou não se importa, pois o "todo" é muito mais importante, rsrs.

    Acho que todas as questões que vc levantou nem me passaram pela cabeça como defeitos, sabe (acho que o filme tem seus defeitos, mas pra mim são outros).

    Mas pensando agora sobre o que vc apontou, posso comentar o seguinte: os diálogos pra mim são bons, nada de extraordinários, mas simples e eficientes, sem grandes firulas (meio canastrões de vez em quando, mas isso faz parte do charme "brutamontes" do filme, ahauah!); oras, a forma de mostrar as células devoradoras foi o que o diretor conseguiu fazer na época, então o efeito é apenas datado, mas não ruim. O roteiro representa pra mim uma coisa meio "Guerra ao Terror", onde as coisas simplesmente vão acontecendo, sem reviravoltas, como talvez acontecesse se a situação fosse "real"; não saber qual é a pesquisa deles tbém não me incomoda, quero dizer, de fato é uma bobeirinha do filme, mas pra mim não tem qualquer peso, rsrs. E se os personagens não parecem sentir frio, bom, em todos os documentários que assisti no Discovery Channel ou no Animal Planet, com pesquisadores nos pólos, os caras nunca pareceram sentir frio mesmo (fora que, dentro das estações, é tudo climatizado). Eles não entrarem na nave me parece natural, já que poderiam estar com medo de encontrarem outras criaturas lá dentro, ou talvez simplesmente não conseguiram entrar na nave, não sei... dá pra concluir muitas coisas...Não senti falta da possibilidade deles estarem enlouquecendo; pra mim, o único aspecto psicológico que o filme precisa desenvolver (e desenvolve muito bem) é a paranóia, e não há necessidade deles pensarem que estão enlouquecendo (o filme é bem literal em mostrar que realmente há uma criatura). O fato deles terem armas me parece natural, caso houvessem predadores e animais perigosos por perto. Mas agora que vc falou, é verdade, eles parecem um tanto "calmos" com as mortes, mas por outro lado, eles estão aprisionados lá, então talvez seja choque, ou simplesmente eles tentando manter a sanidade (acredito que é o que acontece em situações limite).

    Tá vendo como, quando a gente gosta do filme, a gente encontra explicações? Se eu não tivesse gostado, acho que teria concordado contigo de cara, AHAUAHAU!

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  5. Enfim, acho que, quando a gente começa a ver um filme e, por algum motivo, começa a não gostar, talvez a gente comece a encontrar defeitos, e não perdoamos aspectos (ou defeitos) que perdoáriamos em outros filmes. Acho que é perfeitamente natural isso, faz parte, mas é claro que vc pode discordar dessa minha análise psicológica do "gostar", que eu acho que é válido pra todos (eu incluso), e não só pra vc, que fique bem claro, he he he.

    Pra mim, as qualidades do filme superam muuuito os defeitos: sempre vibro com a atitude dos sujeitos em defender o cachorro no início do filme, eles já conquistam minha simpatia ali (claro que é justamente isso que ferra com eles, mas enfim, haaha); o MacCready (personagem do Russel) é um ogro, jogando café no computador que vence ele no jogo... tipo, tem coisa mais idiota do que isso? Mas é engraçadissimo, haauah! Eu gosto do ritmo do filme, esse ritmo "anos 80", que investe bastante no mistério do início, as coisas vão se revelando aos poucos (tenho raiva dos filmes de horror atuais, aqueles que já começam a 1000 por hora); a música, a fotografia, a direção de arte, os efeitos (com exceção de um ou outro), é tudo acertado! A primeira aparição do monstro (a chacina no canil) me arrepia até hoje, assim como a maravilhosa cena do "teste do sangue", que me dá nos nervos! E as aparições da criatura, puuuutz, sempre apavorantes (nunca esqueci da criatura pescoçuda, ou da cabeça carangueijo)! E a cena da "sala de cirurgia", com o peito da criatura abrindo para engolir o desfribilador, pra mim é de uma ironia incrível (assim como o desfecho, pessimista e muito adequado com o clima do filme).

    Pra mim, os defeito são: o clímax, que me parece simples demais (ele simplesmente "fisga" o monstro com uma dinamite), e a absurda e inverossímel construção de uma nave por uma das criaturas, etc.

    Mas é isso. Arghhh, a mensagem ficou imensa! Mas quem manda provocar, adoro conversar sobre filmes de horror e ficção, rsrsrsrs. Abração, fio!

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  6. Ah é, eu também esqueci de comentar essa da construção da nave: algo totalmente bobo, hehehe. A do teste de sangue também, apesar de eu ter dado um pulo no sofá quando o sangue pulou do pote. Bem, continuo achando que tudo o que eu comentei é defeito, apesar de que o filme é, sim, muito assustador e possui aquele "charme burro" dos filmes machões dos anos 80, como Rambo 2, Comando para Matar e até dos Sexta-Feira 13. Creio que se fosse para assistir a ele dublado em russo, sem legendas, eu adoraria. Mas com os diálogos e as "explicações", a coisa me parece muito tola e até engraçada para os dias de hoje.

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  7. Então tá! Rsrsrs. Mas acho a cena do sangue genial. Abraço!

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