quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Resenha "d'além mar" de Grafias Noturnas

A Tati, do blog O Cantinho da Tati, de Portugal, publicou umas das melhores resenhas de Grafias Noturnas que já foi escrita. Parece que ela interpretou os contos de uma forma muito mais profunda, provando que é uma leitora muito perspicaz e que o livro cumpre sua função literária, que é a de fazer cada um pensar naquilo que mais lhe diz respeito. Deixo a seguir o brilhante texto da moça:

Há já algum tempo que recebi este livro do Luiz, a quem agradeço imenso a amabilidade de me ter enviado um exemplar e pelo autógrafo. Este é o seu primeiro livro e nele podemos encontrar 21 contos onde sempre podemos encontrar o elemento fantástico mesmo que em pequenas proporções. Ora, este novo autor foi uma pequena grande surpresa já que nunca pensei encontrar tão boas estórias e tão boas críticas. Destaco os seguintes contos:

- O Guarda-Chuva: Neste, Riesemberg mostra-nos um impressionante caso de bulling em que certo ia, uns colegas de trabalho decidem brincar com aquele colega de trabalho que mantinha um estilo de vida algo “antiquado” – aquele a quem já chamavam “reloginho suíço” por chegar sempre a horas, aquele tipo de pessoa que tinha a sua roupa sempre engomada. Bem, senti uma grande crítica do autor perante muitos casos destes em que um indivíduo é gozado por um grupo de colegas de trabalho ou até escola por acharem piada brincar com alguém que é diferente. É, na minha opinião, um conto muito bem concebido!

- A Cápsula do Tempo: Este é, para mim, um dos meus contos favoritos do livro. O que faria se encontrasse no seu quintal uma cápsula do tempo onde se esconde uma relíquia impressionante que nos permite ver o passado, o presente e o futuro? Bem esta é a situação de um homem que, quando em criança, enterrava cápsulas do tempo na esperança de que passados alguns anos ou até centenas de anos, alguém, por acaso, encontrasse os seus compartimentos e os seus objectos. Quando o seu filho começa a fazer o mesmo, encontra uma pequena cápsula de madeira onde se encontra um diário de um menino onde relata a existência de uma pedra que o seu pai lhe dera antes de ir para a guerra. Não revelarei mais sobre o conto pois acho que está muito giro e convido-os a ler o livro (embora tenham que o pedir pela Amazon).

- O Botão: Este conto está muito bom! O que escolheria? A felicidade para a sua famiília ou uma mala cheia de dinheiro que o tirasse de uma má situação financeira? É um conto que apela ao bom senso e também ao pensar das consequências que uma escolha pode ter. Adorei.

- A Lei de Lavoisier (Aplicada à Arte): Este conto é algo de fantástico! É, talvez, o meu conto favorito. Um escritor com falta de imaginação vai, um dia, a uma biblioteca e num acto de raiva rasga a ficha do livro em que se baseou para escrever o seu manuscrito e acontece algo muito interessante para ele - todos os exemplares desse mesmo livro desaparecem a nível mundial e o seu manuscrito torna-se num êxito mundial. e aqui que começa este excelente conto onde o autor apela à originalidade da escrita e também à importância dos livros.

- A Máquina da Alegria: Este conto é muito engraçado pois fez-me lembrar muito do meu avô e nos avós em geral pois fazem tudo pelos netos, até mesmo uma máquina onde podemos encontrar apenas alegria! É este o tema do conto, o afecto incessante entre avô e neto e aonde um avô pode ir para satisfazer os pedidos do seu amado neto.

- A Emissora: Este conto despertou-me a atenção pois Riesemberg apresenta-nos, um cenário, não inovador, mas interessante no sentido em que nos depara com um homem que durante a sua vida desprezou muitas oportunidades e até a sua família e, durante uma viagem de fuga aos seus problemas, ouve uma rádio onde tocam músicas de cantores e bandas que já morreram mas, o especial desta rádio é que as canções são totalmente novas. Este conto é muito giro e o seu final, embora cliché, é muito giro e feliz.

- Eu Não Matei Charles Bronson: Como é óbvio, não poderia deixar de destaca este conto de Riesemberg! Conto vencedor de um prémio, esta é a estória de um homem que, farto do sistema em que a sociedade vive, resolve fazer justiça pelas próprias mãos! É um conto cuja violência está espancada e pelo que já li das entrevistas que o autor deu, o nível de violência era bem maior! (fiquei curiosa… e adorava ler essa versão :P). Ora, após ser enganado e roubado por um par de trolhas, e vendo que as autoridades não lhes faziam nada, este resolve ir à procura dos ladrões e fazer justiça. É, realmente um conto que dá prazer de ler pois é uma situação que penso que todos já tivemos vontade de fazer.

Resta-me agradecer ao Luiz Riesemberg em parte por me ter dado a oportunidade de ler o seu livro e pelos bons momentos de leitura que me proporcionou; e, também, congratular pelo livro, que gostei imenso. Claro, está bem recomendado a todos aqueles que gostam de estórias que, para além de entreter com elementos fantásticos, nos proporcionem uma crítica a muitos dos nossos erros humanos que temos tendência a esquecer.

