segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Festas!

O blog Grafias Noturnas entra em férias a partir de hoje. Também sou filho de Deus (será?) e vou aproveitar o fim de ano para descansar um pouco. Eu gostaria de agradecer a todos que, em 2010, compartilharam este espaço, lendo, participando das promoções, comentando e recomendando o blog.

E já quero adiantar que, logo no início de 2011, teremos muitas atrações: o sorteio de Tripulação de Esqueletos, minha lista dos melhores filmes assistidos neste ano e a resenha do primeiro livro que já li para o desafio Ray Bradbury (para quem não sabe, minha resolução de ano novo é passar 1 ano lendo apenas livros do meu autor preferido).

Então é isso! Boas festas a todos, e bons sonhos!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Resolução de fim de ano

O resultado da enquete "Que livro você me indica para ler no final do ano?" deu o primeiro lugar, com larga vantagem, para O Pistoleiro, de Stephen King. Gostaria imensamente de agradecer a todos que votaram, principalmente a quem justificou o voto.

Porém, quero antecipadamente me desculpar, e dizer que não lerei este livro, por enquanto. Um dos motivos é a recomendação do Mário Carneiro Jr, sobre ler O Pistoleiro apenas se eu for continuar a acompanhar a série A Torre Negra. Concordo com ele, e honestamente, não sei se tenho pique para uma jornada tão grande de Stephen King assim, hoje em dia.

A outra razão é que, neste período em que se realizou a votação, acabei relendo um dos meus livros favoritos: O País de Outubro, de Ray Bradbury. Aliás, este ano priorizei releituras, e é algo que recomendo. Na segunda vez que você lê o mesmo livro é possível se familiarizar mais com o texto e com o autor - e a leitura sai bem mais rápida e eficaz.

E relendo esta maravilha, me toquei de que eu já havia deixado de lado, há muito tempo, de ter contato com o tio Ray, que é meu autor predileto. Um absurdo! Portanto, fiquei com muita vontade de ler (e reler) mais e mais contos dele.

Assim, tomei uma decisão. Minha resolução de fim de ano é fazer de 2011 o "Ano Ray Bradbury". A ideia de ler apenas um autor durante um ano pode parecer enfadonha, mas veja só quantos desafios adoráveis envolvendo o autor eu terei:

- Finalizar leituras inacabadas (As Crônicas Marcianas);
- Ler seu livro mais conhecido, que eu até tenho vergonha por ainda não ter lido (Farenheit 451);
- Reler o favorito da minha biblioteca (Dandelion Wine);
- Revisitar meu primeiro contato com o autor (O Homem Ilustrado);
- Descolar Dark Carnival, a estreia do autor (que provavelmente terei que ler em Inglês).

É isso aí! Espero receber alguns comentários de incentivo para esta tarefa, pois são tantos livros interessantes de outros autores, que certamente a tentação de não cumprir minha resolução será muito grande. Conto com vocês, portanto. Em troca, vou postando no blog minhas impressões sobre cada livro, ok? E se alguém quiser me acompanhar no desafio, será muito bem vindo. Tenho certeza que, depois de ler Ray Bradbury, sua vida não será mais a mesma.

Grande abraço, e bons sonhos!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

F**k Me, Ray Bradbury

Dias atrás me deparei com uma das mais inusitadas homenagens que um fã já fez a um escritor. "Fuck Me, Ray Bradbury" é o clip de uma canção pop criada pela humorista Rachel Bloom, para homenagear o - segundo ela mesma - "melhor autor de ficção científica da história".

Apesar de ser um trabalho muito bem humorado e sensual, não pude conter as lágrimas por saber que uma jovem de 23 anos nutre tanto amor pelo escritor - que também é o meu favorito.

E como se não bastasse, o video acaba sendo um elogio à leitura, em oposição ao culto do corpo. Em algumas entrevistas, Rachel Bloom disse que não entende como os atores de cinema podem ser mais desejados do que os escritores, já que estes são capazes de criar mundos.

Na canção, Rachel interpreta uma adolescente que se recusa a sair com um rapaz à noite, e prefere ficar em casa, lendo. Os livros do escritor conseguem dar a ela mais prazer (literalmente) do que o carinha de carne e osso, e ela então desenvolve uma tara especial pelo velhinho. A letra faz referências a vários títulos de Bradbury, como The Halloween Tree, S is for Space e Dandelion Wine, entre outros.

O trecho que me fez chorar foi o que ela diz que "desde os 12 anos é sua fã número 1", e em seguida completa como "kiss me, you Ilustrated Man". Puxa, eu só não sou fã de Bradbury desde os 12 anos porque fui conhecê-lo mais tarde (apesar de me sentir como um menino toda vez que leio seus contos), e o primeiro livro que li dele foi justamente O Homem Ilustrado.

Depois do enorme sucesso do video no Youtube, Rachel conheceu pessoalmente seu ídolo, que disse ter gostado muito do clip (e quem não gostaria?) e a presentou com uma edição especial de As Crônicas Marcianas.

Espero que essa história ajude os jovens a ver que ler pode ser mais sexy que qualquer outra coisa. E que faça o velho Ray, hoje com 90 anos de idade, viver pelo menos mais uns 10.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Raízes do Mal (Evil)

Eu gostaria de indicar um filme muito bom que assisti hoje, chamado Raízes do Mal (Evil). Trata-se de uma produção dinamarquesa, de 2003, que foi indicada ao Oscar de filme estrangeiro. É o trabalho de estreia do cinesta Mikael Håfström, que mais tarde dirigiu 1408, baseado no conto de Stephen King.

Raízes do Mal é sobre Erik Ponti (Andreas Wilson), um adolescente de 16 anos acostumado a tratar todos com brutalidade, devido aos maus tratos de seu padastro. Depois de ser expulso da escola onde estudava, é transferido para Stjärnberg, um famoso colégio interno privado. Sabendo que pode ser sua última oportunidade, Erik tenta mudar seu estilo de vida para adaptar-se ao lugar, mas logo ele descobre que está preso em um verdadeiro inferno.

O terror, neste caso, é representado pelos alunos mais antigos, que subjugam os novatos. Neste filme está um dos mais terríveis vilões do cinema, na figura do deplorável Silverhielm - um veterano intocável no colégio, capaz das mais terríveis atitudes para humilhar os recém-chegados.

Bastante violento e emocionalmente exaustivo, Evil ainda promove uma profunda reflexão sobre a honra, o respeito e a coragem. Certamente é o melhor trabalho de Mikael Håfström, muito bem dirigido e roteirizado, que lembra um filme de terror - o que deve explicar seu posterior envolvimento com a adaptação de 1408.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Switch Bitch (Roald Dahl)

O autor Roald Dahl é, para mim, um dos exemplos máximos de aproveitamento do cérebro humano para escrever histórias. Mais conhecido por seus livros infantis, como A Fantástica Fábrica de Chocolates, Dahl sempre demonstrou um lado macabro e de humor negro em seus contos, mesmo quando escrevia para crianças. Mas ele também escreveu para adultos.

Quando me refiro à literatura adulta de Dahl, não quero dizer que ele escreveu livros eróticos, mas sim histórias igualmente macabras, inteligentes, com humor negro e extremamente divertidas − com a diferença de serem dirigidas ao público adulto. Quem tiver curiosidade pode ler sua coletânea Beijo com Beijo (lançada mais recentemente apenas como Beijo).

Porém, Roald Dahl escreveu, sim, um livro mais safadinho, que se aproxima da literatura erótica. Mas sem deixar de ser macabro, com humor negro e brilhante! Estou falando de Switch Bitch, uma coletânea de quatro novelas produzidas com o estilo único de Dahl, mas todas com teor sexual – sendo que algumas foram até publicadas na Playboy.

