domingo, 10 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 - crítica

Tropa de Elite 2 é inegavelmente um filmão. Quem gostou do primeiro, pode assistir a este sem medo, pois é bom na mesma medida. Na verdade, a estrutura do roteiro é parecidíssima com a do filme original.

Por exemplo, no início de Tropa 1, temos logo uma cena importante do filme (o baile funk) e, em um momento crítico dela, voltamos no tempo para saber como as coisas chegaram naquele ponto. Na continuação ocorre o mesmo, e depois da cena inicial toca a canção-título sobre uma edição frenética com imagens icônicas do filme original. Um início bem empolgante.

Logo depois estamos 4 anos no passado, mas ainda assim após ao fim de Tropa 1, quando sabemos que todos aqueles esforços do Capitão Nascimento para encontrar um substituto viraram fumaça, pois depois de preparar André Matias para assumir seu posto, Nascimento volta ao comando do Bope. E já o pegamos em uma situação delicada: tentando controlar uma rebelião em um presídio. Esta cena está brilhantemente orquestrada, como ao mostrar a barbárie dos presos através das câmeras de circuito interno da prisão.

Sem querer revelar detalhes da história, posso dizer que Tropa de Elite 2 é ainda mais complexo que seu antecessor, mostrando que a guerra de interesses que existe por trás da violência envolve muito mais gente além da polícia e dos traficantes: envolve também a mídia e, principalmente, os políticos.

Depois de um fiasco em uma operação, Nascimento é exonerado do BOPE. Mas como a população literalmente aplaude sua violência contra os bandidos, ele "cai pra cima", e vira sub-secretário de segurança do Rio de Janeiro. Essa mudança de olhar é algo admirável no roteiro do filme, pois ao invés de repetir o discurso anterior (de que é a classe média que financia os traficantes), o filme aproveita para tratar de outros assuntos, jogando muito mais cocô no ventilador.

Mas se o espectador pensa que, com o Coronel Nascimento fora do Bope e atrás de uma mesa de escritório, o filme não teria ação, ele engana-se. Na verdade, realmente vemos pouco daquele Nascimento sarcástico e ameaçador do primeiro filme, já que ele troca a farda preta por um terno e uma gravata. Mas outros personagens fazem esse diabólico papel muito bem.

Como eu escrevi lá em cima, o espectador que gostou do original não tem do que reclamar de Tropa 2, pois há muitas cenas equivalentes daquele filme neste. Por exemplo, até aquela aula na faculdade em que Ramiro estuda, encontra aqui um paralelo, quando um ativista dos direitos humanos fala a uma plateia.

As cenas da execução sumária do casal nos pneus, a conversa no cemitério após a morte de um membro do BOPE, a opressão do pequeno apartamento onde o protagonista mora, a tortura com tapas na cara e saco na cabeça, e até falas como "quem quer rir tem que fazer rir", todas do primeiro filme, encontram paralelos aqui. Porém, o roteiro não abusa das repetições do que fez sucesso no original, e não temos aqui tantas frases de efeito para ficarem na moda. É claro que há diálogos e falas memoráveis, mas creio que, assim como os roteiristas não esperavam que Tropa 1 desse origem a todos aqueles bordões, aqui também não foi escrito nenhum com o propósito de virar modinha. Mas reconheço que virei fã da nova definição de CPMF (Comissão dos Policiais Militares Filhos-da-Puta).

Outro resgate do filme original são muitos personagens, mas eles não caem de paraquedas na história. Note, por exemplo, a rápida aparição daqueles dois policiais que trabalhavam no conserto das viaturas de Tropa de Elite 1: desta vez eles não têm nenhum diálogo, mas sua aparição é um detalhe muito importante naquela determinada cena.

Aliás, a produção caprichou nos detalhes. Isso é perceptível, também, por exemplo, em certo momento quando Nascimento está visitando um paciente de uma UTI, e podemos ver colado em sua camisa um adesivo usado pelos visitantes, com a identificação do número do quarto e do andar do hospital. Em outro momento notável, enquanto o herói conversa com uma personagem em um restaurante, ele faz uma pequena pausa na fala para pedir um café a um garçom que nem aparece na tela.

Dos novos personagens, um que chama atenção é o apresentador de um programa sensacionalista da TV, obviamente inspirado no Datena. Porém, devo confessar que sua cara cômica destoa um pouco do realismo do filme, fazendo com que eu desejasse ver menos cenas com ele.

Mas o resto está todo lá para empolgar: os palavrões, a presença marcante e engraçada de Milhem Cortaz, a violência, e uma espetacular cena de tiroteio na favela, surpreendentemente bem filmada.

Como eu disse no início: é um filmão, e que agrada a todos os fãs do original. E o melhor: que desagradará totalmente a maioria daquela corja de políticos safados de Brasília, que estão envolvidos até o pescoço com o tráfico de drogas, assassinatos e toda sorte de crimes hediondos.

Um filme extremamente corajoso, muito real (no início há um letreiro explicando que os fatos são fictícios, apesar da semelhança com a realidade, provavelmente para se evitar processos), e que além de entreter a plateia, surge como um documentário que escancara aos brasileiros uma série de problemas do país aos quais a velha mídia parece desviar seus olhos. E além disso, o diretor José Padilha, através de sua obra, exorciza abertamente aquela acusação que sofreu de alguns intelectuais após a estreia de Tropa de Elite, sobre o filme ser fascista.

Resumindo tudo em uma palvra: obrigatório. (5 estrelas em 5)



Nenhum comentário:

Postar um comentário