Resultado da promoção de Natal Grafias Noturnas

Olá, galera! Eu gostaria de aguardar até a meia-noite de hoje, dia 23, mas como viajarei, as inscrições foram encerradas às 10:00 h da manhã. Creio que todos tiveram tempo suficiente para enviar seu e-mail. Sem mais delongas, segue os nomes dos vencedores:

1º lugar: Diego Castro Ferreira (Pelotas - RS)
2º lugar: João Ricardo (Birigui - SP)
3º lugar: Leonardo Alcântara Benício (Alcântaras - CE)

Conforme está no regulamento, o 1º lugar escolherá 5 dos 10 prêmios disponíveis e os outros premiados dividirão os restantes. Creio que, infelizmente, não conseguirei fazer a entrega antes do dia 03/janeiro, tudo bem?

E também conforme eu prometi, aqui está algumas das melhores frases dos participantes. A pergunta era: Para você, o que significa Grafias Noturnas?

"Inspiração. Espasmos dos não-vivos, de criaturas inomináveis, sem destino e sem face, que sobrevivem no inconsciente coletivo, renascendo através de sonhos dantescos e idéias macabras. Manifestações tão sutis aos escritores atordoados que todos a denominaram de Grafias Noturnas."

Márcio de Lima Domenes - Maringá (PR)


Registros do deslizar de sinistras mentes invulgares nos grandes textos narrados pelas inspiradoras sombras sepulcrais que povoam a noite.
Giovani Coelho de Souza - São João do Meriti (RJ)


Pra mim, Grafias Noturnas são criaturinhas adoráveis e um pouco ferozes, que habitam os livros que preferimos ler de madrugada, sob a luz do abajur. Mas é melhor não ler muito de perto, pois elas podem morder.

Mário Carneiro Jr. - Campo Mourão (PR)


Grafias noturnas é como se fosse Os Lusíadas do horror: uma marca do século e que provavelmente perpetuará para sempre. Um livro brilhante e sensacional, casando criatividade, terror, suspense e aflorando a vontade de ler.

João Ricardo - Birigui (SP)


Grafias Noturnas são aqueles pensamentos mais obscuros e bizarros que vem a nossa mente quando estamos deitados na cama enfrentando uma noite de insônia.

Diego Castro Ferreira - Pelotas (RS)



"É noite. Naquela velha casa de campo, longe de qualquer vizinhança, apenas uma luz se mantém acesa durante a madrugada, quase nenhum som se ouve. É a luz do sótão, para ser mais exato uma luz de vela, tremulante, que ilumina parcialmente uma velha mesinha de madeira que hoje em dia seria vendida por preços absurdos pela qualidade do material. Toda noite essa luz permanece acesa, amarela e inconstante, nenhum som se ouve pelo lado de fora. Mas os poucos que habitam a região sabem bem que naquele sótão está um senhor, muito idoso. Ja faz anos que segue essa rotina noturna, com sua caneta de pena, nanquim, e papéis. Ele prometeu para si mesmo, que não iria morrer enquanto não escrevesse toda a sua história, todos os segredos de um mundo que poucos conhecem, imaginam ou se aventuraram participar. Já faz anos que vem seguindo essa rotina, e mesmo tão velho, a memória ainda é fresca. Sente os arrepios, o medo, o cheiro do sangue, como se estivesse vivendo naquele exato momento seu passado inteiro. Ainda há a muito a se contar... E ele não vai parar enquanto lhe restar vida."

Thomas Blum – São Mateus do Sul (PR)



Grafias Noturnas devem exprimir as ideias dos morcegos, afinal, se aqueles dedos compridos são capazes de fazê-los voar, imagine só a manifestação de seus esplêndidos desenhos!

Andreza Rodrigues - Santo André (SP)



É quando um anjo, pelo intermédio das mãos de Deus, descreve formas únicas às estrelas do céu noturno, fazendo com que quando as olhamos, sentimo-nos totalmente renovados.

Leonardo Alcantara Benicio - Alcântaras (CE)


Grafias Noturnas são um oásis na vastidão da insônia.

Sérgio Rovan Ozório - Porto Alegre (RS)



É isso aí, pessoal! Parabéns aos vencedores. E para quem não teve sorte desta vez, fique frio! Em 2010 haverá muitos desses passatempos com ótimos prêmios. Aproveito para desejar um feliz Natal e um ano novo cheio de planos! Grande abraço a todos!



domingo, 20 de dezembro de 2009

Onde Vivem os Monstros

Onde Vivem os Monstros é um livro infantil que, com gravuras e apenas 338 palavras, encanta tanto as crianças como os adultos. É a singela história de um menino chamado Max que passa dos limites, vestido com sua fantasia de lobo, e é mandado de castigo para o quarto por sua mãe, que o chama de monstro ("wild thing" no original). Sozinho, ele imagina que o quarto se transforma em um mundo habitado por monstros, onde ele é o rei. Depois de divertir-se horrores com eles, percebe que não é tão bom ficar apenas com aquelas criaturas, e volta para o contato amigável com sua mãe.

É possível fazer inúmeras interpretações da obra, principalmente do ponto de vista freudiano, o que o torna ainda mais encantador. Pois o diretor Spike Jonze (de Quero Ser John Malkovich e Adaptação) resolveu transformá-la em um filme, cujo resultado deverá dividir as opiniões.