Na primeira, The Visitor, somos apresentados a um dos mais intrigantes personagens já criados pelo autor. Tio Oswald é um milionário bon vivant, já de certa idade, que está na Síria quando alguns eventos inesperados o colocam como hóspede no palácio de um sheik. Bastante competitivo consigo próprio, Oswald sente-se atraído tanto pela esposa como pela filha adolescente do seu anfitrião, e decide que irá dormir com uma delas. Quem conhece as histórias adultas do escritor já pode imaginar que o final será no mínimo inesperado, chocante e com humor negro.

A segunda história é The Great Switcheroo, possivelmente a mais erótica do livro, e não menos inteligente. Acompanhe comigo: dois vizinhos de meia idade combinam, em segredo, trocar de esposas por uma noite. Mas sem que elas saibam! Por várias semanas eles elaboram um plano para que possam agir sem que cada esposa desconfie que dormirá com o marido alheio. É um plano muito elaborado e arriscado, que envolve conhecer muito bem os cômodos da casa do outro, bem como os hábitos sexuais do comparsa. Toda a história, desde o início, é de fazer grudar os olhos no livro e não desgrudar mais até a última linha. E o final é maravilhoso, como não poderia deixar de ser, vindo da mente que o criou.

The Last Act é um conto que, pelo menos de início, tem um tom mais dramático. Narra a história de Anna, uma mulher que começa a ter tendências suicidas após perder o marido em um acidente de carro. Mas depois de resolver dar uma virada em sua vida, faz uma viagem a negócios e resolve ligar para um antigo ex-namorado do tempo da escola. Ela descobre que o sujeito ainda é bonitão e está divorciado e muito bem sucedido, e acaba aceitando passar a noite com ele depois de alguns drinks. Porém, aos poucos vamos percebendo que ele ainda guarda algum tipo de mágoa e desequilíbrio mental desde a época em que Anna desistiu do namoro.

E finalmente o livro fecha com chave de ouro, com a hilariante Bitch. Aqui, novamente nos encontramos com o Tio Oswald, da primeira história, mas quando ele era um pouco mais jovem. Desta vez o simpático e excêntrico milionário resolve patrocinar a criação de um perfume que despertaria um incontrolável desejo sexual em quem quer que o cheire. Assim, depois de elaborada a fórmula perfeita, o protagonista resolve não apenas usar o perfume para atrair mulheres para si, mas também para colocar em prática um audacioso plano: envolver o presidente dos Estados Unidos em um constrangedor episódio de caráter sexual. Depois de cheirar o perfume, o homem mais poderoso do mundo atacaria uma senhora obesa diante de centenas de convidados em um baile. Final irônico e perfeito.

O safadinho Switch Bitch é um dos livros mais divertidos que já li, e ainda calha de ser, ao mesmo tempo, um dos mais inteligentes. A má notícia é que nunca foi lançado no Brasil. Mas se você for bom em Inglês, não deixe de conferir esta maravilha. E caso não o seja, aproveite para adquirir uma cópia de Beijo, ou Beijo com Beijo (Kiss Kiss), o único dos livros adultos de Roald Dahl lançado em nosso país.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Fúria (Rage), de Stephen King

Finalmente li Fúria (Rage), uma das histórias mais antigas de Stephen King, publicada sob o pseudônimo de Richard Bachman. O fato mais curioso a respeito deste trabalho é que sua publicação está proibida pelo próprio autor. Mas o que há de tão polêmico nesta noveleta?

Fúria é sobre o adolescente Charles Decker, aluno do colegial que vai armado para a escola, mata dois professores e mantém uma classe de mais de 20 alunos como reféns. O drama lembra vários casos reais que aconteceram nos Estados Unidos recentemente, e o livro poderia inspirar novos massacres − daí seu banimento. Porém, esta não é, nem de longe, uma das histórias mais violentas de King. Seu maior problema é de ordem moral.

Confesso que gostei do conto, mas como a maioria dos trabalhos do autor, há pontos baixos. E o principal problema que observei diz respeito à verossimilhança da história. Bem, eu não sei o que aconteceria de verdade caso algum adolescente mantivesse minha turma como refém, mas achei um pouco forçados, por exemplo, os momentos em que alguns estudantes, inspirados pelo sequestrador, começam a narrar suas experiências sexuais para a classe.

Mas a ideia de King foi interesante: usar aquela situação, de um grupo de jovens problemáticos entre quatro paredes, sem a presença autoritária de um professor, para realizar uma terapia em grupo e lavar a roupa suja. O problema está nos momentos em que a tranquilidade deles não condiz com o fato de terem acabado de ver dois professores sendo assassinados por um colega e de estarem sob a mira de um revólver.

Quem leu O Nevoeiro vai achar o eixo da história bem semelhante. Pois, assim como naquele conto, Fúria mostra o que pode acontecer com um grupo de humanos enquanto estão presos em um mesmo cenário e sob uma perigosa ameaça. O terror não está no elemento estranho que comanda a situação, mas sim no comportamento das vítimas.

Assim como em O Nevoeiro o Mal era representado não pelos monstros, mas por uma fanática religiosa, em Fúria não é o jovem armado que é o vilão, mas sim Ted Jones, um dos reféns. Bonitão e metido a galã, Jones é o único que parece não compreender a ação de Charlie, e é ele quem pode tentar dominar o sequestrador e acabar com a festa.

Até aí tudo bem, pois King realmente consegue fazer com que Ted pareça o vilão. Principalmente porque ficamos conhecendo os dramas pessoais de Charlie Decker, e o encaramos não como um psicopata assassino, mas como um jovem comum, cheio de problemas familiares e com poucos amigos - que poderia ser qualquer um de nós.

O problema é que o conto sugere que a atitude do protagonista é justificável, e que ele fez um bem a mais de vinte colegas ao entrar naquela sala de aula com uma arma.

Além disso, ao retratar praticamente todos os adultos da história como pessoas estúpidas e cheias de defeitos de caráter, King soa maniqueísta. Ele praticamente converte o verdadeiro bandido da história em um simpático e corajoso herói adolescente.

E a turma que está sob sua mira não fica muito acima em termos de moralidade, pois nenhum dos estudantes parece se importar muito com o fato da professora ter sido baleada na frente deles. Durante todo o conto o corpo dela fica caído no chão, e ninguém, em nenhum momento, tenta conferir se ela realmente morreu. Preferem, ao invés disso, ficar revelando os segredos sujos dos outros, rindo e se xingando.

E apesar de King investir na tensão conforme o final da história se aproxima, o leitor não teme muito pela segurança dos reféns. O único dos alunos naquela sala que corre o risco real de ser baleado é Ted Jones, a quem já odiamos desde o início. Mas quanto aos outros alunos, parece ficar claro que Charlie não tem a intenção de matá-los; e mesmo que o fizesse, não sentiríamos falta deles. Mas de qualquer forma, é impossível largar o livro antes de saber que fim terá aquela situação, e qual será o destino de Charlie.

Enfim, Fúria é um bom conto, mas escrito por um jovem e ainda imaturo Stephen King. A melhor forma de classificar a história é como “inconsequente”, o que a torna bastante perigosa se for lida por algum idiota capaz de pegar uma arma e invadir uma escola para mostrar que é inconformista e revolucionário.

Muito mais chocante e violento é o conto Caim Rebelado, do livro Tripulação de Esqueletos. Este, sim, retrata um massacre em uma escola, cometido por um jovem com um rifle. Conto que, curiosamente, não foi banido nem sofreu qualquer tipo de censura pelo autor.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dicas para concursos de contos

Neste ano tomei uma decisão difícil: resolvi desistir de participar do concurso de contos da Associação de Escritores de Bragança Paulista – o mesmo que eu já venci por duas vezes, e que desta vez pagaria R$ 2.000 ao vencedor (nas edições anteriores não havia premiação em dinheiro). Desde 2003 eu vinha participando de todas as edições, nas quais obtive duas vitórias e duas menções honrosas. Mas meu motivo para a desistência foi importante: eu aceitei participar como jurado do concurso!

