sábado, 10 de julho de 2010

Lost in Translation

É muito gostoso rever esta obra-prima de Sofia Coppola. Lost in Translation (no Brasil, Encontros e Desencontros) é um filme iluminado. Mais do que isso, é um filme afinado. Pois muito de seu sucesso é devido ao perfeito uso do som. Na verdade, tudo foi desenvolvido de forma tão perfeita que é difícil saber por onde começar a falar bem: as locações, a fotografia, o elenco, os diálogos, a música... tudo contribui para a felicíssima experiência que o filme promove, atingindo o espectador em suas mais profundas emoções.

Há que se ressaltar o papel importante que o Japão tem na história, situando os protagonistas em um local muito distante de seus lares, uma ilha, onde a língua é incompreensível e o povo tem comportamentos que surgem como exóticos — retratando o deslocamento e a estranheza que ambos estão sentindo em suas vidas.

O ator Bob Harris (Bill Murray, perfeito) chega a Tóquio para passar alguns dias, onde gravará comerciais para a campanha de uma marca de wisky. No luxuoso hotel onde fica hospedado conhece Charlotte (Scarlett Johansson), uma bela jovem deixada sozinha por seu marido fotógrafo enquanto ele faz um trabalho fora. O encontro dessas duas almas torturadas pelas dúvidas da vida adulta lhes marcará para sempre.

Lost in Translation possui muitas virtudes, mas a maior delas é a de situar o espectador dentro de uma história sem grandes acontecimentos externos, porém de grande beleza emocional. A dupla apenas conversa, passeia e faz coisas simples como ir a um hospital para tratar uma ferida na unha do pé, mas é tudo tão bem orquestrado pelos sons diegéticos e por uma simpatia visual, que coloca o espectador dentro desta pequena grande jornada interna na alma de duas criaturas apaixonantes.

Há um termo usado na psicoterapia chamado rapport: trata-se do estabelecimento de uma sintonia fina entre duas pessoas, que ocorre de maneira sutil, quase invisível. Podemos não notar, mas muitas vezes simpatizamos com pessoas que estão tendo algum rapport conosco, às vezes porque o movimentos dos olhos estão parecidos com o nosso, ou então o ritmo como ela batuca as mãos é o mesmo que estamos impondo aos nossos pés, por exemplo. Pois Bob e Charlotte estabelecem um intenso rapport entre si, e o melhor: nós, que estamos os assistindo, entramos em rapport com eles, e somos capazes de sentir o que eles estão sentindo. É por isso que, em determinados momentos, eles nem precisam falar, pois eles (e nós) sabemos o que estão pensando. Isso fica claro em alguns momentos tocantes (e aí é outra mostra do importante papel dos sons no filme) em que as letras das músicas falam por eles.

E é também por isso que uma das cenas mais belas, quando Bob sussurra algo no ouvido dela, é tão majestosa: não sabemos o que ele lhe falou, mas não importa. Aquilo parece mais um sopro de esperança e de beleza na sua vida. É triste ver a despedida dos dois, que terão que voltar às suas vidas de rotinas, dúvidas e responsabilidades. Mas aquela esperança mágica a que eles tiveram contato em uma semana em Tóquio... esta eles levaram para si, e nós trazemos conosco. (5 estrelas em 5)

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