No roteiro de Jonze, Max surge como um menino que sofre com o distanciamento de sua irmã adolescente e de sua mãe viúva. Quando sente-se injustiçado, desconta a raiva desarrumando e sujando o quarto da irmã, e fazendo malcriações na frente do namorado da mãe, para chamar a atenção. A fantasia de lobo surge como uma forma de dar vazão às suas emoções mais primitivas — um lado que todos nós temos.

Mudando detalhes do livro, o Max do filme tem uma briga com a mãe e foge de casa. Então é a rua que se transforma em uma floresta e, posteriormente, em uma ilha habitada por monstros, que o coroarão como rei deles. A essência do livro é a mesma.

O diretor, que fez sucesso com roteiros considerados "infilmáveis", mostra que o negócio dele é mesmo fazer filmes estranhos e pouco convencionais. Tanto que insistiu em levar para as telas uma história infantil, mas sem buscar atingir esse público. É claro que as criaturas são engraçadinhas (bonecos mecânicos dublados por atores famosos - nada de efeitos de computação), alguns lembrando espécies de Ewoks enormes, mas o tom de Onde Vivem os Monstros é melancólico e sombrio. Algumas brincadeiras que Max e os monstros fazem chegam a assustar pela violência, como quando ficam fazendo guerras de atirar pedras, ou até mesmo quando um arranca o braço do outro em um momento de fúria. E só mesmo um adulto é capaz de entender que toda essa parte da história se passa somente dentro da cabeça do menino.

Foi interessante a ideia do diretor mostrar momentos do cotidiano do garoto nos primeiros minutos do filme. Assim ficamos sabendo que determinados monstros são as representações de sua irmã, de sua mãe e dele próprio. Também notamos que os bichos são, na verdade, os bonecos e ursos de pelúcia que estão espalhados pelo quarto, e que o imenso forte construído por eles é a cabaninha que Max montou com um cobertor.

O design da produção é fantástico, imitando as nuances dos traços do desenhista do livro, e a fotografia é belíssima. A cena final, apesar de divergir da presente no livro, traz o mesmo tom, capaz de surtir um efeito muito parecido no público.

Mesmo assim, Onde Vivem os Monstros é um filme um pouco difícil. Talvez os adultos não se interessem por uma história que mostra a relação de um garoto com monstros, e as crianças achem os diálogos muito monótonos e incompreensíveis. Sabemos que os produtores não gostaram da versão inicial entregue por Jonze, que teria ficado muito sombria para um filme infantil, e ele teve que fazer inúmeras alterações para agradá-los. O resultado é um filme, no mínimo, diferente, que pode funcionar para alguns e não para outros.

Experimente assistir. Mas não deixe de conferir o livro, que é sem dúvidas uma pequena obra-prima.

Não ao mini-conto!

Se algum "editor" picareta aparecer com a proposta de uma antologia de mini-contos, caia fora! Essa é a melhor forma para ele ganhar uma grana fácil, e para o autor não desenvolver sua escrita.

"Ah, mas nos tempos atuais ninguém tem tempo de ler, então as narrativas curtas são muito mais valorizadas", ele dirá. Mentira! Os livros mais vendidos são justamente os mais longos, isto sem falar nas sagas (O Senhor dos Anéis, Harry Potter, Crepúsculo, etc). Se os leitores não tivessem tempo para ler, como é que essas obras fariam tanto sucesso hoje em dia?

O mini-conto não pode ser classificado como um gênero literário. Qual é a emoção que ele transmite? Sei que alguns grandes autores escreveram alguns desses breves textos, como Hemingway (Vende-se: sapatos de bebê, sem uso), e o mini-conto mais famoso é atribuído ao guatemalteco Augusto Monterroso (Quando acordou o dinossauro ainda estava lá). Mas se essas merrecas forem consideradas obras artísticas, então o mundo estaria cheio de escritores em qualquer esquina. A cada minuto devem surgem milhões de "obras" superiores a essas sendo postadas no Twitter ou enviadas por SMS.

Tenho essa postura mais conservadora, de que quanto mais longos, mais os textos têm capacidade de fazer o leitor sentir alguma emoção duradoura. Não precisa ser um calhamaço, de 500 páginas, mas se dá para começar e terminar a leitura em menos de cinco minutos, também não deve surtir efeito algum para quem o lê.

Era isso. Para o meu gosto ficou um post muito curto, mas pelo menos é mais longo que um mini-conto e que um anúncio de Classificados.

Um abraço!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A turminha do terror

Neste mês resolvi colocar em prática algo que eu não fazia há muito tempo, dirigindo-me à banca de revistas para comprar gibis da Turma da Mônica. Sem sequer saber que existiam, deparei-me com os interessantíssimos Almanaque da Turma do Penadinho e Turma da Mônica Extra: Zé Vampir. Me enchi de expectativas e adquiri ambos, pois sempre adorei essa turminha, e eles nunca tiveram grande espaço nas outras revistas — quem dirá uma só para elas.

Depois de ter lido, a surpresa: não é que a qualidade do trabalho superou minha expectativa?

Aquele humor negro ingênuo continua presente, mais afiado do que nunca, trazendo várias piadinhas cretinas que não fazem só a alegria das crianças, como também dos marmanjões. Mas o mais legal é notar que Maurício de Souza não perverte o folclore por trás das criaturas para se adequar ao público infantil. O vampiro, por exemplo, realmente bebe sangue (é impagável ver o Zé Vampir atacando pescoços de vítimas inocentes em uma revista infantil), e tem medo de cruzes, de alho, da luz do sol, entre outras convenções vampirescas.