Foi uma experiência enriquecedora, mas enquanto alguns contos me deram muito prazer ao lê-los, outros desafiaram minha paciência.

Analisando os maiores problemas que observei, resolvi elaborar algumas dicas para que os candidatos se saiam melhor nas próximas tentativas. Espero que seja útil!

1- Cuidado com a gramática.
Cansei de ver erros grosseiros de ortografia, sendo que o mais comum é a falta de senso ao usar vírgulas. Nenhum jurado vai querer dar o primeiro lugar a um conto que tenha esse tipo de problema, mesmo que seja uma ótima história. Portanto, se você tiver alguma dúvida sobre como escrever uma palavra ou frase, use o dicionário, ou uma gramática. Se a dúvida persistir, encontre outra maneira de dizer o que pretende.

2- Economize.
Não perca tempo descrevendo aspectos físicos e a roupa dos personagens, a não ser que isso seja importante para a lógica da história. Não é preciso nem citar o nome da cidade onde se passa a trama, e nem mesmo o do protagonista, caso não seja essencial. Todas essas nominalizações e descrições desnecessárias passam a ideia de que o autor só está enchendo linguiça. O que importa no conto é o fato que está sendo narrado. Na verdade, tudo o que não for extremamente necessário deve ser limado do texto. Por que levar seu personagem até certo lugar, se aquilo não vai levar a história adiante?

3- Não encha de diálogos.
Na dúvida, não escreva diálogo algum, porque na maioria das vezes eles só estragam o conto. Eles precisam ser curtos, diretos, relevantes e ter profundidade: de preferência as falas devem possibilitar mais de uma interpretação, apontando para aspectos psicológicos do personagem, senão correm o risco de parecerem tolas.

4- Aprenda a digitar um travessão.
Um erro muito mais comum do que eu imaginava.
− Isto é um travessão.
_ Isto aqui não é!

5- Não tente parecer sábio e intelectual.
Evite palavras difíceis e divagações filosóficas. Um conto narra um fato. Ninguém quer ler sobre crises existenciais, problemas sociais e conflitos de personalidade se isso não vier no corpo de uma bela história, com personagens interessantes, surpresas na narrativa e uma narração envolvente. Eu não tive dúvidas: dei notas baixas a todos os textos que me deram sono.

6- Leia o regulamento dos concursos.
Tivemos que desclassificar vários participantes que enviaram menos cópias do que foi solicitado, ou que ultrapassaram o limite de caracteres estabelecido. Teve até quem mandou poema, sendo que o concurso era de prosa.

7- Seja original.
Não imite, não copie e nem pense em plágio.

8- Seja verossímil.
Cansei de me desapontar com contos porque narravam coisas decididamente impossíveis. Note que uma história pode trazer máquinas do tempo, monstros de nove cabeças, sapos falantes e ainda assim ser verossímil. Mas se um personagem traz um pensamento ou comete um ato que não combina com o contexto, isso pode fazer o conto parecer idiota. E o autor também.

9- Cultive a simplicidade.
Às vezes é difícil colocar no papel uma ideia mais complexa, e isso pode levar o leitor a não compreender muito bem o que está lendo. Se você for menos ambicioso, terá mais chances de atingir o coração do leitor.

10- Capriche no começo e no final do conto.
Principalmente no final. Se o início foi empolgante, faça o leitor entender que aquilo era só uma pequena amostra do que viria no fim da história. Acabe dando uma porrada no leitor, ou então fazendo ele chorar, ou deixe-o com raiva. Faça alguma coisa que mexa de verdade com as emoções de quem leu sua história, como se fosse um tiro de misericórdia, de modo que ele pense “Puxa, valeu a pena ler este aqui!”.

E por fim, aproveite a chance da sua vida. Se você vai escrever um conto, mesmo que de poucas páginas, procure investir bastante neste curto espaço. Crie uma narrativa bem elaborada, com começo, meio e fim. Não desperdice papel com uma porcaria, sendo que há dentro de você a vontade e a capacidade de contar uma bela história.

A escolha

Olá, amigos. Em breve iniciarei a leitura de mais um livro, mas eu sinceramente não sei qual. Na minha estante há vários que comprei, ou troquei, e que ainda não tive a chance. Gostaria, portanto, de uma ajudinha de vocês.
Para isso, responda a enquete no canto direito do blog. E depois pode postar um comentário, justificando a escolha.
Obrigado!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tripulação de Esqueletos - parte II


Depois de fazermos uma pequena escala, vamos continuar nosso voo rumo ao desconhecido, com a nossa tripulação de esqueletos. E o próximo conto do livro é:

Um Mundo de Praia (Beachworld)
Aqui podemos dizer que é o primeiro ponto baixo da obra. É uma história de ficção científica, sobre uma aeronave que faz um pouso forçado em um planeta estranho, e cujos tripulantes começam a enlouquecer. É lentíssimo, de dar sono. Bem que poderia ter ficado de fora da coletânea. Mas tudo bem: se você passar por essa pequena tortura, você está preparado para uma das mais horripilantes histórias do autor, que é...

A Imagem do Ceifador (The Reaper´s Image)
Junto com O Macaco, este é o outro conto de King que me fez ficar sem sono à noite. Aqui ele nos apresenta a um amaldiçoado espelho de um museu, no qual algumas pessoas podem enxergar a imagem da Morte. É mais um dos textos que ele escreveu na adolescência, provando que desde cedo já era bom em saber assustar.

Nona (Nona)
Não é das minhas preferidas, mas é interessante por trazer, como coadjuvantes, dois personagens de O Corpo (ou do filme Conta Comigo): Vern Tessio e Ace Merril. É sobre um jovem que, depois de conhecer uma estranha garota chamada Nona, junta-se a ela e passa a cometer vários crimes pelas estradas. Uma espécie de Assassinos Por Natureza adolescente, com toques sobrenaturais.

Para Owen (For Owen)
Outro poema da coletânea, que foi escrito para o filho de King. Mostra o pai levando o pequeno Owen para a aula, e no caminho o menino descreve uma escola frequentada por frutas.

Tipo de Sobrevivente (Survivor Type)
A história que o próprio King admite ter ido longe demais. Narrado na forma de um diário, é sobre um médico que, após um naufrágio, vai parar sozinho em uma ilha deserta, carregando um pacote de heroína e nenhuma comida. Depois de ferir gravemente o tornozelo e não poder mais andar, decide amputar e comer o próprio pé. Mas mesmo depois disso, a fome continua...

O Caminhão do tio Otto (Uncle's Otto Truck)
Otto Schenck é um recluso que acredita que seu velho caminhão abandonado, que carrega uma maldição, poderá avançar sobre ele para matá-lo. Lembra o romance Christine.

Entregas Matinais (Morning Deliveries)
Conto estranho e macabro, sobre um leiteiro que faz suas entregas com alguns “presentinhos” para seus simpáticos clientes, como veneno e aranhas nas embalagens onde deveria haver apenas leite e manteiga.

Carrão: Uma Historia de Lavanderia (Big Wheels:Tale of the Laundry Game)
Conto intimamente ligado ao anterior, que traz novamente o leiteiro psicopata. O leitor pensa: “Caramba, achei que esse cara não ia mais aparecer, e ele invade um conto que nem era dele!”. Foi uma boa sacada de King, prolongando o terror da história anterior e entregando para o leitor uma conclusão mais satisfatória.

Vovó (Gramma)
Como se não bastasse O Macaco e A Imagem do Ceifador para me roubar o sono, o livro ainda traz este assustador conto que me deixou sem dormir por algumas noites. Adaptado para a TV na série Além da Imaginação (na versão dos anos 80), nos apresenta a um menino de 11 anos deixado sozinho em casa com a avó moribunda. Até aí tudo bem: esta é, inclusive, uma trama bem parecida com o segmento de O Cemitério que envolve a personagem Zelda, lembram? Mas aqui há um agravante: a velha, além de assustadora por si só, é praticante de bruxaria e tem parte com o capeta. Os trechos em que o menino é obrigado a ir até o quarto onde ela está deitada são de fazer suar frio. E o final é bem inesperado e medonho. O conto é ótimo, mas o episódio da série não fica muito atrás. Está disponível no Youtube.

