O Maurício Montenegro, organizador da antologia ainda inédita Poe 200 Anos, teceu alguns comentários a respeito do livro Grafias Noturnas, e permitiu que eu os compartilhasse com vocês. Segue alguns dos trechos dos e-mails que trocamos nos últimos dias (com partes suprimidas, para evitar spoilers):
“Gostei muito do conto Racha. Ouvi o ronco dos motores, senti o cheiro da borracha dos pneus gritando no asfalto, saí dirigindo numa velocidade alucinante e, quando o carro bateu, fui lançado para fora do veículo pela força do impacto. Conto harmonizado e perfeito, coisa difícil de se fazer. Há uma situação muito interessante com ele: você tem que viajar no texto para entender os detalhes. Por exemplo, quando o Mustang emparelha no Maverick, quem olha para o lado é o carro e não o motorista, uma simbiose típica de quem pratica racha”.
“Em O Botão, há algo muito interessante: quando o homem acha a maleta e vai conversar com a mulher, você poderia ter descambado para uma briga do casal. Ao contrário disso, centrou-se na história e não na vida de marido e mulher que não tinha nada a ver com a história que você queria contar. A estranheza da situação era mais importante. Quando eles ficaram olhando a mala pensando, eu imaginei os dois no sofá, o homem de calção e a mulher com camisola olhando em silêncio a mala na mesinha de centro, isso é perturbador. Quando acabou o conto fiquei esperando tocar a música de Além da Imaginação”.
“Há textos no Grafias Noturnas que são Bradbury. Até agora identifiquei A Máquina da Alegria e A Cápsula do Tempo”.
“O legal é encontrar coisas diferentes que, imagino, sejam os contos somente com sua voz, como A Lei de Lavoisier e A Presa e o Predador”.
“A Presa e o Predador parece ser uma teoria de que o bullying é um dos gatilhos para o surgimento de sociopatas. Teoria perturbadora, mas coerente, principalmente quando também sabemos que na infância e adolescência as crianças tendem a guardar para si certas situações que se envolvem e acham vexatórias”.
“A Emissora é o tipo de história que gosto. O ambiente é personagem também: o que se ouve, o carro, tudo... (Por isso que gostei tanto de Racha, porque tudo é parte da história). A Emissora é mais uma história que fiquei esperando Rod Serling aparecer no final e a musiquinha do The Twilight Zone tocando enquanto subiam os créditos finais”.
“Gata Rainha é muito bom também. Mistura o mito do Lobisomem com o do Vampiro. A forma em diálogo é inovadora: faz o leitor preencher as lacunas. Quem não gostou do conto é preguiçoso”.
“Eu não Matei Charles Bronson - É fácil entender porque todos gostam desse conto. Trata-se de uma história com aquela atmosfera noir dos antigos pulp fiction. De revistas como Black Mask, ou de coletâneas onde Raimond Chandler e Dashiel Hammet são mestres. O herói é o anti-herói e a história tem que resultar em tragédia. Mesmo quando não se aperta o gatilho há o nome de Charles Bronson e você o imagina como Paul Kersey atirando em Desejo de Matar”.
“Parabéns pelo livro”.
“Gostei muito do conto Racha. Ouvi o ronco dos motores, senti o cheiro da borracha dos pneus gritando no asfalto, saí dirigindo numa velocidade alucinante e, quando o carro bateu, fui lançado para fora do veículo pela força do impacto. Conto harmonizado e perfeito, coisa difícil de se fazer. Há uma situação muito interessante com ele: você tem que viajar no texto para entender os detalhes. Por exemplo, quando o Mustang emparelha no Maverick, quem olha para o lado é o carro e não o motorista, uma simbiose típica de quem pratica racha”.
“Em O Botão, há algo muito interessante: quando o homem acha a maleta e vai conversar com a mulher, você poderia ter descambado para uma briga do casal. Ao contrário disso, centrou-se na história e não na vida de marido e mulher que não tinha nada a ver com a história que você queria contar. A estranheza da situação era mais importante. Quando eles ficaram olhando a mala pensando, eu imaginei os dois no sofá, o homem de calção e a mulher com camisola olhando em silêncio a mala na mesinha de centro, isso é perturbador. Quando acabou o conto fiquei esperando tocar a música de Além da Imaginação”.
“Há textos no Grafias Noturnas que são Bradbury. Até agora identifiquei A Máquina da Alegria e A Cápsula do Tempo”.
“O legal é encontrar coisas diferentes que, imagino, sejam os contos somente com sua voz, como A Lei de Lavoisier e A Presa e o Predador”.
“A Presa e o Predador parece ser uma teoria de que o bullying é um dos gatilhos para o surgimento de sociopatas. Teoria perturbadora, mas coerente, principalmente quando também sabemos que na infância e adolescência as crianças tendem a guardar para si certas situações que se envolvem e acham vexatórias”.
“A Emissora é o tipo de história que gosto. O ambiente é personagem também: o que se ouve, o carro, tudo... (Por isso que gostei tanto de Racha, porque tudo é parte da história). A Emissora é mais uma história que fiquei esperando Rod Serling aparecer no final e a musiquinha do The Twilight Zone tocando enquanto subiam os créditos finais”.
“Gata Rainha é muito bom também. Mistura o mito do Lobisomem com o do Vampiro. A forma em diálogo é inovadora: faz o leitor preencher as lacunas. Quem não gostou do conto é preguiçoso”.
“Eu não Matei Charles Bronson - É fácil entender porque todos gostam desse conto. Trata-se de uma história com aquela atmosfera noir dos antigos pulp fiction. De revistas como Black Mask, ou de coletâneas onde Raimond Chandler e Dashiel Hammet são mestres. O herói é o anti-herói e a história tem que resultar em tragédia. Mesmo quando não se aperta o gatilho há o nome de Charles Bronson e você o imagina como Paul Kersey atirando em Desejo de Matar”.
“Parabéns pelo livro”.
Ele escreve muito bem, parabéns. Sabe que eu nunca li nada do Poe - e admito rssss - uma hora dessas isso muda.
ResponderExcluirCláudia, acho que muita gente vai querer me lançar na fogueira, mas eu não consigo gostar muito do Poe. Acho que ele já foi tão copiado por autores que ampliaram o universo que ele criou... e quando lemos seus contos, temos aquela sensação de deja vu, e ainda fica faltando algo. É só minha opinião, eu sei. Experimente ler um dia, para me dizer o que acha. Bj!
ResponderExcluirÉ mesmo, bom muitas vezes as coisas são super valorizadas, vou pegar na Biblioteca uma hora dessas para saber o que acho.
ResponderExcluirAli em cima eu estava falando da pessoa que escreveu a resenha (Maurício Montenegro), só para esclarecer (mesmo que seja só pra mim o esclarecimento rssss).
Cláudia, obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirQuanto ao Poe 200 Anos, acho que vai agradar mesmo as pessoas que não gostam da literatura do Poe. O objetivo foi que seus contos inspirassem os autores a escrever algo sem fugir do próprio estilo (ou seja, sem imitar Poe). Mas Poe 200 será lançado somente em 2010 e o Grafias Noturnas é algo que podemos ler agora.
Sucesso Luiz!!!