Também interessante é constatar o bom uso da intertextualidade (uma constante no trabalho de Maurício), fazendo, por exemplo, com que os monstrinhos reclamem do fato de todas as histórias de terror sempre acontecerem durante tempestades (eles também não gostam de se molhar, oras), ou ainda o inspirado momento em que Zé Vampir, metamorfoseado em morcego, não resiste e imita o símbolo do Batman ao passar pela lua cheia.

Uma das histórias que mais me surpreendeu foi "Eu quero é sangue", do Almanaque do Penadinho, que é uma daquelas que fazem bom uso da metalinguagem. Nela, o desenhista resolve tornar a turminha mais assustadora, e muda o aspecto de todos. Acho que nem uma revista de terror sério capricharia tanto.

E mais do que divertir marmanjos como eu, essas criações ainda ajudam as crianças a lidarem com seus medos, tornando o desconhecido mais próximo da realidade. Talvez seja essa a principal razão da minha simpatia pela turma, pois onde mais veríamos um gibi de qualidade que traz fantasmas, crânios falantes, lobisomens, múmias, vampiros, o monstro de Frankenstein, a Morte e o próprio Diabo como personagens?

Como brasileiro, sinto-me muito orgulhoso de saber que meu país tem um talento tão grande nos quadrinhos quanto Maurício de Souza. Fica a minha dica, portanto, para bons momentos de diversão. Pelo que entendi, a revista do Zé Vampir é apenas ocasional, já que a Turma da Mônica Extra enfoca um personagem diferente em cada edição. Mas o Almanaque do Penadinho é mensal. Portanto, já correndo para a banca!

Abertura do mercado literário

Às vezes leio algumas entrevistas com autores em início de carreira, que acabaram de lançar seu primeiro livro, geralmente por uma pequena editora, e há aquela constante pergunta: Como anda o mercado literário no Brasil para novos escritores?

"Muito bom", muitos dizem. "Está se abrindo". "Melhorou muito". Estas são as respostas mais frequentes, significando que ultimamente está mais fácil publicar. Porém, será que alguém já parou para pensar na contradição que eles estão dizendo? Abrir o mercado literário para iniciantes é uma boa notícia? É óbvio que não! Escritor tem que se ferrar mesmo para conseguiur publicar!

Vejamos: Eu AMO Literatura. Para mim ela é algo tão importante quanto a Medicina, sem dúvida alguma. Porém, para alguém se tornar médico é preciso passar por um concorridíssimo vestibular, não é? E depois são longos anos de dedicação à faculdade, à residência e às especializações, para só então começar a atender os pacientes. O médico tem que se dedicar à Medicina 24 horas por dia, desde o momento em que ele decide que é isso que ele quer fazer da vida, certo? Então me responda: por que seria diferente para um escritor?

O autor precisa ter muita prática para finalmente conseguir escrever um bom livro. E como ele consegue isso? Dedicando todo seu tempo a escrever! Não só o tempo, mas o coração, a mente e a alma. Que graça teria se qualquer um pudesse escrever, publicar e ser reconhecido por isso? Se fosse assim, as prateleiras das livrarias estariam cheias de porcaria. Aliás, já estão! É por isso que defendo que, se alguém quiser ser escritor, então deve dedicar sua vida exclusivamente a isso. Esqueça outro emprego. Esqueça outros sonhos. Esqueça tudo, menos o fato de querer escrever bem! Torne a escrita sua prioridade, sua única paixão, e não a troque por nada. Pois ela é bastante ciumenta, e caso você não lhe dê a devida atenção (e eu posso dizer: ela exige MUITA atenção e carinho), pode esquecer: ela vai tirar toda a sua inspiração e você nunca produzirá nada que preste.

Esta é a minha visão sobre a tal abertura do mercado literário: quanto mais fechado ele estiver, menos livros de má qualidade estarão à disposição dos leitores.

ps: Acabei de ler em um blog um pequeno conto de um dos "maiores nomes da literatura fantástica nacional", que ainda não publicou um livro solo — uma história melosa e clichê, com vários erros de ortografia. Socorro!

Xanddy também lê Grafias Noturnas

Não se espantem se o próximo cd do Harmonia do Samba tiver algum refrão falando de vampiros e casos sobrenaturais. Isso é quebrar paradigmas!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Giulia Moon comenta Grafias Noturnas

A Giulia Moon, autora do grande sucesso Kaori - Perfume de Vampira, escreveu as mais novas palavras a respeito de Grafias Noturnas. Eu havia perguntado a ela se havia conseguido ler até o fim. E ela respondeu:

"Conseguir" é uma palavra inadequada, pois parece que exigiu algum tipo de esforço, Luiz. Eu li o seu livro com muito prazer. Acho que a sua paixão pelo tio Ray (Bradbury)lhe fez muito bem. Gostei muito do prólogo, e dos quatro primeiros contos (apesar de já conhecer o Guarda-Chuva, mas foi legal relê-lo), que são, para mim, os melhores da coletânea. Os demais eu gostei também, mas ainda mais desses citados. Parabéns, é um ótimo livro. Um livro que causa estranheza, um pouco de medo e um pouco de tristeza e melancolia. Mas sempre de forma agradável.

domingo, 13 de dezembro de 2009

10 impressões sobre A Caixa (The Box)


Após conferir o novo filme do diretor de Donnie Darko, baseado no conto Button Button, de Richard Matheson, tirei as seguintes conclusões:

1) Richard Kelly não se contentou em fazer um filme que se passa nos anos 70. Ele fez um filme que saiu dos anos 70: recriação de época e figurino impecáveis, fotografia dessaturada, zooms, trilha sonora exagerada e outros maneirismos da década estão presentes de forma absurda (no bom sentido).