A Balada do Projétil Flexível (The Ballad of the Flexible Bullet)
História interessante, sobre um autor que acredita escrever bem graças às pequenas criaturas que vivem dentro de sua máquina de datilografar. É muito boa a construção do suspense e da descida do protagonista rumo à insanidade.

O Braço de Mar (The Reach)
E o livro termina neste melancólico e sobrenatural conto sobre Stella Flanders, uma senhora que, com a proximidade da morte, começa a relembrar seu passado e a ouvir seu falecido esposo com cada vez mais frequência. Possui uma atmosfera gótica e poética, que evoca clássicas histórias de fantasmas, como O Morro dos Ventos Uivantes e A Volta do Parafuso. Segundo King, a inspiração para o conto veio de uma personagem real: uma idosa que viveu toda a vida em uma pequena ilha do Maine, sem nunca ir até a costa.

E é assim que a viagem chega ao final, caros passageiros. Podem tirar o cinto de segurança!

Tripulação de Esqueletos possui 22 trabalhos de King, incluindo notas do autor sobre cada um deles. É ou não é uma excelente coletânea, indispensável para qualquer fã? E não custa repetir: é um dos livros mais assustadores dele. Boa leitura!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tripulação de Esqueletos

Tripulação de Esqueletos (Skeleton Crew), lançado em 1985, foi um dos livros mais vendidos nos anos 80, e é uma das obras básicas para os fãs de Stephen King. Particularmente, este foi o único livro do autor que me deixou com medo, mas não é só por isso que ele é importante. Na verdade trata-se de uma coletânea que inclui contos, poemas e até um romance curto entre suas páginas. Ou seja, ele tem bastante energia de King investida, capaz de divertir o leitor por muitas e muitas horas.

Como veremos, alguns dos trabalhos incluídos no livro foram adaptados para o cinema e para a televisão. Sem mais delongas, vamos seguir viagem rumo ao assustador mundo de Tripulação de Esqueletos:

O Nevoeiro (The Mist)
O livro já começa arrebentando, com a história de um grupo de pessoas presas em um supermercado, ameaçadas pelas perigosas criaturas envoltas na misteriosa neblina que avança sobre a cidade. Publicada previamente na revista Dark Forces, em 1980, foi substancialmente modificada para o livro. É difícil decidir se O Nevoeiro é um romance curto ou um conto longo, mas o cineasta Frank Darabont não teve dúvida nenhuma ao transformar a narrativa em um dos melhores filmes de terror que se tem notícia, em 2008, e com um final diferente. Segundo King, a ideia para a história surgiu quando ele e seu filho foram ao supermercado logo depois de uma tempestade que causou um nevoeiro intenso na cidade – mas não há provas de que havia criaturas monstruosas nele.


Aqui Há Tigres (Here There Be Tygers)
Este conto curtinho é um dos mais antigos de King, escrito quando ele estava no colegial e publicado na revista Ubris, em 1968 (quando o autor tinha 21 anos, portanto). Narra o dia em que um garoto, em sala de aula e apertado para urinar, pede para a mal humorada professora para ir até o banheiro. No caminho ele se depara com algo bem inesperado e perigoso, e é quando vemos muito daquele humor macabro de King, que nos faz rir e suar frio. “Here There Be Tygers” é uma alusão ao aviso “Here There Be Dragons”, usado por cartógrafos na Idade Média para alertar sobre territórios inexplorados nos mapas. No filme A Metade Negra, uma personagem vê uma história bem parecida com a do conto. E há um conto de ficção científica de Ray Bradbury com o mesmo título.

O Macaco (The Monkey)
Só mesmo o talento do autor para explicar como ele conseguiu usar um brinquedo ridículo para escrever um dos contos mais assustadores de sua carreira. Na história, um daqueles irritantes macaquinhos de plástico, que ficam batendo dois pratos, causa a morte do infeliz que ouvir as batidas. Foi adaptado pelo próprio King como um episódio da série Arquivo X, mas de forma maquiada: lá o brinquedo deixou de ser um macaco e foi substituído por uma boneca. Particularmente, esta foi uma das poucas histórias de King que me fizeram perder o sono.

Caim Rebelado (Caim Rose Up)
Outra das histórias do autor escritas no seu tempo de garoto. Poderíamos dizer que King deve ter encontrado dias ruins na escola, e usou a literatura para canalizar suas frustrações. Mas este conto é baseado na história de Charles Withman, um estudante que, em 1966, disparou seu rifle na universidade do Texas, matando 16 pessoas e ferindo 32. Vários elementos da trama podem ser vistos no livro Rage, que King escreveu sob o pseudônimo de Richard Bachman, e que hoje não é mais impresso, devido às semelhanças com os casos reais de chacinas em escolas americanas. O conto é forte, como um tiro certeiro em direção ao leitor.

O Atalho da Sra. Todd (Mrs. Todd’s Shortcut)
Um dos meus contos favoritos do livro, sobre uma mulher obcecada por encontrar atalhos, até que começa a descobrir caminhos alternativos que encurtam suas viagens de forma impossível. Possui um impagável clima de Além da Imaginação.

A Excursão (The Jaunt)
E por falar em Além da Imaginação, a história seguinte foi justamente publicada na Twilight Zone Magazine, em 1981. É um conto de ficção científica, com terror. No século 24 é possível viajar grandes distâncias por teletransporte, mas o passageiro precisa estar inconsciente durante o procedimento, ou as consequências podem não ser nada agradáveis. É claro que algum personagem curioso vai querer descobrir isso na prática, e o que temos é um dos pontos altos da nossa viagem junto à Tripulação de Esqueletos.

A Festa de Casamento (The Wedding Gig)
King traz uma história que se passa no mundo da máfia, durante a Lei Seca. É interessante a construção e o crescimento da tensão neste conto, que vai aos poucos preparando o leitor para o dramático e caótico ato final. É um exemplar do terror real, onde as criaturas monstruosas são os próprios humanos.

Paranóico: Um Canto (Paranoid: A Chant)
Um poema de Stephen King. Isto mesmo, um poema (e não é o único do livro). Traduzido, ele perde as rimas e o ritmo do original, mas ainda assim vale como uma história claustrofóbica sobre a mente perturbada de um esquizofrênico, que acredita ser observado 24 horas por dia por pessoas que querem matá-lo. Foi transformado em um curta, que pode ser assistido no Youtube.


A Balsa (The Raft)
História que já foi levada ao cinema, como um dos segmentos de Creepshow 2, mas com final diferente. Apresenta quatro jovens que vão nadar em um lago e são atormentados por uma estranha mancha de óleo canibal (!). No livro, King conta um caso interessante: ele havia escrito uma versão um pouco diferente da história, chamada The Float. Pouco depois de conseguir um contrato para publicá-la na revista Adam, em 1969, ele foi preso em uma pequena cidade do Maine, por retirar da estrada alguns cones de sinalização, depois que um deles danificou seu carro. Naquele momento, King não tinha em mãos os $ 250 para pagar a fiança e teria que passar 30 dias na prisão. Foi exatamente quando ele recebeu, pelo correio, o cheque pela publicação de The Float – evento que ele chamou como “receber uma verdadeira carta Saia da Prisão”, em referência ao jogo Banco Imobiliário. Apesar do fato, ele nunca conseguiu achar uma cópia da revista que traria o conto.


O Processador de Palavras dos Deuses (Word Processor of the Gods)
Nos anos 80 uma das poucas coisas que os computadores faziam era servir para digitação (algo como se, hoje em dia, o único programa que você pudesse usar em seu notebook fosse o Word). Por isso eram chamados de “processadores de texto”, e também eram grandes e lentos. Com isso, King criou uma interessante história sobre um computador que pode criar tudo aquilo que for nele digitado, e apagar do mundo real as palavras que forem por ele deletadas. É claro que um personagem que tem uma esposa e um filho horríveis, e que recentemente perdeu o sobrinho brilhante (inventor da máquina) vai fazer bom uso deste processador. Foi adaptado para a TV na série Tales From the Darkside, de 1984.


