quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Organizador de POE 200 anos comenta Grafias Noturnas

O Maurício Montenegro, organizador da antologia ainda inédita Poe 200 Anos, teceu alguns comentários a respeito do livro Grafias Noturnas, e permitiu que eu os compartilhasse com vocês. Segue alguns dos trechos dos e-mails que trocamos nos últimos dias (com partes suprimidas, para evitar spoilers):

“Gostei muito do conto Racha. Ouvi o ronco dos motores, senti o cheiro da borracha dos pneus gritando no asfalto, saí dirigindo numa velocidade alucinante e, quando o carro bateu, fui lançado para fora do veículo pela força do impacto. Conto harmonizado e perfeito, coisa difícil de se fazer. Há uma situação muito interessante com ele: você tem que viajar no texto para entender os detalhes. Por exemplo, quando o Mustang emparelha no Maverick, quem olha para o lado é o carro e não o motorista, uma simbiose típica de quem pratica racha”.

“Em O Botão, há algo muito interessante: quando o homem acha a maleta e vai conversar com a mulher, você poderia ter descambado para uma briga do casal. Ao contrário disso, centrou-se na história e não na vida de marido e mulher que não tinha nada a ver com a história que você queria contar. A estranheza da situação era mais importante. Quando eles ficaram olhando a mala pensando, eu imaginei os dois no sofá, o homem de calção e a mulher com camisola olhando em silêncio a mala na mesinha de centro, isso é perturbador. Quando acabou o conto fiquei esperando tocar a música de Além da Imaginação”.

“Há textos no Grafias Noturnas que são Bradbury. Até agora identifiquei A Máquina da Alegria e A Cápsula do Tempo”.

“O legal é encontrar coisas diferentes que, imagino, sejam os contos somente com sua voz, como A Lei de Lavoisier e A Presa e o Predador”.

A Presa e o Predador parece ser uma teoria de que o bullying é um dos gatilhos para o surgimento de sociopatas. Teoria perturbadora, mas coerente, principalmente quando também sabemos que na infância e adolescência as crianças tendem a guardar para si certas situações que se envolvem e acham vexatórias”.

A Emissora é o tipo de história que gosto. O ambiente é personagem também: o que se ouve, o carro, tudo... (Por isso que gostei tanto de Racha, porque tudo é parte da história). A Emissora é mais uma história que fiquei esperando Rod Serling aparecer no final e a musiquinha do The Twilight Zone tocando enquanto subiam os créditos finais”.

Gata Rainha é muito bom também. Mistura o mito do Lobisomem com o do Vampiro. A forma em diálogo é inovadora: faz o leitor preencher as lacunas. Quem não gostou do conto é preguiçoso”.

Eu não Matei Charles Bronson - É fácil entender porque todos gostam desse conto. Trata-se de uma história com aquela atmosfera noir dos antigos pulp fiction. De revistas como Black Mask, ou de coletâneas onde Raimond Chandler e Dashiel Hammet são mestres. O herói é o anti-herói e a história tem que resultar em tragédia. Mesmo quando não se aperta o gatilho há o nome de Charles Bronson e você o imagina como Paul Kersey atirando em Desejo de Matar”.

“Parabéns pelo livro”.

4 comentários:

  1. Ele escreve muito bem, parabéns. Sabe que eu nunca li nada do Poe - e admito rssss - uma hora dessas isso muda.

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  2. Cláudia, acho que muita gente vai querer me lançar na fogueira, mas eu não consigo gostar muito do Poe. Acho que ele já foi tão copiado por autores que ampliaram o universo que ele criou... e quando lemos seus contos, temos aquela sensação de deja vu, e ainda fica faltando algo. É só minha opinião, eu sei. Experimente ler um dia, para me dizer o que acha. Bj!

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  3. É mesmo, bom muitas vezes as coisas são super valorizadas, vou pegar na Biblioteca uma hora dessas para saber o que acho.

    Ali em cima eu estava falando da pessoa que escreveu a resenha (Maurício Montenegro), só para esclarecer (mesmo que seja só pra mim o esclarecimento rssss).

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  4. Cláudia, obrigado pelo comentário.

    Quanto ao Poe 200 Anos, acho que vai agradar mesmo as pessoas que não gostam da literatura do Poe. O objetivo foi que seus contos inspirassem os autores a escrever algo sem fugir do próprio estilo (ou seja, sem imitar Poe). Mas Poe 200 será lançado somente em 2010 e o Grafias Noturnas é algo que podemos ler agora.

    Sucesso Luiz!!!

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