2) Mais uma vez comprovamos que é difícil transformar um pequeno conto em um roteiro de 100 páginas.

3) Há uma homenagem ao conto The Man From the South, de Roald Dahl, também adaptado para o seriado Além da Imaginação dos anos 80 (trata-se daquela história de um rapaz que aposta seu dedo mindinho com um velho excêntrico).

4) Algumas cenas remetem a Donnie Darko.

5) Foi investido em um forte clima conspiratório, que faz lembrar filmes como Invasores de Corpos e A Cidade dos Amaldiçoados.

6) Richard Kelly é um ótimo diretor, mas creio que seus roteiros sejam estranhos demais para atingir um grande público. Não acho que A Caixa terá muitos fãs.

7) Haverá muitos enigmas numéricos para os fãs decifrarem, conforme ocorre em Donnie Darko.

8) Não sei se gostei da mistura de temas, trazendo Marte para uma história que era baseada em A Pata do Macaco.

9) Perto do fim, depois de cenas bem lentas, há uma sequencia muito angustiante.

10) Ao final do filme notamos que, apesar do brilhante exercício estilístico da obra, o conto é melhor. Aliás, o trailer também é melhor que o filme.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Grafias Noturnas: mais uma resenha

A Carla Charão, do blog As Coisas Que Eu Não Entendo, e irmã da Cláudia, é a autora da mais nova resenha de Grafias Noturnas, publicada no Skoob. Poucas palavras, mas de muito significado:

Grafias Noturnas caiu nas minhas mãos por puro acaso ... indicação da minha irmã.

Adorei o livro é ótimo. Achei bem escrito, bem trabalhado, gostei de todos os contos, mas sempre tem aquele mais mais que na minha opinião são: 'A Lei de Lavoisier', 'A Visão', 'O Botão' e o mais legal de todos ... o que me identifiquei mais 'Eu Não Matei Charles Bronson'.

Espero ler mais de L. F. Riesemberg em breve.



Obrigado, Carla! Você lerá mais, muito em breve.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Organizador de POE 200 anos comenta Grafias Noturnas

O Maurício Montenegro, organizador da antologia ainda inédita Poe 200 Anos, teceu alguns comentários a respeito do livro Grafias Noturnas, e permitiu que eu os compartilhasse com vocês. Segue alguns dos trechos dos e-mails que trocamos nos últimos dias (com partes suprimidas, para evitar spoilers):

“Gostei muito do conto Racha. Ouvi o ronco dos motores, senti o cheiro da borracha dos pneus gritando no asfalto, saí dirigindo numa velocidade alucinante e, quando o carro bateu, fui lançado para fora do veículo pela força do impacto. Conto harmonizado e perfeito, coisa difícil de se fazer. Há uma situação muito interessante com ele: você tem que viajar no texto para entender os detalhes. Por exemplo, quando o Mustang emparelha no Maverick, quem olha para o lado é o carro e não o motorista, uma simbiose típica de quem pratica racha”.

“Em O Botão, há algo muito interessante: quando o homem acha a maleta e vai conversar com a mulher, você poderia ter descambado para uma briga do casal. Ao contrário disso, centrou-se na história e não na vida de marido e mulher que não tinha nada a ver com a história que você queria contar. A estranheza da situação era mais importante. Quando eles ficaram olhando a mala pensando, eu imaginei os dois no sofá, o homem de calção e a mulher com camisola olhando em silêncio a mala na mesinha de centro, isso é perturbador. Quando acabou o conto fiquei esperando tocar a música de Além da Imaginação”.

“Há textos no Grafias Noturnas que são Bradbury. Até agora identifiquei A Máquina da Alegria e A Cápsula do Tempo”.

“O legal é encontrar coisas diferentes que, imagino, sejam os contos somente com sua voz, como A Lei de Lavoisier e A Presa e o Predador”.

A Presa e o Predador parece ser uma teoria de que o bullying é um dos gatilhos para o surgimento de sociopatas. Teoria perturbadora, mas coerente, principalmente quando também sabemos que na infância e adolescência as crianças tendem a guardar para si certas situações que se envolvem e acham vexatórias”.

A Emissora é o tipo de história que gosto. O ambiente é personagem também: o que se ouve, o carro, tudo... (Por isso que gostei tanto de Racha, porque tudo é parte da história). A Emissora é mais uma história que fiquei esperando Rod Serling aparecer no final e a musiquinha do The Twilight Zone tocando enquanto subiam os créditos finais”.

Gata Rainha é muito bom também. Mistura o mito do Lobisomem com o do Vampiro. A forma em diálogo é inovadora: faz o leitor preencher as lacunas. Quem não gostou do conto é preguiçoso”.