O Homem Que Não Apertava Mãos (The Man Who Would Not Shake Hands)
Com profundas ligações com o segmento O Método Respiratório, do livro Quatro Estações, este é um conto de terror de estilo clássico. Será que você consegue descobrir o motivo que leva aquele homem a nunca apertar as mãos de ninguém? É óbvio que não é apenas por falta de educação! Conto inspirado no universo da história A Pata do Macaco, de W.W. Jacobs.

A viagem está empolgante, não? Você está confortável em sua poltrona? Pois agora a tripulação quer fazer um lanchinho rápido (cuidado, pois eles podem querer comer você!) e vamos fazer uma pequena parada. Nossa assustadora jornada termina no próximo post do Grafias Noturnas. Clique aqui.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Promoção Stephen King II - Tripulação de Esqueletos

Conforme vocês mesmos escolheram através da enquete, o livro a ser sorteado em dezembro no blog Grafias Noturnas será Tripulação de Esqueletos, de Stephen King.
Para participar, desta vez será preciso:
1) Ser seguidor do blog;
2) Ser meu seguidor no Twitter: @grafiasnoturnas (É o mesmo twitter que eu usava antes, apenas mudei o nome. Quem já me seguia no @luizrie permanece como seguidor deste)
3) E dar RT na divulgação desta promoção (ou divulgar o link deste post).

O sorteio será realizado na primeira semana de 2011.
No próximo post vamos tratar detalhadamente deste grande livro de contos do mestre do horror. E afinal, por que Tripulação de Esqueletos é uma das obras mais importantes de King?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Resultado da promoção (agora é sério)

Olá, pessoal! Agora, sim, chegou a hora de conhecermos o ganhador do livro A Dança da Morte, de Stephen King, que o blog Grafias Noturnas sorteou sem nenhum patrocinador. O livro, portanto, era da minha coleção pessoal, da qual estou me desfazendo aos poucos, através de sorteios.

Antes de tudo, deixo aqui um agradecimento enorme a todos que participaram. Com esta promoção pude notar melhor o amor que, como eu, vocês nutrem pelo mestre Stephen King.

E também quero dizer que ainda teremos mais uma promoção em 2010, e que são vocês que decidirão qual será o prêmio (vote na enquete aqui ao lado direito). Assim, se você não teve sorte agora, não desanime: fique esperto!

Chega de mistério. O vencedor - na verdade, vencedora - do livro é a Giuliana Martins, de Curitiba - PR. Parabéns!

Parabéns também para a Alana, que ganhou o livro Grafias Noturnas (de minha autoria), conforme já foi divulgado no post anterior.

Amanhã os prêmios seguem pelos Correios.

Um abraço, e bons sonhos!

Resultado da promoção (atualizado)

UPDATE

Creio que todos os leitores deste blog, como grandes fãs de Stephen King, devem adorar aquele suspense de roer as unhas, não é? Você está com o coração saltando pela boca? Suor escorrendo pela testa? Mãos tremendo?

Pois saiba que o Grafias Noturnas não se responsabiliza por quaisquer danos físicos ou mentais causados em seus seguidores!

Ok, mas como não sou tão cruel assim, vou parar de fazer tortura.

Já temos o nome do sorteado (ou sorteada).

E o sortudo (a) que ganhou o livro Grafias Noturnas, de autoria deste que vos escreve, é...

...

É uma mulher!

E o nome dela é...

(tchãn tchãn tchãn tchãn)

Alana Romano Silveira (vulgo: Vulnavia Phibes), de Três Marias - MG

Parabéns!!!

E não esqueçam! Ainda hoje será realizado o sorteio do livro A Dança da Morte, de Stephen King (ok, eu sou cruel mesmo!)

Até loguinho!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dossiê Stephen King no cinema parte III (1995-2010)

The Mangler (1995)

Dirigido pelo célebre Tobe Hooper (de O Massacre da Serra Elétrica) e estrelado por Robert Englund (o Freddy Krueger), o conto The Mangler já tinha uma premissa ridícula, sobre uma máquina industrial de dobrar roupas possuída pelo demônio (!). Mas o filme consegue ser pior, revelando-se uma comédia involuntária. Teve uma arrecadação pífia nos cinemas, mas de tão engraçado, o tempo o está transformando em cult.


Eclipse Total (1995)

Depois do Oscar por Louca Obsessão, a atriz Kathy Bates volta para o universo de King, neste drama de suspense baseado no livro Dolores Clairbone, comandado por Taylor Hackford - diretor que, dois anos depois, faria O Advogado do Diabo. Foi bastante elogiada pela crítica esta história de uma jovem que volta para sua pequena cidade natal, onde sua mãe foi presa acusada de matar uma velha para quem ela trabalhava como empregada. Na época do lançamento, só mesmo os fãs sabiam que era baseado em King, pois é mais um daqueles filmes dramáticos, que fogem do habitual entre suas adaptações.


A Maldição (1996)

Baseado no romance A Maldição do Cigano, o filme tem uma premissa interessante, sobre um sujeito obeso que passa a ficar cada dia mais magro, e descobre que isso vai seguir até ele desaparecer. Os primeiros dois terços até são legais, mas a qualidade desse filme não condiz com outros do mesmo diretor Tom Holland, como A Hora do Espanto e Brinquedo Assassino. Se realmente tivesse sido desenvolvido por Steven Spielberg, como havia um projeto no início dos anos 90, certamente teria ficado melhor.


Voo Noturno (1998)

Apesar de relativamente pouco conhecido, e comandado por um diretor mais desconhecido ainda (Mark Pavia), este filme é considerado por fãs como uma das melhores adaptações do autor – inclusive mantendo o caráter pouco simpático do protagonista, como era na história original. Baseado em um conto de Pesadelos e Paisagens Noturnas, apresenta um vampiro piloto de avião que, entre um pouso e outro, toca o terror com as vítimas. Dos filmes menores, é um dos mais interessantes.


O Aprendiz (1998)

No segmento Aluno Inteligente, do livro Quatro Estações, um garoto descobre que seu velho vizinho é um procurado ex-carrasco nazista, que vive escondido sob um nome falso. Uma adaptação para o cinema começou a ser filmada em 1987, mas depois de já haver 40 minutos de material pronto, o projeto teve que ser abandonado por falta de recursos. Todo este curioso projeto dos anos 80 é cercado de muito azar, pois dois atores escalados para viver o nazista morreram durante as negociações. E um ano após a interrupção das filmagens, em 1988, os produtores até tentaram aproveitar o trabalho pronto e retomar o projeto, só que o ator que faria o garoto, que tinha 17 anos, já havia crescido demais e estava muito diferente. Ou seja, todo o serviço foi realmente perdido. Mas em 1995, quando os direitos do texto voltaram para King, Bryan Singer (que mais tarde faria X-Men) procurou o autor para adquiri-los, e finalmente o filme saiu do papel. Bastante elogiado, e vencedor de algumas premiações, o Apt Pupil de Bryan Singer diminuiu a violência do conto e acabou se transformando em um filme um tanto lento. Ainda assim, só a atuação de Ian McKellen já faz o resultado valer uma conferida.


À Espera de um Milagre (1999)

Frank Darabont repete a fórmula de Um Sonho de Liberdade, adaptando mais esse drama de prisão, baseado em uma série de pequenos livros que, mais tarde, foram lançados como um romance. Fez enorme sucesso de bilheteria e foi indicado a quatro Oscar, incluindo o principal. É o filme preferido de muita gente.


