Finalmente li Fúria (Rage), uma das histórias mais antigas de Stephen King, publicada sob o pseudônimo de Richard Bachman. O fato mais curioso a respeito deste trabalho é que sua publicação está proibida pelo próprio autor. Mas o que há de tão polêmico nesta noveleta?
Fúria é sobre o adolescente Charles Decker, aluno do colegial que vai armado para a escola, mata dois professores e mantém uma classe de mais de 20 alunos como reféns. O drama lembra vários casos reais que aconteceram nos Estados Unidos recentemente, e o livro poderia inspirar novos massacres − daí seu banimento. Porém, esta não é, nem de longe, uma das histórias mais violentas de King. Seu maior problema é de ordem moral.
Confesso que gostei do conto, mas como a maioria dos trabalhos do autor, há pontos baixos. E o principal problema que observei diz respeito à verossimilhança da história. Bem, eu não sei o que aconteceria de verdade caso algum adolescente mantivesse minha turma como refém, mas achei um pouco forçados, por exemplo, os momentos em que alguns estudantes, inspirados pelo sequestrador, começam a narrar suas experiências sexuais para a classe.
Mas a ideia de King foi interesante: usar aquela situação, de um grupo de jovens problemáticos entre quatro paredes, sem a presença autoritária de um professor, para realizar uma terapia em grupo e lavar a roupa suja. O problema está nos momentos em que a tranquilidade deles não condiz com o fato de terem acabado de ver dois professores sendo assassinados por um colega e de estarem sob a mira de um revólver.
Quem leu O Nevoeiro vai achar o eixo da história bem semelhante. Pois, assim como naquele conto, Fúria mostra o que pode acontecer com um grupo de humanos enquanto estão presos em um mesmo cenário e sob uma perigosa ameaça. O terror não está no elemento estranho que comanda a situação, mas sim no comportamento das vítimas.
Assim como em O Nevoeiro o Mal era representado não pelos monstros, mas por uma fanática religiosa, em Fúria não é o jovem armado que é o vilão, mas sim Ted Jones, um dos reféns. Bonitão e metido a galã, Jones é o único que parece não compreender a ação de Charlie, e é ele quem pode tentar dominar o sequestrador e acabar com a festa.
Até aí tudo bem, pois King realmente consegue fazer com que Ted pareça o vilão. Principalmente porque ficamos conhecendo os dramas pessoais de Charlie Decker, e o encaramos não como um psicopata assassino, mas como um jovem comum, cheio de problemas familiares e com poucos amigos - que poderia ser qualquer um de nós.
O problema é que o conto sugere que a atitude do protagonista é justificável, e que ele fez um bem a mais de vinte colegas ao entrar naquela sala de aula com uma arma.
Além disso, ao retratar praticamente todos os adultos da história como pessoas estúpidas e cheias de defeitos de caráter, King soa maniqueísta. Ele praticamente converte o verdadeiro bandido da história em um simpático e corajoso herói adolescente.
E a turma que está sob sua mira não fica muito acima em termos de moralidade, pois nenhum dos estudantes parece se importar muito com o fato da professora ter sido baleada na frente deles. Durante todo o conto o corpo dela fica caído no chão, e ninguém, em nenhum momento, tenta conferir se ela realmente morreu. Preferem, ao invés disso, ficar revelando os segredos sujos dos outros, rindo e se xingando.
E apesar de King investir na tensão conforme o final da história se aproxima, o leitor não teme muito pela segurança dos reféns. O único dos alunos naquela sala que corre o risco real de ser baleado é Ted Jones, a quem já odiamos desde o início. Mas quanto aos outros alunos, parece ficar claro que Charlie não tem a intenção de matá-los; e mesmo que o fizesse, não sentiríamos falta deles. Mas de qualquer forma, é impossível largar o livro antes de saber que fim terá aquela situação, e qual será o destino de Charlie.
Enfim, Fúria é um bom conto, mas escrito por um jovem e ainda imaturo Stephen King. A melhor forma de classificar a história é como “inconsequente”, o que a torna bastante perigosa se for lida por algum idiota capaz de pegar uma arma e invadir uma escola para mostrar que é inconformista e revolucionário.