Eu não Matei Charles Bronson - É fácil entender porque todos gostam desse conto. Trata-se de uma história com aquela atmosfera noir dos antigos pulp fiction. De revistas como Black Mask, ou de coletâneas onde Raimond Chandler e Dashiel Hammet são mestres. O herói é o anti-herói e a história tem que resultar em tragédia. Mesmo quando não se aperta o gatilho há o nome de Charles Bronson e você o imagina como Paul Kersey atirando em Desejo de Matar”.

“Parabéns pelo livro”.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Anvil! The History of Anvil


No verão de 1984 algumas das maiores bandas de rock do mundo, incluindo Scorpions e Bon Jovi, fizeram juntas uma turnê no Japão. Todas elas acabaram vendendo milhões de discos. Exceto uma.

É desta forma irônica e divertida que começa o brilhante documentário Anvil! The History of Anvil, que tive o prazer de assistir. Trata de uma banda que tinha tudo para se tornar uma das maiores do mundo, considerada influente para a maioria dos grandes nomes do cenário metaleiro, mas que acabou não dando certo. Apesar disto, seus integrantes, hoje na faixa dos 50 anos de idade, ainda não desistiram de alcançar o estrelato e continuam em busca do seu sonho.

Uma história muito tocante, principalmente pelo caráter extremamente ingênuo e sonhador da dupla principal, formada pelo vocalista Robb Reiner e pelo baterista Lips, que mostram-se totalmente fiéis um ao outro mesmo depois de três décadas sem obter reconhecimento. Diversos caras poderosos do rock, como Lars Ulrich (Metallica) e Lemmy Kilmister (Motorhead) rasgam elogios à banda, e ainda assim os pobres penam até mesmo para serem pagos por suas apresentações em locais com meia dúzia de bêbados.

Notei uma semelhança muito grande deste doc com o filme O Lutador, estrelado pelo Mickey Rourke. Os caras são grandes músicos e tocam com paixão, mas encaram o envelhecimento e são obrigados a trabalhar em empregos normais (Reiner é motorista) para sobreviver. É uma bela fábula dos tempos modernos, que merece ser conhecida até mesmo por quem não gosta do estilo musical.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

World's Greatest Dad x Donnie Darko

A primeira imagem que surge na tela durante a projeção de World’s Greatest Dad é a logomarca da produtora Darko Entertainment, com o famoso coelho de Donnie Darko. Achei que as semelhanças parariam aí, apesar do co-produtor do filme ser Richard Kelly (autor e diretor de Donnie Darko), mas eu estava errado.


A primeira imagem já entrega as semelhanças


Esta genial comédia dramática e dark estrelada por Robin Willians é cheia de referências ao cult movie de 2001. Eu já havia tido uma sensação de deja vu quando reparei nas cenas de estudantes no corredor de um colégio com uma trilha sonora maneira, mas só tive a certeza de estar assistindo a claras referências a Donnie Darko quando o protagonista surge em um campo de golfe ao lado do diretor da escola onde trabalha, à maneira do diretor do colégio de Donnie, quando este acorda após um de seus ataques de sonambulismo.


Cena do campo de golfe.

Cheio de viradas surpreendentes do roteiro, World’s Greatest Dad é o tipo de filme do qual é melhor se assistir sem saber nada a respeito (assim como Darko, diga-se de passagem). Mas posso contar que, além das semelhanças citadas, a produção ainda envolve um adolescente problemático como peça central da história, um personagem que muda a realidade à sua volta, a ambientação dentro de uma escola, um casal de professores, aulas de literatura, a referência a um clássico filme de terror (neste caso, A Noite dos Mortos Vivos, enquanto em Darko era a Evil Dead), isto sem contar uma interessante sequencia musical que mostra todos os personagens compreendendo um triste fato em especial, envolvendo a morte de uma pessoa, como se finalmente acordassem após um sonho (exatamente como na bela cena de Darko em que toca Mad World). E deve haver outras, que me passaram despercebidas.


Outra cena que lembra o cult movie de Richard Kelly

Creio que estas rimas acabam por transformar este filme em uma continuação alternativa de Donnie Darko. Afinal, o que poderia ter ocorrido com os personagens sobreviventes após o final daquela história? World’s Greatest Dad apresenta uma das possíveis respostas.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Memorex



Vou fazer como a minha amiga Tati e avisar os esquecidos sobre a Promoção Natal Cultural Grafias Noturnas. Ainda dá tempo de concorrer a todos esses prêmios!


Livros: Grafias Noturnas (L.F. Riesemberg), Clube da Luta (Chuck Palahniuk), Goosebumps – Sorria e Morra...Outra Vez (R.L. Stine), Caminhos do Medo (vários autores)


DVDs: Despertar dos Mortos (George Romero), A Hora do Espanto (Tom Holland), O Professor Aloprado (Jerry Lewis)


HQ: Lobo Nº 1 DC Comics (Alan Grant, Val Semekis, John Dell)


CD: Ozzy Osbourne – Randy Roads Tribute


Action figure: Harry Potter (Mattel)


Para participar, basta responder a pergunta: Para você, o que significa Grafias Noturnas? As frases mais criativas serão publicadas no blog, mas TODOS os participantes concorrerão ao sorteio. Basta enviar, junto com a resposta, o nome e endereço completo para o e-mail luizrie@hotmail.com e torcer. As inscrições vão até o dia 23 de dezembro e o resultado sai no dia 24/12. Boa sorte!