Lembranças de um Verão (2001)

Simpática adaptação da noveleta Hearts In Atlantis. Tem Anthony Hopkins no papel de um misterioso forasteiro que muda a vida de um menino e de sua mãe viúva. O diretor foi Scott Hicks, que já havia sido indicado ao Oscar por Shine - Brilhante em 96. É uma história bem sentimental, daqueles que fazem chorar no fim, mas que também tem seu lado fantástico. Quanto à relevância da obra, os críticos se dividem, mas os fãs de King adoraram.


O Apanhador de Sonhos (2003)

Famoso por ter sido o livro que King escreveu quando se recuperava de um atropelamento, é possível que Dreamcatcher tenha sido levado às telas para se aproveitar da publicidade que recebeu na época. Dirigido pelo oscarizado Lawrence Kasdan, a produção teve, de longe, o mais alto orçamento entre todas as adaptações do autor ($ 68 milhões) e contou com grande elenco. Porém, tenta narrar em duas horas uma história de quase 900 páginas, incluindo a amizade de um grupo de amigos da infância até tornarem-se adultos, os super-poderes que desenvolvem, a relação dos personagens com um menino deficiente que se revela paranormal, e um ataque alienígena. O material era próprio para uma trilogia, mas essa salada toda em apenas um filme ficou indigesta, e O Apanhador de Sonhos foi outra decepção nas bilheterias.


Janela Secreta (2004)

Um escritor é assombrado por um caipira que o acusa de plágio. Foi dirigido por David Koepp (mais famoso como roteirista de filmes como Homem Aranha e O Quarto do Pânico) e estrelado por Johnny Depp e John Turturro, sendo que este foi indicado ao Oscar como melhor ator coadjuvante. Uma das melhores adaptações, e entre as mais altas bilheterias arrecadadas. Baseado em um segmento do livro Depois da Meia-Noite.


Montado na Bala (2004)

Publicado mais tarde no livro Tudo É Eventual, de 2002, o conto Montado na Bala ficou famoso em 2000, por ter sido o primeiro trabalho literário a ser comercializado por via digital (o leitor fazia o download de um capítulo e tinha que depositar 1 dólar para King – caso não houvesse um mínimo de pagantes, ele não escreveria o resto!). O caso é, inclusive, um dos fatos mais marcantes do início da história da Internet, pois os leitores pagaram, e isso comprovou o potencial lucrativo da rede. Era de se esperar, portanto, que aproveitassem toda a publicidade e fizessem um filme. O problema é que o conto até é bom, mas definitivamente não está entre os melhores do autor. No livro Tudo É Evental havia histórias infinitamente melhores, mas os produtores quiseram filmar a mais famosa, com a perspectiva de ganhar mais dinheiro. Azar o deles: Montado na Bala foi um dos maiores fracassos da história do cinema, rendendo míseros $ 130 mil de arrecadação nos EUA (em média, as adaptações do autor rendiam $ 26 milhões). Filmado por Mick Garris, de Sonâmbulos, traz a história de um rapaz que, com pressa para ir ver sua mãe no hospital, acaba pegando uma carona à noite, e descobre que o motorista é um garoto que já morreu. É medíocre e um pouco arrastado, mas não é tão ruim como as bilheterias faziam acreditar.


1408 (2007)

Baseado em outro conto do livro Tudo É Eventual, 1408 é sobre um quarto de hotel mal assombrado. E não é só a premissa que lembra a de O Iluminado: o filme é claramente inspirado no clássico de Kubrick. O diretor é o sueco Mikael Håfstrom, em seu segundo trabalho em solo americano. Ele fez um filme mais focado no terror psicológico, e conseguiu extrair uma boa atuação de John Cusack. Mas como é difícil não comparar com O Iluminado, 1408 acaba sendo meio apagado entre as adaptações de Stephen King – apesar de estar longe de ser fraco.


O Nevoeiro (2008)

Frank Darabont já havia provado ser ótimo para adaptar as histórias de King que se passam em prisões, então ele resolveu mudar e filmar este conto do livro Tripulação de Esqueletos, sobre um grupo de pessoas que fica ilhado em um supermercado depois que um misteriosa névoa chega à cidade, trazendo monstros gigantescos. Resultado: um dos melhores filmes de terror da década! Ainda que o orçamento tenha sido pequeno e alguns efeitos especiais deixem a desejar, o cineasta teve talento de sobra para estabelecer uma excelente dinâmica entre os personagens, e coragem para mudar o final da história – deixando-o muito mais chocante e sombrio. Uma pena que essa ouadia não ajudou nas bilheterias e a produção foi um fracasso de público - mas o próprio Darabont reconhece que este é seu melhor trabalho.


Sede de Vingança (2009)

Baseado no conto Dollan´s Cadillac, do livro Pesadelos e Paisagens Noturnas, que por sua vez é baseado no conto O Barril de Amontillado, de Edgar Allan Poe. É a história de um professor que, depois de ter a esposa assassinada por um gângster, elabora um audacioso plano de vingança. Dirigido pelo jovem e desconhecido Jeff Beesley e com Christian Slater e Wes Bentley no elenco, é um típico filme da geração de imitadores-de-Tarantino-sem-o-mesmo-talento. Muitos fãs gostaram, mas a verdade é que é um filme cheio de defeitos, que empolga muito pouco.


Enfim, muitas histórias do mestre já ganharam vida nas telas. É um universo e tanto! E neste dossiê constam apenas as produções feitas para o cinema - portanto ficaram de fora os filmes feitos para a TV e séries, como It, The Stand, A Tempestade do Século, além de episódios de Além da Imaginação (dos anos 80), entre outros. E é claro, sempre haverá mais filmes. Atualmente esta sendo rodado From a Buick 8, por Tobe Hooper, que deverá ser lançado em 2011.

Ah, sim, e também me recusei a incluir O Passageiro do Futuro (The Lawnmower Man, 1992), que apesar de ser um bom filme, não tem nada a ver com o conto de King - apenas o título.

Obrigado a todos que prestigiaram esta coletânea de informações do Grafias Noturnas. Se você gostou, comente, torne-se um seguidor e recomende o blog!

E para finalizar, uma lista com os 10 filmes baseados em King para se ver antes de morrer:

Carrie, A Estranha (Brian De Palma, 1976)
O Iluminado (Stanley Kubrick, 1980)
Creepshow (George Romero, 1982)
A Hora da Zona Morta (David Cronenberg, 1983)
Conta Comigo (Rob Reiner, 1986)
Cemitério Maldito (Mary Lambert, 1989)
Louca Obsessão (Rob Reiner, 1991)
Um Sonho de Liberdade (Frank Darabont, 1994)
À Espera de Um Milagre (Frank Darabont, 1999)
O Nevoeiro (Frank Darabont, 2008)

Um abraço, e bons sonhos!

Leia também a parte 1 e a parte 2 do dossiê King no Cinema.

domingo, 21 de novembro de 2010

Dossiê Stephen King no cinema parte II (1987-1994)

Creepshow 2 (1987)

Em 1987 foi lançada a continuação de Creepshow, mas sem Romero na direção. No lugar dele entrou Michael Gornick, que havia sido diretor de fotografia do primeiro filme. Contando com três histórias de King, sendo apenas uma delas baseada em um conto seu (A Balsa, do livro Tripulação de Esqueletos), Creepshow 2 diverte, mas não tem a mesma genialidade do primeiro. Destaque para a última história, O Caroneiro, sobre uma senhora da alta sociedade que, viajando sozinha à noite, passa a ser perseguida por um zumbi a quem ela atropelou (é baseada em um episódio de Além da Imaginação). No início e no final do filme, bem como nos intervalos entre os segmentos, há um desenho animado, bem feitinho, que resgata aquele clima das histórias em quadrinhos da EC Comics. Com um orçamento visivelmente mais baixo que o do primeiro filme, e sem a mão de Romero, até que Creepshow 2 não decepciona. Mas é mais infantil, e não chega nem perto de causar os sustos do original.