Fúria é sobre o adolescente Charles Decker, aluno do colegial que vai armado para a escola, mata dois professores e mantém uma classe de mais de 20 alunos como reféns. O drama lembra vários casos reais que aconteceram nos Estados Unidos recentemente, e o livro poderia inspirar novos massacres − daí seu banimento. Porém, esta não é, nem de longe, uma das histórias mais violentas de King. Seu maior problema é de ordem moral.
Confesso que gostei do conto, mas como a maioria dos trabalhos do autor, há pontos baixos. E o principal problema que observei diz respeito à verossimilhança da história. Bem, eu não sei o que aconteceria de verdade caso algum adolescente mantivesse minha turma como refém, mas achei um pouco forçados, por exemplo, os momentos em que alguns estudantes, inspirados pelo sequestrador, começam a narrar suas experiências sexuais para a classe.
Mas a ideia de King foi interesante: usar aquela situação, de um grupo de jovens problemáticos entre quatro paredes, sem a presença autoritária de um professor, para realizar uma terapia em grupo e lavar a roupa suja. O problema está nos momentos em que a tranquilidade deles não condiz com o fato de terem acabado de ver dois professores sendo assassinados por um colega e de estarem sob a mira de um revólver.
Quem leu O Nevoeiro vai achar o eixo da história bem semelhante. Pois, assim como naquele conto, Fúria mostra o que pode acontecer com um grupo de humanos enquanto estão presos em um mesmo cenário e sob uma perigosa ameaça. O terror não está no elemento estranho que comanda a situação, mas sim no comportamento das vítimas.
Assim como em O Nevoeiro o Mal era representado não pelos monstros, mas por uma fanática religiosa, em Fúria não é o jovem armado que é o vilão, mas sim Ted Jones, um dos reféns. Bonitão e metido a galã, Jones é o único que parece não compreender a ação de Charlie, e é ele quem pode tentar dominar o sequestrador e acabar com a festa.
Até aí tudo bem, pois King realmente consegue fazer com que Ted pareça o vilão. Principalmente porque ficamos conhecendo os dramas pessoais de Charlie Decker, e o encaramos não como um psicopata assassino, mas como um jovem comum, cheio de problemas familiares e com poucos amigos - que poderia ser qualquer um de nós.
O problema é que o conto sugere que a atitude do protagonista é justificável, e que ele fez um bem a mais de vinte colegas ao entrar naquela sala de aula com uma arma.
Além disso, ao retratar praticamente todos os adultos da história como pessoas estúpidas e cheias de defeitos de caráter, King soa maniqueísta. Ele praticamente converte o verdadeiro bandido da história em um simpático e corajoso herói adolescente.
E a turma que está sob sua mira não fica muito acima em termos de moralidade, pois nenhum dos estudantes parece se importar muito com o fato da professora ter sido baleada na frente deles. Durante todo o conto o corpo dela fica caído no chão, e ninguém, em nenhum momento, tenta conferir se ela realmente morreu. Preferem, ao invés disso, ficar revelando os segredos sujos dos outros, rindo e se xingando.
E apesar de King investir na tensão conforme o final da história se aproxima, o leitor não teme muito pela segurança dos reféns. O único dos alunos naquela sala que corre o risco real de ser baleado é Ted Jones, a quem já odiamos desde o início. Mas quanto aos outros alunos, parece ficar claro que Charlie não tem a intenção de matá-los; e mesmo que o fizesse, não sentiríamos falta deles. Mas de qualquer forma, é impossível largar o livro antes de saber que fim terá aquela situação, e qual será o destino de Charlie.
Enfim, Fúria é um bom conto, mas escrito por um jovem e ainda imaturo Stephen King. A melhor forma de classificar a história é como “inconsequente”, o que a torna bastante perigosa se for lida por algum idiota capaz de pegar uma arma e invadir uma escola para mostrar que é inconformista e revolucionário.
Muito mais chocante e violento é o conto Caim Rebelado, do livro Tripulação de Esqueletos. Este, sim, retrata um massacre em uma escola, cometido por um jovem com um rifle. Conto que, curiosamente, não foi banido nem sofreu qualquer tipo de censura pelo autor.
O que ajudou este livro a ser banido foi o fato dele ter sido encontrado no armario dos adolescentes do massacre de Columbine.
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