Observações:


Poderão participar concorrentes de fora do Brasil, desde que arquem com as despesas de envio dos prêmios;

O 1º lugar terá direito a escolher 5 prêmios, o 2º lugar escolhe 3 prêmios dos 5 restantes e o 3º lugar fica com os 2 restantes.


O Poder de um Elogio

Texto publicado no blog Diário de Bordo, de Pablo Villaça:

Prêmio Inigualável

Como crítico de cinema, não estou caminhando rumo à fortuna. Tampouco vejo prêmios no futuro ou mesmo algum tipo de fama. Mas continuo a escrever por dois motivos: 1) Eu amo Cinema e gosto de falar e pensar sobre o assunto; e 2) Vocês. Caso escrevesse apenas para consumo próprio, não conseguiria continuar; quem escreve quer ser lido - e o retorno (positivo ou negativo) que tenho de vocês é algo que sempre me estimula.

Assim, ao receber o link para uma carta aberta escrita pelo leitor Luiz F. Riesemberg e endereçada a mim, fiquei profundamente comovido com o que li. Na realidade, foi uma das homenagens mais tocantes que já recebi - especialmente porque Riesemberg assume ter, durante certo tempo, detestado o que eu escrevia e chegado até mesmo a enviar mensagens "maldosas" através do site. Aliás, fiquei tão comovido que li a carta em voz alta para várias pessoas que se encontravam aqui em casa, hoje - e todos se mostraram tocados pelo texto.

Obrigado, Luiz. Muito, muito obrigado. Retornos assim fazem tudo valer a pena.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Carta a Pablo Villaça



Nos anos 90, quando eu era leitor assíduo da Set, escrevi um e-mail para a redação, elogiando o site que a revista havia inaugurado, mas reclamando da demora na atualização das notícias. Este e-mail foi publicado na edição seguinte, junto com o meu endereço eletrônico, e por algum tempo alguns leitores me escreveram, enviando principalmente propagandas relacionadas a cinema.


Uma dessas propagandas vinha de Pablo Villaça, um cara que se auto-proclamava crítico de cinema, e que havia fundado um site sobre o assunto: o Cinema em Cena. Fã da sétima arte desde a minha infância, fui logo dar uma olhada no trabalho do sujeito. Não achei nada de tão especial nas críticas, pois eu sempre considerara Rubens Edwald Filho o único verdadeiro entendido de cinema no Brasil e nunca achei que ele perderia seu posto. Mas volta e meia eu dava uma passadinha no tal Cinema em Cena.


Os anos foram passando, e fui notando significativas melhoras no site. Primeiro o visual ficou mais atrativo, depois o conteúdo. Até que, finalmente, me dei conta de que as críticas estavam ficando com uma qualidade boa demais, como eu nunca havia lido em qualquer outro espaço. Tudo isso eram sinais de que o Cinema em Cena estava evoluindo a passos largos, como uma criança depois que aprende a caminhar sozinha.


E foi quando eu já havia estabelecido o site como a minha principal fonte de informações sobre o meu assunto preferido que li uma das críticas mais emocionantes de todos os tempos. Não era sobre um filme, mas sobre o nascimento de Luca, o primeiro filho de Pablo. Muitas das minhas opiniões acerca de centenas de filmes haviam sido plantadas em mim através dele, mas foi aquele texto, tão apaixonado e pessoal, que me fez perceber definitivamente que aquele cara já fazia parte da minha vida, apesar de não conhecê-lo de perto.


Porém, como o orgulho que nos habita sempre acaba dando as caras se o alimentarmos, houve uma época em que passei a implicar com o Pablo. Às vezes porque eu não concordava com alguma crítica (as apenas duas estrelas para Inteligência Artificial e Gladiador foram difíceis de engolir, assim como todas as cinco de Batman Begins). E às vezes era por eu notar nele, sempre através dos seus textos, algumas más inclinações que eu mesmo tinha, mas que não queria assumir. Acho que esses defeitos que compartilhávamos era o próprio orgulho e aquela confiança irrestrita em si mesmo, que fazia com que nos achássemos os melhores do mundo. Por tudo isso eu até cheguei a escrever comentários maldosos no site, vez ou outra, como forma de vingança.


Mas assim como no roteiro de um filme, o protagonista sempre passa por um momento difícil, e precisa enfrentá-lo para tornar-se uma pessoa melhor. Sei que já passei por um desses pontos de virada no roteiro da minha vida, e noto que o Pablo também. E mais: percebo que muito do que eu melhorei, foi graças aos textos desse cara.


Lendo as críticas do Cinema em Cena aprendi a ter uma visão muito mais ampla sobre os mais diversos temas, como religião, preconceito, amor, política, morte, ecologia, esperança, violência, amor, guerra e mais uma porção de outros. Muito da minha cultura e da minha visão de mundo cristalizou-se depois de eu ter tido acesso a anos de leituras inteligentes e significativas sobre filmes, apesar de eu nem sempre concordar com as opiniões dele. Fazendo uma ligação com um livro recentemente lançado (o qual não li e não pretendo ler, graças aos comentários do Pablo) esse meu aprendizado foi um verdadeiro Clube do Filme, no qual utilizei apenas informações relacionadas ao cinema, e trazidas por alguém inteligente o suficiente para interpretá-las.