O Sobrevivente (1987)

Este é mais um daqueles filmes que algumas pessoas se surpreendem quando descobrem que foi baseado em King. Adaptado de uma história escrita sob o pseudônimo Richard Bachman, O Sobrevivente sofreu muitas deturpações e acabou sendo transformado em um filme de ação, com Arnold Schwarzenegger como protagonista. Trata-se de uma ideia bem interessante, muito copiada hoje em dia, sobre um reality show do futuro em que os concorrentes precisam escapar com vida de uma série de armadilhas mortais e de assassinos fantasiados. King não gostou, afirmando que transformaram seu conto de caçada humana em um filme tipo Rambo. Mas O Sobrevivente diverte e tem um clima legal de histórias em quadrinhos. O orçamento foi bem alto para a época, cerca de $ 30 milhões – o maior entre todas as adaptações de King até então.


Cemitério Maldito (1989)

Em 1989, dois anos depois da última adaptação de Stephen King chegar às telas, foi a vez de Pet Sematary ganhar um filme. O livro, baseado no conto A Pata do Macaco, é uma das coisas mais pesadas que o autor já escreveu, sobre um médico que se muda para o interior e descobre um cemitério indígena que tem o poder de reviver quem lá for enterrado. O filme, dirigido por Mary Lambert, não fez feio e é até hoje uma das melhores adaptações de King. O casal principal de atores é bastante morno, mas atuações como a de Fred Gwynne (o Herman da série Os Monstros, aqui como o velho vizinho), e até a do gato da família, fazem tudo valer a pena. O sucesso foi tanto que a bilheteria ultrapassou a de Conta Comigo, transformando-se no filme mais bem sucedido até então, entre todos os baseados em King. Teve uma continuação inferior em 92, com a mesma diretora, mas sem nenhuma ligação com o mestre.


Contos da Escuridão (1990)

No ano seguinte estreou esta produção dividida em quatro histórias, que era para ter sido Creepshow 3, mas sofreu algumas mudanças. A base é praticamente a mesma, mas aqui foi homenageada a série televisiva Tales From de Darkside (1983-88), e não os quadrinhos. No filme, um menino que será cozinhado por uma dona de casa (interpretada pela cantora Deborah Harry) conta a ela três histórias, para ganhar tempo. Apenas a segunda, The Cat From Hell, é baseada em King (a primeira é uma versão de um conto de Conan Doyle), mas o destaque mesmo vai para Lover´s Vow, sobre um artista plástico que testemunha uma estranha criatura cometer um assassinato, e precisa guardar segredo para garantir sua vida. A produção contou com um grande elenco, como Christian Slater, Steve Buscemi e Juliane Moore.


A Criatura do Cemitério (1990)

Ainda em 1990, chegaria aos cinemas esta produção baseada na pequena história O Turno da Noite, do livro Sombras da Noite. O conto é um dos mais claustrofóbicos de King, sobre um grupo de empregados que, obrigados pelo patrão escravagista a fazer hora extra, acabam descobrindo uma raça de gigantescas ratazanas mutantes em seu ambiente de trabalho. Uma das adaptações mais fracas do autor, ainda que conte com bons momentos e a participação de Brad Dourif.


Louca Obsessão (1991)

Em 1991, o diretor Rob Reiner, que já havia comandado o excepcional Conta Comigo, levou ao cinema o livro Angústia (Misery), obtendo mais uma vez um resultado excelente. Kathy Bates ganhou o Oscar como a psicopata fã número um que mantém seu escritor predileto em cativeiro, obrigando-o a escrever um novo livro. Melhorando vários pontos do romance, o filme transformou-se em um clássico do suspense. Ao ser interrogado sobre como filmar direito uma história de King, Reiner disse que os diretores erram quando tentam extrair do papel apenas sangue e violência. Sábias palavras! Como resultado, Misery bateu o recorde de bilheteria de Cemitério Maldito, tomando o posto da adaptação do autor mais bem sucedida nos cinemas.


Sonâmbulos (1992)

Com roteiro do próprio King, Sonâmbulos traz a história de um estranho casal (mãe e filho), com características humanas e felinas, que chegam a uma cidade pequena em busca de uma virgem para lhes servir de alimento. Com uma abordagem sobre a perda da inocência que lembra a da série Crepúsculo, o filme tem uma boa produção, com alguns efeitos especiais interessantes, mas não causou muito impacto.


A Metade Negra (1993)

Livro bem curioso da bibliografia de King, The Dark Half é a adaptação de uma lenda do folclore alemão, trazendo um escritor assombrado pelo próprio... pseudônimo! George Romero, mais uma vez, ficou encarregado de filmar a história, mas aqui ele não mostra aquela sua genialidade, e entrega um trabalho bem convencional. Destaque negativo para o vilão, George Stark, que era a coisa mais interessante do livro e aqui ficou bastante apagado. Afundou nas bilheterias naquele ano de 1993, tendo custado $ 15 milhões e arrecadado menos que $ 10 mi.


Trocas Macabras (1994)

Este filme de 1993 é mais um bom exemplar das adaptações do autor, trazendo a história de um misterioso forasteiro que abre uma loja em uma pequena cidade, vendendo tudo o que cada morador do local sonha possuir. Mas o preço não é em dinheiro: é em más ações. Com cenas violentas, mas sem esquecer do bom humor dos livros de King, Trocas Macabras diverte e ainda tem um ótimo elenco, encabeçado por Max Von Sydon e Ed Harris. Não chega a ser um grande filme, mas em vista da maioria das adaptações, merece algum destaque.


Um Sonho de Liberdade (1994)

Mas em 1994, um filme baseado em um dos segmentos do livro Quatro Estações foi a primeira adaptação de King a ter chances reais de ganhar um Oscar de melhor filme. O diretor Frank Darabont já havia estreado sua carreira adaptando um conto do autor, no curta A Mulher no Quarto, quando ainda era estudante. E logo em seu primeiro trabalho para o cinema, com Um Sonho de Liberdade, conseguiu sete indicações ao Oscar, do qual saiu de mãos abanando (puro azar: naquele mesmo ano concorriam Forrest Gump e Pulp Fiction). Além disso, Um Sonho de Liberdade foi mal nas bilheterias, já que a indicação só veio depois que o filme já tinha sido exibido ao público. Ainda assim, é considerado pela crítica como um dos melhores filmes do cinema. Na época ninguém desconfiava que fosse uma história de Stephen King (e muita gente ainda hoje nem desconfia), já que não apresenta nada de sobrenatural. Trata-se de um tocante drama de prisão, com Tim Robbins e Morgan Freeman.

E no próximo post, a terceira e última parte do Dossiê King, com os filmes produzidos entre 1995 e 2010 - provavelmente uma das melhores safras, ainda que traga aquele que foi o maior dos fracassos de público!


Clique para ler a parte 1 (de 1976 a 1986)

sábado, 20 de novembro de 2010

Dossiê Stephen King no cinema (1976-1986)

O nome de Stephen King é um dos mais conhecidos no mundo todo. Seus mais de sessenta livros são best sellers em todos os países em que foram lançados, e a maioria deles foi adaptada ao cinema. E é disso que vamos falar hoje: das adaptações de King para as telas. Algumas são excelentes, outras nem tanto, e há também aquelas que são umas belas porcarias.

Carrie, a estranha (1976)

Stephen King passou parte de sua vida dando aulas de literatura para adolescentes e trabalhando em uma lavanderia para sustentar a família. Foi sua esposa quem retirou da lata de lixo o manuscrito de Carrie depois que ele já havia cansado de receber "Não" das editoras para a publicação. Porém, depois de finalmente conseguir realizar seu sonho de publicá-la, outro jovem talentoso sentiu o potencial da história para o cinema e resolveu levá-la às telas. Brian De Palma era o nome desse cineasta, que com ideias muito boas e um orçamento apertadíssimo, conseguiu a proeza de filmar um dos melhores filmes de terror da história e ainda revelou talentos como John Travolta e Sissy Spacek. King não poderia ter um melhor começo nas telas.