É claro que, até hoje, não sigo com fidelidade cega todas as dicas deste amigo. Ainda nesta semana fui surpreendido com quatro estrelas para uma produção que achei bem fraca. Mas a questão é que aprendi a conviver com essas diferenças de opinião, sem ficar gastando minha energia para mostrar que só eu estou certo e os outros errados. Amigo Pablo: sua participação nesta minha transformação para melhor foi de suma importância, e resolvi fazer este agradecimento porque, além de tudo, nunca paguei um centavo para beneficiar-me com seu trabalho.


Inclusive este e muitos outros agradecimentos que já fiz na minha vida foram motivados por você mesmo. Como esquecer aquele seu significativo post acerca do poder de um elogio, que você fez a um pobre garçom que te atendeu muito bem em um restaurante? E a mensagem sobre a educação dos curitibanos, de quando você ministrou um curso na capital do meu Estado? Ou ainda a sua indicação do cd da banda Anvil, mesmo sem gostar do estilo musical, simplesmente por ter se sensibilizado com a vida dos roqueiros ao assistir ao documentário The History of Anvil? Sem falar da vez em que você disse que compraria o DVD de Encarnação do Demônio, apesar de não gostar do filme, depois de ler a notícia de que o Zé do Caixão estava autografando DVDs piratas em São Paulo, para ajudar os camelôs.


Há muito de você na personalidade de milhares de seus leitores, e talvez haja mais do que se imagine. O simples fato de eu acreditar nos meus sonhos vem de várias críticas belíssimas que você já publicou. Vem também do fato de saber que você abandonou uma faculdade de Medicina para dedicar-se à grande paixão da sua vida, que é o cinema. Como não admirar alguém assim?


E é claro que isso não é tudo. Ainda nem falei das demonstrações de senso de humor nas resenhas dos piores filmes ou nas descrições de difíceis momentos de sua vida. Nem da forma maravilhosa como o vemos dedicar-se aos seus filhos. Nem da humildade que mantém com seus fãs, fazendo questão de conhecê-los pessoalmente quando estes o encontram em alguma sala de cinema. Nem da devoção que demonstra aos seus leitores e à sua família, que já te fez abandonar um alto cargo em uma empresa emergente do ramo cinematográfico.


É por tudo isso, Pablo, que minha avaliação para você é 5 estrelas em 5. Obrigado, amigo!


The Cove

The Cove (em português, A Enseada) é uma obra fenomenal. Um dos favoritos ao Oscar de documentário em 2010, apresenta uma cidade litorânea japonesa cuja economia gira em torno da exploração dos golfinhos que, durante 6 meses a cada ano, chegam em correntes migratórias. O diretor é um ativista dos direitos dos animais, e ele ficou sabendo da história aqui retratada através do homem que foi o responsável pelo sucesso da série Flipper, dos anos 70.

Esta famosa série fez com se generalizasse em todo o mundo o interesse pelos golfinhos, mostrando-os como dóceis, inteligentes e sempre felizes. Centenas de parques aquáticos com golfinhos adestrados surgiram desde então, gerando uma economia de bilhões de dólares. Porém, depois de anos neste trabalho, o treinador percebeu que os animais estavam sendo submetidos ao terrível estresse ocasionado pelo ensurdecedor barulho desses locais, associados à vida em cativeiro, e nos últimos 35 anos ele tem dedicado sua vida a melhorar a qualidade de vida deles. Nem que para isso precise enfrentar polícia, autoridades e invadir propriedades particulares para libertar as criaturinhas.

O doc concentra-se nos esforços da equipe de filmagem em mostrar imagens do massacre que acontece em Taiji. Lá os golfinhos são capturados e os "melhores" são vendidos aos parques aquáticos, mas aqueles que "sobram" são mortos de forma cruel, um a um, e sua carne é vendida, inclusive para escolas. O filme mostra que os próprios japoneses não sabem que estão comendo golfinhos (cuja carne contém alto índice de mercúrio), o que seria escondido pelo próprio governo, em uma atitute conspiratória.

Essa equipe que fez o filme é retratada como aquela de Onze Homens e um Segredo, com participantes geniais em suas especialidades, e todos interessados em denunciar o massacre. Mergulhadores, técnicos em efeitos especiais e viciados em adrenalina fazem parte do grupo, e se dirigem até a cidade japonesa, onde a segurança é reforçada, com áreas altamente proibidas de se filmar ou fotografar.

Munidos de engenhocas brilhantes (como falsas pedras com câmeras escondidas), eles se aventuram durante a madrugada pelos parques nacionais, justamente nas regiões onde seriam presos caso fossem pegos, a fim de instalar os equipamentos de filmagem. Acho que deu para perceber que o filme tem suspense, é muito divertido e tem um ritmo que nunca cai, inclusive trazendo empolgantes imagens dos golfinhos no fundo do oceano, de um grande lirismo.

Porém, o maior mérito da obra é seu caráter de denúncia, visando conscientizar. É certo que as imagens finais do filme (que mostram apenas um dia do terrível massacre), dificilmente sairão da cabeça do espectador. São de obras assim que o mundo precisa: que fazem as pessoas e o mundo mudarem, para melhor.

Um dos grandes filmes que assisti esse ano, e que deveria ser visto por todos.