O Iluminado (1980)

Stanley Kubrick folheava livros e mais livros em busca de material para seu próximo filme, atirando na parede os que não lhe interessavam. Sua secretária ficou feliz da vida quando o lendário diretor de 2001 e Laranja Mecânica finalmente gritou "É esse!" com um exemplar de O Iluminado nas mãos. Alguns anos depois, com o filme finalizado, muita gente ficou contentíssima com o resultado, menos King. A produção foi grande sucesso de bilheteria e de crítica, mas o autor não gostou de Kubrick ter eliminado o aspecto sobrenatural da história, transformando os fantasmas que assombram o hotel Overlock em mera paranóia e efeitos do alcoolismo. Criticou também a escalação de Jack Nicholson para o papel principal. "Ele vinha do filme Um Estranho no Ninho e o público já o identificava como louco desde o começo, o que faz perder toda sua descida à insanidade", disse. Kubrick rebateu, dizendo que O Iluminado não era um livro sério, mas que tinha gostado da estrutura da história. Apesar das discussões entre os artistas, que ocorreram desde quando o roteiro estava sendo escrito (Kubrick telefonava de madrugada para King para perguntar coisas como "Você acredita em Deus?"), O Iluminado é um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, com cenas clássicas e uma atuação imortal de Nicholson. Era o que os investidores precisavam para confirmar King como sinônimo de sucesso no cinema.


Creepshow (1982)

Stephen King nunca escondeu que sua grande inspiração para a escrita foram as revistas de histórias de terror em quadrinhos da E.C. Comics, que ele lia na infância. Em 82 ele juntou-se ao diretor George Romero, que já tinha grande experiência em filmes de terror, e a dupla resolveu inovar: desenvolver uma produção com várias histórias curtas, dando ao público a sensação de estar dentro de uma daquelas revistas. Extremamente divertido e original, Creepshow mostra Romero em sua melhor forma, e foi o próprio King quem escreveu o roteiro. O escritor até mesmo atua na história "The Lonesome Death of Jordy Verrill”, como um fazendeiro bobalhão que se dá mal ao tocar um meteorito. Cheio de humor negro e sustos, o filme é uma verdadeira homenagem para os fãs de terror. Com mais este sucesso, o ano seguinte seria inundado por nada menos que três adaptações de King para o cinema.


Cujo (1983)

O diretor Lewis Teague manteve a tradição de se fazer bons filmes baseados em King, e desenvolveu uma tensa e claustrofóbica história sobre uma mãe e o filho pequeno presos em um carro e acuados por um gigantesco São Bernardo com raiva. Uma produção barata e eficiente, como muitos filmes de terror que fizeram bastante sucesso na época. Quase sem mostrar sangue, Teague colocou os nervos da plateia à prova.


A Hora da Zona Morta (1983)

O diretor canadense David Cronenberg vinha de uma leva de filmes nojentos e perturbadores, como Os Filhos do Medo, Scanners e Videodrome. Seu envolvimento com o projeto deixou King com a pulga atrás da orelha, pois a frieza do cineasta talvez não funcionasse na história de um professor que começa a prever o futuro depois de sofrer um acidente de carro e permanecer por cinco anos em coma. Mas tudo deu certo no final: o ator Cristopher Walken faz um belo trabalho como o protagonista, e o filme não é tão sinistro, apesar de ter a cara de Cronenberg. Destaque para o clímax, quando o vidente descobre que a eleição de um carismático candidato (Martin Sheen) vai levar o mundo a um desastre nuclear.


Christine, o carro assassino (1983)

Foi aqui que começaram os problemas. Christine, o livro, traz a história de um rapaz que compra um velho Plymouth Fury 1958 e o reforma, sem saber que o carro está possuído pelo fantasma de seu velho dono. O cineasta John Carpenter, ao invés de seguir o livro, resolveu mudar e eliminou o fantasma, atribuindo ao próprio carro os sentimentos de ódio que o fazem matar pessoas. "Falhei", disse ele mais tarde, reconhecendo o erro. Apesar de ter sido a primeira grande decepção entre as adaptações de King, Christine tem bons momentos, como quando o automóvel surge em chamas perseguindo suas vítimas pela rua.

Colheita Maldita (1984)

Um segundo duro golpe em King. Baseado em um breve conto do livro Sombras da Noite, a história não era grande o bastante para dar origem a um filme, tornando a produção arrastada e, até então, com a menor bilheteria entre as adaptações do autor. Apesar disso, o filme originou uma imensa onda de continuações, uma pior que a outra, a maioria lançada diretamente nas locadoras.

A Incendiária (1984)

E para coroar a má fase, tivemos A Incendiária, com uma fraquinha Drew Barryore, ainda criança, no papel de uma menina que consegue causar incêndios apenas com o poder da mente. Depois de já termos visto a cena do baile em Carrie, chega a ser ridículo aqui, a garota tendo seus cabelos esvoaçados enquanto se concentra para o ataque. E o vilão é um velho de quem nunca ficamos sabendo quais suas reais intenções para com a menina. A partir daí sempre havia a dúvida quando se anunciava uma nova adaptação de Stephen King: será que o filme é bom ou mais uma bomba?


Olhos de Gato (1984)

Felizmente Stephen King se uniu mais uma vez ao diretor de Cujo para, novamente, ele próprio escrever o roteiro de um filme dividido em histórias. Desta vez todas estão ligadas pela figura de um gato, e temos um pouco daquela magia vista em Creepshow. O destaque é para o segmento “Ex-Fumantes Ltda”, do livro Sombras da Noite, com James Woods no papel de um fumante inveterado que contrata uma empresa com métodos bem peculiares para tirá-lo do vício.


Bala de Prata (1984)

Pegando carona nos filmes de lobisomens depois do sucesso Um Lobisomem Americano em Londres, de John Landis, Bala de Prata traz, curiosamente, o jovem Corey Haim em uma história que lembra Os Garotos Perdidos, em que atuaria dois anos depois (mas então com vampiros). É um filme divertido, que não teve grande retorno nas bilheterias. Mas também, convenhamos: aquele padre não tem cara de padre nem aqui nem no fim do mundo, não é? E, de fato, nenhum filme sobre Homens Lobo conseguiu chegar perto do filme de Landis.

Comboio do Terror (1986)

E então King, insatisfeito com o resultado dos últimos filmes, resolveu ele mesmo levar uma de suas histórias ao cinema, sentando na cadeira de diretor. O problema é que ele fez o mesmo erro que já haviam cometido em Colheita Maldita, esticando um pequeno conto do livro Sombras da Noite, no qual os veículos e outras máquinas se voltam contra os humanos. Sua falta de experiência atrás das câmeras contribuiu para o fracasso da empreitada, resultando na pior bilheteria entre todas as adaptações. Mas pelo menos a trilha sonora do AC/DC é legal.

Conta Comigo (1986)

Preocupados com os desastres nas bilheterias, os produtores resolveram simplesmente esconder o nome de King dos créditos do próximo projeto, até mesmo porque esta seria a primeira adaptação de uma história de não-terror do autor. Baseado no segmento O Corpo, do livro Quatro Estações, Conta Comigo é uma tocante fábula sobre o fim da infância, baseada nas memórias do próprio Stephen King, e que revelou o talento do jovem River Phoenix. Com uma excelente trilha sonora dos anos 50 e um assustador vilão, interpretado por um Kiefer Sutherland ainda adolescente, Conta Comigo conquistou o coração do público e arrebatou uma excelente bilheteria. Poucas pessoas não conhecem a histórias dos quatro meninos que partem em uma jornada para procurar o cadáver de um menino que foi atropelado por um trem.

E foram assim os primeiros dez anos de livros do mestre sendo levados ao cinema. Esse dossiê continua em uma próxima edição, com os filmes entre 1987 e 1994, que tiveram ótimos exemplares, como Cemitério Maldito e Louca Obsessão.